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Música / ENTREVISTA

Foster The People embala nostalgia, solidão e romance em novo álbum: 'Aprendi a viver'

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Mark Foster detalhou o disco 'Paradise State of Mind' e se abriu sobre o 'novo capítulo' de sua vida

Heloísa Lisboa (@helocoptero)
por Heloísa Lisboa (@helocoptero)
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Publicado em 16/08/2024, às 09h40 - Atualizado às 09h40

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Foster The People (Foto: Divulgação)
Foster The People (Foto: Divulgação)

O Foster The People lança nesta sexta-feira, 16, seu primeiro álbum em sete anos. No período de quase uma década entre Sacred Hearts Club (2017) e Paradise State of Mind (2024), singles — como "Imagination" e "Pick U Up" — e até mesmo um EP, In the Darkest of Nights, Let the Birds Sing, tentaram saciar os fãs.

O baterista Mark Pontius ficou pelo caminho. Depois de 11 anos na banda, ele decidiu deixar o Foster The People — escolha que pareceu fazer sentido também para Sean Cimino. Apenas Mark Foster e Isom Innis posaram para as fotos de divulgação do novo disco. Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Foster foi evasivo ao falar sobre a formação atual da banda. "Trabalhamos no novo álbum juntos, mas ele não estará em turnê com a gente", explicou sobre Sean

Isom Innis e Mark Foster (Foto: Divulgação)

No entanto, não faltaram músicos talentosos para acompanhar a dupla no Paradise State of Mind. "Também trabalhei em algumas músicas com Paul Epworth, Jack Piñate... Fiz uma música com Chrome Sparks... Quem mais? Asa, do Electric Guest — escrevemos algumas coisas juntos. Trouxe vários amigos, vários caras do jazz, como Stewart Cole, Jacob Scesney... Jherek Bischoff fez os arranjos. Recebemos uns oito músicos de cordas para gravar esse álbum. Aaron Redfield estava na bateria. Muitos músicos foram e vieram para fazer esse disco", elencou Foster.

Até o novo projeto chegar aos ouvidos do público geral, houve ainda tempo para o Foster The People ter mais um gostinho da vida de artista independente. "Teve uma época em que fizemos nosso EP, e éramos totalmente independentes... E eu não gostei [risos]", confessou Mark, que assinou com a Atlantic Records neste ano. 

Embora a experiência não tenha sido tão boa para o vocalista, ela resultou em canções dignas de álbum, como "Lamb's Wool" — que encapsula o luto de Isom pela avó e o de Foster pelo tio — e a romântica "Under The Moon". No álbum inédito, Mark abraçou a música disco e se manteve de mãos dadas com o romance. 

Desde que se casou com Julia Garner, o mundo é um lugar melhor para Foster. "Ela é uma pessoa que poderia inspirar mil músicas", disse sorrindo. O single "Lost In Space" parece ser uma dessas faixas inspiradas na atriz. A solidão, ainda assim, não ficou de fora. Composições como "Glitchzig", "Sometimes I Wanna Be Bad", "Chasing Low Vibrations", "A Diamond to be Born" e a faixa-título, por exemplo, dão pistas sobre os sentimentos de isolamento e transformação vividos pelo multi-instrumentista.

Tem muitas músicas sobre isolamento, solidão e as coisas que tive que superar para aprender a viver de um jeito diferente. Eu aprendi a viver — não sabia como viver. Estava dando o meu melhor, mas era extremamente desconfortável simplesmente estar no mundo. Então, me distanciar da música e focar em ficar saudável abriu minha vida. Foi quando me apaixonei, entrei nesse novo capítulo. Voltar e compor esse álbum sob essa perspectiva foi algo totalmente novo para mim.

