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Gloria Trevi: Antigo caso de abuso é revivido em novas acusações contra a cantora

Movida por duas supostas vítimas, a ação civil afirma que Gloria Trevi e Sergio Andrade abusaram das jovens nos anos 1990, época de outro escândalo sexual

Redação Publicado em 07/01/2023, às 15h00

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Gloria Trevi em 2022 (Foto: Getty Images)
Gloria Trevi em 2022 (Foto: Getty Images)

Em meados de 2000, Gloria Trevi e Sergio Andrade foram presos em um dos maiores escândalos sexuais da cultura pop, acusados de criar uma rede secreta de abusos no México. Mais de 20 anos depois, o caso voltou à tona recentemente, conforme informações exclusivas da Rolling Stone Estados Unidos, depois que outras duas mulheres vieram a público revelar os abusos que teriam sofrido.

Movida por quatro advogados de Los Angeles, a nova ação civil contra Trevi e Andrade foi aberta pouco antes de 31 de dezembro de 2022, data em que a Lei de Vítimas Infantis foi encerrada na Califórnia. Nem a cantora, nem o ex-produtor, entretanto, foram citados no processo, ainda que tenha ficado claro, com base nos detalhes dados pela acusação, que eles são, de fato, os principais réus do caso.

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Citadas pela Rolling Stone EUA como Jane Does 1 e 2, as supostas vítimas de Gloria e Sergio disseram ter 13 e 15 anos quando foram abordadas pela cantora. Atraídas com a possibilidade de ingressar em um programa de treinamento musical, as jovens teriam se tornado escravas sexuais do produtor.

“[Trevi e Andrade] usaram seu papel, status e poder, como uma estrela pop mexicana bem conhecida e bem-sucedida e um produtor famoso, para obter acesso, aliciar, manipular e explorar [as vítimas] e coagir o contato sexual com elas ao longo de anos”, alega a ação civil que busca indenização punitiva.

Além de acusar a dupla de aliciar e abusar das duas jovens, o processo ainda menciona um terceiro réu, que supostamente trabalhava ao lado de Trevi e Andrade como coreógrafo e assistente — mas não revela sua identidade. Procurados pela Rolling Stone EUA, a equipe de acusação não respondeu ao contato, e os representantes de Trevi não fizeram quaisquer comentários sobre o caso.

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Gloria Trevi e Sergio Andrade: Relembre o caso

Na época em que as duas novas acusadoras de Trevi e Andrade já haviam sido aliciadas pela dupla, entre 1991 e 1992, a cantora e o produtor eram famosos internacionalmente. De um lado, Gloria era considerada a versão mexicana de Madonna, enquanto, do outro, Sergio era o ás da produção.

Alguns anos depois, contudo, o império da dupla desmoronou conforme diversos de seus “aprendizes” moveram uma ação contra os artistas, acusando-os de abuso sexual. De repente, Andrade passou a ser retratado como um pedófilo violento, enquanto Trevi era sua impiedosa e voluntária cúmplice.

Segundo as antigas acusações, a cantora conhecida mundialmente era responsável por aliciar os jovens aspirantes ao mundo do entretenimento com uma proposta irrecusável: um programa de treinamento musical com o próprio Sergio Andrade. Uma vez dentro do grupo apadrinhado pela dupla, as crianças e adolescentes, das mais distintas idades, eram abusadas física e psicologicamente pelos acusados.

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Não demorou até que Gloria e Sergio fossem presos diante das declarações — após uma caçada internacional, ambos foram detidos no Brasil, em janeiro de 2000. Acusada de estupro, sequestro e corrupção de menores, Trevi passou quatro anos em prisão preventiva, mas foi absolvida por falta de provas, segundo informações da Rolling Stone EUA, sendo liberada da custódia em 2004.

Sergio, por sua vez, foi condenado por estupro, sequestro e corrupção de menores após quatro anos aguardando seu julgamento. O ex-produtor, contudo, foi solto um ano mais tarde. Na época, Andrade chegou a admitir que teria se relacionado sexualmente com Karina Yapor, a principal vítima e acusadora do processo, quando a menina tinha apenas 13 anos, mas negou tê-la estuprado.

