Fã encontra gravação raríssima de quando os Beatles ainda eram rejeitados; ouça trecho
Gravadora Decca não quis contratar banda após teste malfadado em 1962; agora, dono de loja de discos canadense encontrou fita master da audição
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 26/03/2025, às 10h16
Os Beatles se tornaram o maior fenômeno cultural da década de 1960 e um dos nomes mais relevantes da história da música. Mas nem tudo acontece do dia para a noite. Esta história começou com uma série de rejeições e fracassos.
Em 1962, o grupo tentou um contrato com a Decca Records, à época uma das potências de uma ainda crescente indústria fonográfica. Eles realizaram no primeiro dia daquele ano um teste, que foi gravado, mas os responsáveis pela gravadora avaliaram que a banda não era promissora. O já falecido chefe de A&R da empresa, Dick Rowe, chegou a dizer que “bandas de guitarra têm tudo para acabar”. Sabe de nada, inocente!
Quis o destino que, mais de seis décadas depois, um dono de loja de discos canadense acabasse encontrando o material. Trata-se de uma cópia direta e extremamente rara da fita original de audição. O conteúdo não é inédito, mas não há como negar: a procedência é bastante improvável, o que torna a história especial.
Rob Frith, proprietário da Neptoon Records em Vancouver, é o sortudo. Ele descobriu uma fita de rolo rotulada como Beatles ’60s Demos, na semana passada, após guardá-la por anos. De início, nem deu moral: acreditava ser um bootleg, nome dado a gravações piratas. Ao destinar mais atenção, descobriu que não tinha nada de pirata ali.
Por meio do Instagram, Frith compartilhou um trecho do material — mais especificamente, a música “Money” — e declarou:
“Anos atrás, peguei essa fita que dizia ‘Beatles Demos’ nela. Achei que seria uma fita de um disco pirata. Depois de ouvi-la ontem à noite pela primeira vez, parece uma fita master. A qualidade é surreal. Como é possível ter o que parece uma master de fitas Decca de 15 músicas dos Beatles?”
Para se ter ideia do contexto histórico do registro, os Beatles sequer contavam com Ringo Starr na formação. O baterista ainda era Pete Best, que seria dispensado cerca de oito meses depois para que se privilegiasse um músico de abordagem mais profissional — daí a entrada de Starr.

Firth garante não cometer exagero quando diz que a qualidade do material é “surreal”. Ele descreve a sensação ao ouvir o registro — com trecho disponível abaixo:
“Parece que os Beatles estão na sala.”
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A origem do material
Após descobrir o registro, Rob Frith foi colocado em contato com Jack Herschorn, antigo dono da Mushroom Records. Também de Vancouver, o empresário trouxe originalmente a gravação para o Canadá. Este, por sua vez, obteve a fita de um amigo produtor na década de 1970, em viagem para Londres.
A ideia era, claro, piratear o registro na América do Norte. Em tempos pré-internet, bootlegs eram a única forma de fãs terem acesso a materiais não oficiais. E rendia uma grana para quem o fazia. Todavia, em entrevista à CBC, Herschorn contou ter ficado receoso; logo, desistiu da iniciativa.
“Pensei bastante sobre isso. Não queria lançar aquilo porque não senti que fosse algo totalmente moral de se fazer. Esses caras são famosos e merecem ter os royalties certos sobre isso... merece ser lançado corretamente.”
Firth não quer vender a fita, mesmo considerando que pode valer cifras altíssimas. Só há uma situação que o permitiria ceder uma cópia: caso a Decca aceite lançar o material, corrigindo um dos maiores erros da história da música. E apenas um caso que o faria entregar o registro gratuitamente: se Paul McCartney em pessoa comparecer à sua loja de discos.
Por que os Beatles foram recusados pela Decca
De fato, a negativa da Decca aos Beatles é vista hoje como um dos maiores equívocos comerciais em todos os tempos da música. Todavia, deve ser reconhecido que as condições daquela audição em 1º de janeiro de 1962 não eram ideais (via site Igor Miranda).
Além da prova de que Pete Best não parecia um baterista adequado para o talentoso “trio de frente”, os músicos chegaram cansados ao local da performance. O quarteto precisou dirigir em meio a uma nevasca, de Liverpool a Londres, em uma viagem de aproximadamente 340 km. Um dos executivos, Mike Smith, ainda chegou atrasado e fez com que todos esperassem por sua chegada. O motivo? Ele havia festejado bastante o Réveillon.
O repertório que mesclava composições próprias (como “Love of the Loved”, “Like Dreamers Do” e “Hello Little Girl”) e covers de Chuck Berry, Phil Spector e Buddy Holly não convenceu. Fora o cansaço e o chá de cadeira, os músicos se irritaram após terem sido obrigados a usar o equipamento de som da Decca, não o deles. Havia potencial, mas não estava tão claro, daí a recusa.
Mas o destino foi incrível com o Fab Four. Menos de um semestre depois, a banda assinou com a EMI/Parlophone Records, gravadora onde trabalhava George Martin, produtor citado de forma justa como “o quinto Beatle” e responsável direto pelo crescimento de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. A Decca, por sua vez, se redimiu ao contratar os Rolling Stones pouco tempo depois. O resto é história.
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