Em meio a mudanças, o Foster The People continua o mesmo — no bom sentido. Mark reafirmou o interesse pela música eletrônica em Paradise State of Mind: "Se você ouvir nosso primeiro álbum, tem músicas como "Miss You", no Supermodel, "The Truth"... Tem elementos ali. SHC [Sacred Hearts Club] tem músicas como "III". Não sei. É divertido. É legal fazer música eletrônica. Eu estava apenas me divertindo".

Torches (2011), álbum de estreia da banda, inclusive, ganhou edição de aniversário de 10 anos em 2021, mas Supermodel (2014), disco subsequente, não terá a mesma sorte. "Estivemos tão focados nesse novo álbum", argumentou Foster.

O uso de instrumentos analógicos nas composições do álbum refletiu na capa idealizada por Matt Hansel, pintada a mão. A arte inclui elementos que remetem aos anos 1970 e "representa tudo o que o disco trata", contou Mark em vídeo publicado no Instagram.

Protestos políticos e sociais foram abandonados, mas outra característica da banda que permanece intacta é a sensibilidade impressa nas letras das músicas. Mark confessou que, "não importa o quão sombria a vida fique", ele é um "otimista": "Quando eu escrevo músicas, componho para fazer eu mesmo me sentir melhor. Não é necessariamente sobre como estou me sentindo — é como eu quero me sentir".

Não há datas confirmadas, mas o Foster The People garantiu que desembarca no Brasil em breve para apresentar Paradise State of Mind — atraente do início ao fim. Confira abaixo entrevista na íntegra.


Rolling Stone Brasil: Qual é a formação atual do Foster The People?
Mark Foster: Ao vivo?

Rolling Stone Brasil: Ambos: ao vivo e em estúdio.
Mark Foster: Bom, estamos ensaiando agora. Então, estamos planejando o show ao vivo juntos. Haverá seis de nós no palco. Estamos fazendo bastante coisa, porque o novo álbum tem muita influência do jazz e muito synth funk — tem bastante coisa acontecendo. Temos baixo, baixo sintetizador, teclado, saxofone — Isom está tocando teclado e percussão —, guitarra e também sintetizadores. Ao vivo, todos tocarão ao menos dois instrumentos, às vezes três.

Foster The People (Foto: Divulgação)

E no estúdio, a maior parte foi feita por mim, Isom e Sean. Também trabalhei em algumas músicas com Paul Epworth, Jack Piñate... Fiz uma música com Chrome Sparks... Quem mais? Asa, do Electric Guest — escrevemos algumas coisas juntos. Trouxe vários amigos, vários caras do jazz, como Stewart Cole, Jacob Scesney... Jherek Bischoff fez os arranjos. Recebemos uns oito músicos de cordas para gravar esse álbum. Aaron Redfield estava na bateria. Muitos músicos foram e vieram para fazer esse disco.

Rolling Stone Brasil: Então Sean continua na banda?
Mark Foster: Trabalhamos no novo álbum juntos, mas ele não estará em turnê com a gente.

Rolling Stone Brasil: Como a partida de Mark Pontius e, agora, de certa forma, a de Sean Cimino afetou o processo de composição?
Mark Foster: É engraçado, sabe, é assim que escrevo músicas, porque toco muitos instrumentos. Para mim, como um compositor, eu meio que pego qualquer coisa que está do meu lado. Às vezes é uma guitarra, às vezes é um piano, às vezes é um baixo. Geralmente começo com a batida da bateria. Mas como Sean e eu somos guitarristas, toco guitarra em muitas das coisas do Foster The People. Quando você ouve a guitarra, sou eu.

Em muito do que fizemos, Sean é um guitarrista incrível que trouxe um nível de tom e design de som. O jeito que ele compõe é muito diferente do meu. Sou mais do ritmo. Mas também fazemos algumas sobreposições um com o outro. Então, nesse álbum, Sean tocou bastante. Porém, em termos de composição, muitas das músicas foram escritas antes. Compus muitas das músicas antes de gravarmos no EastWest. Então, elas já estavam prontas. Depois, foi mais uma questão de explorar, tipo, o que queríamos acrescentar. Foi bem divertido. Mas Sean também toca. Ele é muito bom no modular, então ele também fez muito sintetizador modular. 

