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Gorillaz fala do Brasil, de MC Bin Laden e do álbum mais recente: "É sobre os marginalizados"

Grupo comentou crítica presente em Cracker Island, seu álbum mais recente - e detalhou a 'eletrizante' parceria com MC Bin Laden: "como colocar o dedo em uma tomada divertida"

Eduardo do Valle (@duduvalle)
por Eduardo do Valle (@duduvalle)
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Publicado em 04/05/2023, às 17h49

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Gorillaz (Divulgação)
Gorillaz (Divulgação)

"É sobre os marginalizados, os incompreendidos, os esquecidos." É assim que o Gorillazdefine o single "Skinny Ape", uma das faixas de seu álbum mais recente, Cracker Island (2023). É também como o Gorillaz define o trabalho do grupo atualmente:

"As músicas dizem NÓS TE VEMOS, mesmo que ninguém mais olhe. Isso é o Gorillaz em 2023", define o grupo, em conversa com a Rolling Stone Brasil.

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Lançado em fevereiro deste ano, Cracker Island é o oitavo álbum de estúdio do Gorillaz - que aqui narra um novo capítulo de sua distopia, agora como pastores de um culto apocaliptico, o The Last Cult. Além do conceito, no entanto, trata-se de tratado pop sobre um mundo hiper viciado em conexões irreais. Em comum, o olhar crítico sem ironias do grupo que aparece em parábolas, nas letras e fora delas:

Gorillaz Divulgação)
Gorillaz (Reprodução)

"[O disco fala sobre] falsas esperanças, a droga da economia do gotejamento, novo ouro, velharia em papel de presente, automedicação, emancipação... tudo no mesmo balaio. Você me entende?"

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Na prática, o resultado é um dos álbuns mais sólidos da trajetória do Gorillaz - apontado, inclusive, como sucessor do aclamado Plastic Beach, de 2010, um dos sucessos do grupo. A inspiração surgiu de um período na Califónia, que colocou os integrantes em contato com as idiossincrasias de uma 'bolha de reinvenção perpétua', como definem o estado americano:

"É como se alguém abrisse um buraco na realidade em que toda a verdade é mentira e vice-versa."

Participações e MC Bin Laden

Ao longo de seus 22 anos de carreira, o Gorillaz ficou marcado pelas várias participações em suas músicas, que aqui aparecem mais comedidas. Longe de dizer que são poucas - não são, e aparecem em 10 das 15 faixas. Aqui, porém, os feats, que viraram marca do Gorillaz, aparecem mais concisas e assertivas. Stevie Nicks leva seu otimismo e leveza em meio ao caos em "Oil"; Beck confunde seus vocais aos de Damon Albarn em "Possession Island"; e mesmo Bad Bunny adiciona nuance ao álbum com seu reggaeton em espanhol em "Tormenta".

Damon Albarn e MC Bin Laden (Reprodução)
Damon Albarn e MC Bin Laden (Reprodução)

Mas é em "Controllah" que aparece um dos feats mais inusitados do disco - com o funk brasileiro de MC Bin Laden. Na faixa, Bin Laden canta em português com a batida rápida do Gorillaz, em um dos momentos mais energéticos do álbum, e que talvez mais ressoe à banda no início da carreira.

"Bin Laden foi rápido, inspirador e eletrizante, como colocar o dedo em uma tomada divertida enquanto se pressiona um botão com o sinal "não pressione". Ou a sensação de cérebro congelado de um sorvete muito bom. É assim que a faixa soa para mim."

Confira abaixo a entrevista completa com o Gorillaz:

Rolling Stone Brasil: Vocês começaram os lançamentos com "Skinny Ape" e com "Possession Island", duas faixas tocantes, melancólicas. O que elas dizem sobre seu novo álbum e sobre o Gorillaz em 2023?
Gorillaz: Você conhece a pintura Nighthawks, de Edward Hopper? Veja, é sobre os marginalizados, os incompreendidos, os esquecidos. É sobre isso que "Skinny Ape" fala, cara, ele olha para as estrelas, mas está nas sarjetas.

As músicas dizem NÓS TE VEMOS, mesmo que ninguém mais olhe. Isso é o Gorillaz em 2023.

Somos pastores do culto final, procurando ovelhas perdidas e parece que encontramos mais uma. Seja bem-vindo!

Rolling Stone Brasil: "New Gold", por outro lado, parece uma crônica irônica de nossos tempos - algo que sempre esperamos do Gorillaz. O que inspirou as letras dessa música?
Gorillaz: Sim, é meio isso - mas sem ironia, é isso mesmo.

Falsas esperanças, a droga da economia do gotejamento, novo ouro, velharia em papel de presente, automedicação, emancipação... tudo no mesmo balaio. Você me entende?

Rolling Stone Brasil: Cracker Island é o resultado de um período real que o Gorillaz passou na Califórnia. Como aquele estados - ou talvez os Estados Unidos - influenciaram o disco, como um todo?
Gorillaz: É como se alguém abrisse um buraco na realidade em que toda a verdade é mentira e vice-versa. Hollywoodland antes de mais nada. A Califórnia foi aquele lugar, aquela bolha de reinvenção perpétua. Estou falando do Show de Truman, mas você está preso do lado de fora... bem-vindo ao Hotel Califórnia, onde você você pode fazer check-in, mas nunca fazer check-out, saca só!

Rolling Stone Brasil: O último disco também chegou com participações realmente especiais - Beck, Stevie nicks, Adeleye Omotayo... só nomes incríveis! Como trabalhar com cada um deles contribuiu para o resultado final do álbum?
Gorillaz: Trazer convidados é aqui o que sempre foi - abrir mentes, quebrar corações, sonicamente, de uma forma linda. "Silent Running", com Ade, merece desesperadamente ser ouvida. Stevie quer encher o poço do desespero com amor. E Beck está sozinho numa ilha em meio a um mar de pessoas que têm tudo, menos amor.

Rolling Stone Brasil: Seu show do Brasil foi um dos melhores no ano passado. Em sua opinião, por que suas músicas são tão bem aceitas por aqui?
Gorillaz: Pessoas incríveis em um país incrível, os pulmões do mundo. Se o Brasil está feliz, o mundo respira melhor.

Rolling Stone Brasil: Em sua passagem pelo Brasil, vocês gravaram com MC Bin Laden. Isso surpreendeu até mesmo os fãs de Bin Laden. O que chamou sua atenção para o funk brasileiro e como o gênero se relaciona com o Gorillaz? E como foi o processo de gravação?
Gorillaz: Sou um fã de George Duke e de [Tom] Jobim. Brazilian Lova Affair foi um dos primeiros álbuns que me pegou. Mas também tenho ascendência africana. Estou ciente da distância curta pelo Atlântico do oeste africano à Bahia, no Brasil. Seu que em certos lugares da América do Sul o Iorubá é falado como na Nigéria. Isso é o que me inspira, a música e a história de um povo desnatualizado através do tempo. E a música é o que sobrevive.

Bin Laden foi rápido, inspirador e eletrizante, como colocar o dedo em uma tomada divertida enquanto se pressiona um botão com o sinal "não pressione". Ou a sensação de cérebro congelado de um sorvete muito bom. É assim que a faixa soa para mim.

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