Décadas mais tarde, durante o Latin American Music Awards de 2018, Gloria Trevi falou sobre o caso, afirmando que não foi cúmplice de Andrade. “Eu tinha 15 anos, com mentalidade de 12, quando conheci um grande produtor”, afirmou ela. “Ele imediatamente procurou se tornar uma miragem de amor e fingiu ser minha única chance de alcançar meus sonhos. Eu tinha 15 anos quando comecei a conviver com manipulação, espancamento, gritos, abusos, castigos. E foram 17 anos de humilhações.”

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O processo das Jane Does

Com um total de 30 páginas, a nova ação civil movida pelas duas mulheres, que são tratadas pela Rolling Stone EUA como Jane Does, revela como ambas as jovens teriam sido atraídas pela dupla. No caso da primeira, tudo começou no verão de 1991, quando a menina tinha 15 anos de idade.

Morando com sua família em Puebla, no México, a jovem conheceu Gloria Trevi durante um evento próximo ao escritório de Andrade na Cidade do México. Segundo a acusação, a cantora teria abordado a jovem enquanto ela dançava com amigas, afirmando que Jane Doe 1 era “uma dançarina muito bonita”.

Convidada para uma audição que poderia dar o pontapé inicial para seu estrelato, a jovem mudou-se para a Cidade do México e passou a fazer parte do suposto programa da dupla. No início de 1992, contudo, Andrade já começou a mostrar um lado seu que a menina desconhecia: segundo a acusação, ele teria ficado “extremamente chateado" com a amizade entre Jane Doe 1 e um dos meninos do grupo.

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Foi então que Trevi entrou em cena, afirmando que Sergio tinha “regras restritas” sobre amizades durante o programa e que, por isso, Jane Doe 1 agora teria de encontrar uma forma de permanecer no grupo de treinamento. Assustada, a menina conversou com Andrade, que, em resposta, teria afirmado que “se ela quisesse ficar no grupo, ela teria que ter relações sexuais com ele”, segundo o processo.

“[Jane Doe 1] não queria fazer sexo com [Andrade], mas sentia uma pressão extrema porque admirava [Trevi] e [Andrade], que eram adultos, e ela queria ficar no grupo e não sabia o que mais fazer”, alega a ação. O problema é que, enquanto a jovem tinha apenas 16 anos, Sergio já havia completado 36.

Com isso, os estupros começaram, mas as agressões não pararam no âmbito sexual. Segundo processo, Andrade costumava controlar seus “alunos” com “chicotadas, espancamentos, privação de alimentos e exercícios físicos forçados”, principalmente caso eles ousassem “desagradá-lo”. No caso de Jane Doe 1, tais agressões teriam sido mantidas até 2000, quando o produtor foi preso.

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“[Ele] espancou [Jane Doe 1] e outras jovens dançarinas com fios elétricos até que suas costas estivessem sangrando e machucadas, e uma condição da punição era que elas não pudessem gritar ou se mover enquanto ele as espancasse”, afirma o processo. “As chicotadas não terminaram até que eles estivessem em silêncio e imóveis enquanto ele infligia os golpes.”

Já no caso de Jane Doe 2, o pesadelo começou em junho de 1989, quando ela tinha 13 anos. Na época, Trevi abordou a menina do lado de fora de uma estação de rádio na Cidade do México, afirmando que procurava por artistas como a jovem, que era “muito alta e bonita”. Também convidada para uma audição, a adolescente se surpreendeu quando Trevi supostamente pediu que ela tirasse suas roupas.

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Uma vez aceita no programa, Jane Doe 2 passou a ser preparada para se tornar a próxima namorada de Andrade, uma vez que, segundo Gloria, o homem precisava “acreditar no amor de novo”, depois que outra garota da mesma idade partiu seu coração. Foi assim que as agressões sexuais teriam começado, no escritório do apartamento de Sergio na Cidade do México, quando o produtor tinha 33 anos.

Com o passar do tempo, Andrade ficou ainda mais abusivo e controlador, prometendo a Jane Doe 2 que ela logo se tornaria uma estrela. Nessa época, segundo o processo, a menina era espancada com cintos e socos, não recebia alimentação e era proibida de usar o banheiro. Andrade chegou até mesmo a casar-se com a jovem, que tinha 15 anos, em dezembro de 1990, a fim de removê-la da custódia da mãe.

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