Rolling Stone Brasil: Assinar com uma gravadora deixou as coisas diferentes? Como está lidando com isso?
Mark Foster: Não, eu acho que é ótimo. Houve uma época em que fizemos nosso EP, e éramos totalmente independentes... E eu não gostei [risos]. Estou muito mais feliz por estar com um time de pessoas que estão focadas, animadas e amam música, assim como por conseguir ter ideias com os outros e formar uma equipe. É bom voltar para uma gravadora, com certeza. A Atlantic tem sido ótima de trabalhar. Então, estamos felizes.

Rolling Stone Brasil: Algumas das letras das músicas do novo álbum são bem românticas. Tem algo a ver com seu casamento?
Mark Foster: Com certeza. Eu diria que esse disco é o mais sincero que fiz. Provavelmente é o mais pessoal. Então, sim, Julia [Garner] é minha musa. Por isso me casei com ela. Ela é uma pessoa que poderia inspirar mil músicas. Então, sim, definitivamente.

Rolling Stone Brasil: Você também soa um pouco nostálgico, especialmente em "Take Me Back". O novo disco tem temas diferentes em comparação com trabalhos anteriores. Você parecia confortável falando sobre problemas sociais e políticos no Supermodel, por exemplo. Como você descreveria a influência da passagem do tempo e sua maturidade como um músico no novo álbum? Faixas como "Glitchzig" e "Sometimes I Wanna Be Bad" parecem bem pessoais, porque você fala sobre solidão...
Mark Foster: Tem umas três perguntas aí [risos]. Deixe-me pensar. Bom, com o Supermodel, sentia que ninguém estava falando sobre as coisas das quais eu estava falando. Sentia que o mundo estava bem apático e que havia muita tensão no que eu estava falando, porque eu estava vendo todas essas coisas vindo em nossa direção. Sabe, política, divisão, fascismo, racismo, redes sociais — tudo estava separando as pessoas.

Eu sentia que ninguém estava falando sobre isso, e essa é a razão pela qual achei necessário falar dessas coisas. Veio 2016 e 2017, agora estamos vivendo nisso... Todos já estão gritando sobre divisão. Estamos sob um ataque de informação, da mídia, dos governos, uns dos outros. Amigos estão se distanciando. Famílias estão se dividindo por causa de suas próprias opiniões, discutindo quem está certo e quem está errado. Todos estão olhando o mundo como preto no branco, bom e ruim. Estamos julgando as coisas por meio de um sistema binário.

Então, para mim, vindo para esse álbum, senti que era muito importante escrever algo que tivesse esperança, que fosse unificador, que me fizesse lembrar que o mundo é cheio de maravilhas, que há muitas coisas bonitas ao nosso redor. Tudo depende de onde colocamos o foco. Se eu foco em todas as coisas negativas e assustadoras, então me sentirei cheio de medo. É daí que vem a nostalgia no disco. Sinto que todos queremos um pouco de paz, porque vivemos com tanto medo por tanto tempo.

Qual era a outra parte da sua pergunta?

Rolling Stone Brasil: Eu disse que faixas como "Glitchzig" e "Sometimes I Wanna Be Bad" parecem bem pessoais...
Mark Foster: Sim, com certeza. Há seis anos, em 2018, eu fiquei sóbrio. E eu me afastei da música para ficar saudável. "Glitchzig", "Sometimes I Wanna Be Bad" e algumas outras músicas, como "Chasing Low Vibrations" e "Paradise State of Mind"... "A Diamond to be Born" são sobre transformação. Tem muitas músicas sobre isolamento, solidão e as coisas que tive que superar para aprender a viver de um jeito diferente.

