Gilberto Gil reforça autoridade para gerações de fãs durante show necessariamente longo e em família
Gilberto Gil terminou o primeiro final de semana da turnê 'Tempo Rei' em São Paulo no último sábado, 12; apresentação teve mais de duas horas de duração
Heloísa Lisboa (@helocoptero)
Publicado em 13/04/2025, às 15h46
Gilberto Gil encerrou o primeiro fim de semana da turnê Tempo Rei em São Paulo. Aos 82 anos, ele conduziu um show de duas horas e meia com uma setlist que contou com mais de 30 faixas. A apresentação do último sábado, 12, teve fogos de artifício, uma estrutura espiral erguida no centro do palco e a família Gil em peso.
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O artista iniciou a performance com 30 minutos de atraso, tempo razoável comparado ao de espetáculos passados. Recheado de sucessos, o repertório passou por homenagens como a Dominguinhos, quando Gil tocou "Eu Só Quero um Xodó", e a Chico Buarque, que introduziu, por meio de um vídeo, a canção "Cálice".

Associada ao período de ditadura no Brasil, a composição de Gilberto Gil e Chico Buarque provocou gritos da plateia, que disse: "Sem anistia!" A adesão foi quase completa durante a versão intimista da música, com baixo eletrônico sutil e um arranjo de guitarra que preparou o público, formado por várias gerações, para a entrada dos metais e da percussão.
Gil, então, lembrou de sua visita a Lagos, na Nigéria, quando participou do II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra, ainda na década de 1970. Ele precisou interromper o discurso ao entender que o público pedia pela ajuda de bombeiros para alguém que passou mal. Paciente e sem fazer grande alarde, o músico retomou a narrativa e explicou como Refazenda (1975) ganhou continuidade em Refavela (1977), disco inspirado nos conjuntos habitacionais do país africano.
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O show seguiu para a direção do reggae, com "Não Chore Mais (No Woman, No Cry)", versão da música de Bob Marley & The Wailers, e "Vamos Fugir", por exemplo. "Não sou roqueiro, mas aprecio o rock", disse o artista em meio a uma sessão roqueira no set. Cantando "Punk da Periferia", Gil mostrou o dedo do meio quando a faixa ofereceu a oportunidade de tirar as mãos da guitarra.

Depois de 1h40 de apresentação, o músico se sentou para tocar "Se Eu Quiser Falar com Deus" e, em seguida, receber Arnaldo Antunes — em "Extra II (O Rock do Segurança)" — e Sandy — em "Estrela". Cada artista presente no palco com Gil foi identificado por ele com muito entusiasmo, incluindo Mestrinho, Gustavo di Dalva e Leonardo Reis.

Ao apresentar Bem Gil aos espectadores, Gilberto afirmou: "Vem me ajudando muito. Para esse show, por exemplo, ele foi fundamental na regimentação dos músicos, todos amigos dele — e amigos meus também. É um prazer enorme poder tê-lo ao meu lado". O filho do cantor se emocionou e deixou algumas lágrimas rolarem. Em outro momento, quando foi a vez de José Gil, Gilberto revelou que o caçula substituiu Pedro Gil, que faleceu aos 19 anos, na bateria.

O elenco também incluiu Nara, outra filha de Gil, Mariá Pinkusfeld, nora do músico, e João Gil, seu neto. As duas o ajudaram a levantar da cadeira que usou por um tempo antes de encaminhar o show para o final. Retribuindo as exclamações de "Eu te amo", Gilberto Gil refletiu: "O amor é mais difícil que a morte, porque é exemplo de exercício pleno da vida com todas as dificuldades". Ele encerrou a performance com "Toda Menina Baiana" e "Atrás do Trio Elétrico", acompanhas de confetes e agitação da plateia.

Gilberto Gil parece ter assumido um tom de celebração, enquanto a família que o acompanha na turnê aparentemente está sentindo, com antecedência, a emoção da despedida dos grandes palcos. A mistura de sentimentos torna Tempo Rei ainda mais especial e imperdível.