Eu aprendi a viver — não sabia como viver. Estava dando o meu melhor, mas era extremamente desconfortável simplesmente estar no mundo. Então, me distanciar da música e focar em ficar saudável abriu minha vida. Foi quando me apaixonei, entrei nesse novo capítulo. Voltar e compor esse álbum sob essa perspectiva foi algo totalmente novo para mim. Foi muito mais profundo. Estou muito orgulhoso desse disco. Mergulhei fundo em mim mesmo e me forcei a ir a lugares que eu tinha muito medo de ir. Dei o meu melhor, para ser sincero, e compartilhei sem ter medo das pessoas gostarem ou não.

Foster The People (Foto: Divulgação)

Rolling Stone Brasil: Também há algumas músicas, como "Glitchzig", de novo, e "Feed Me", em que você mergulhou em sons eletrônicos. De onde veio isso? Quando ouvi o álbum, me imaginei usando um terno vermelho igual ao seu e dançando em uma balada como minha mãe provavelmente dançaria nos anos 80...
Mark Foster: Isso é incrível [risos]! Pois é, não sei... Acho que esse sempre foi um lado do Foster The People. Se você ouvir nosso primeiro álbum, tem músicas como "Miss You", no Supermodel, "The Truth"... Tem elementos ali. SHC [Sacred Hearts Club] tem músicas como "III". Não sei. É divertido. É legal fazer música eletrônica. Eu estava apenas me divertindo.

Rolling Stone Brasil: Temos apenas mais um minuto. Adoraria conversar com você por mais uma hora, mas não podemos. Vocês virão ao Brasil no próximo ano?
Mark Foster: Definitivamente iremos ao Brasil. Estamos trabalhando nisso agora mesmo. Não sei as datas, mas sei que iremos. Não vejo a hora de ver vocês. Alguns dos nossos shows favoritos foram feitos no Brasil. Estamos muito ansiosos para voltar.

Rolling Stone Brasil: Tenho mais uma pergunta. Você ajudou uma garota japonesa que sofria com depressão e gravou "Hide and Seek". Em "Under The Moon", você canta sobre estar longe de alguém que ama, mas pelo menos "you're looking at the same sky". "Ruby" também é uma música em que tenta ser positivo. No novo álbum, "Let Go" e "Holy Shangri-La" são exemplos parecidos... Como você encontra as palavras que sempre faz nós, fãs, verem o lado bom das coisas?
Mark Foster: Isso significa muito para mim. O lance é o seguinte: quando eu escrevo músicas, componho para fazer eu mesmo me sentir melhor. Não é necessariamente sobre como estou me sentindo — é como eu quero me sentir. Não importa o quão sombria a vida fique, eu sou um otimista. Sempre tenho esperança de que as coisas vão ficar melhores. Sempre podemos encontrar o lado positivo de tudo. Tento ver a vida dessa maneira.

Tento escrever músicas assim, porque minha imaginação pode ser bem selvagem, perigosa, sombria e estranha. Tenho que focar e tento me manter positivo sobre a vida. Contanto que estejamos respirando e estejamos aqui, todos temos potencial de mudar para melhor. No núcleo de cada música que escrevo, sempre há uma faísca de esperança, mesmo nas canções mais sombrias. 

Rolling Stone Brasil: Você está planejando uma celebração de 10 anos do Supermodel?
Mark Foster: Teria que ser neste ano. Estivemos tão focados nesse novo álbum...

Rolling Stone Brasil: Então isso é um "não". E você ainda está trabalhando no seu filme de terror?
Mark Foster: Estou roteirizando algumas coisas, uma série e alguns filmes.

Rolling Stone Brasil: É isso, Mark. Tenho que dizer que meu marido é um grande fã — o número um. Ele é um dos fãs que você segue no Twitter. Quero apenas agradecer por fazê-lo feliz, o que também me faz feliz, e por sua música. Estou muito feliz agora. Obrigada!
Mark Foster: Muito obrigado! É muito bom te conhecer. Espero ver vocês quando formos ao Brasil.