Publieditorial

Governo finlandês promove heavy metal e intercâmbio com América Latina

Projeto “Come to Latin America” busca fomento cultural e quebra de preconceitos contra estilo

Redação

Publicado em 04/07/2022, às 18h00
Imagem Governo finlandês promove heavy metal e intercâmbio com América Latina

O metal pode ser considerado um pária em muitas nações do globo. Entretanto, na Finlândia, este é um estilo musical muito presente e bastante prestigiado pela população, com ampla presença nas grandes mídias, rádios e, portanto, na vida dos habitantes do país.

Uma das ações de maior abrangência do governo, para fomentar essa tradição, é o financiado de projetos através do Ministério da Educação e Cultura. Em pauta neste momento temos o concurso “Come to Latin America”, destinado a bandas emergentes de metal finlandês, com o objetivo de difundir a música e colaborar com a quebra de alguns preconceitos que ainda existem em torno dele. O projeto em formato híbrido prevê alcançar aproximadamente 10 milhões de pessoas, entre jurados, público participante e atrações.

O júri deste concurso, formado por mais de 100 músicos latino-americanos, jornalistas, radialistas, organizadores de festivais e profissionais ligados ao entretenimento ao vivo, escolheu as três bandas finalistas, e agora será a vez do público escolher o vencedor. O prêmio será um acordo de distribuição com a Nuclear Blast – por meio da subsidiária Blood Blast – uma das maiores gravadoras de nicho do mundo e que atua como parceira nesta iniciativa.

Para votar em um dos três, que são as bandas Luna Kills, Noira e Where's My Bible, uma plataforma interativa foi criada e estará no ar a partir de 28 de junho de 2022.

Finlândia e América Latina conectados pelo metal

O rock e o heavy metal se tornaram um produto de exportação finlandês, principalmente desde a virada do milênio. Inúmeros grupos desta nação vêm se posicionando no circuito internacional, no qual Brasil, Chile, Argentina, México e Uruguai tem uma grande fatia. De acordo com o relatório global de música da IFPI, a América Latina é o mercado mais importante, registrando 85% dos downloads nas plataformas de streaming, com um crescimento de 31% em 2021, em relação ao ano anterior.

O ministro da Ciência e Cultura da Finlândia, Petri Honkonen, comentou o caso. “O mercado em rápido crescimento da região também está atraindo novas bandas. Além disso, eles têm uma base de fãs leais na América Latina, o que cria uma forte plataforma para o sucesso. O intercâmbio é especialmente importante agora, dada a instabilidade que vivemos na Europa, levando os artistas a terem incertezas em vários sentidos”, avalia.

A empresária Niina Fu, idealizadora do projeto, teve a inspiração ao residir no Chile e no Brasil, e comparar as similaridades entre ambos e os nórdicos europeus. “Apesar da distância e diferenças, existe uma cena metal muito forte e profunda. Isso me chamou muito a atenção e é por isso que tive a ideia de desenvolver esta proposta”, explica.

Ela acrescenta que sua motivação é ampliar o seu impacto na sociedade moderna. “Acredito que atualmente o mundo é medido demais por conquistas e por indicadores financeiros. Ao estudar Administração de Empresas na Getúlio Vargas, em São Paulo, entendi que precisamos ampliar o espaço da cultura. O heavy metal é o presente da Finlândia para o grande e diversificado acervo do Brasil, com o objetivo de aumentar a participação no cotidiano das pessoas deste lindo País”, avalia.

"Está nos planos da banda vencedora uma turnê na América Latina. Estamos solicitando mais financiamento. Continuaremos a cooperar com o Brasil – um dos maiores exportadores de boa música do mundo", completa.

O heavy metal e a Finlândia

De acordo com o banco de dados online Metal Archives, o país tem mais de duas mil bandas do estilo. Ainda segundo a plataforma, há uma década a Finlândia tinha o maior número de grupos de heavy metal per capita do mundo, com 54 a cada 100 mil habitantes. Os vizinhos Suécia e Noruega vinham logo atrás, com 27. Hoje esse número ultrapassa os 60, mantendo o primeiro lugar geral.

Este cenário sólido se explica pelo empenho do governo em apoiar os costumes locais e o gênero. Não à toa, a primeira ministra, Sanna Marin, aparece em diversas cerimônias oficiais usando sua inseparável jaqueta de couro, no melhor estilo Rock and Roll.

Isto não é apenas um reflexo da moda, mas também de uma atitude de vida, uma vez que permeia profundamente aquela sociedade. O seu alcance chega também ao mundo empresarial. A multinacional Nokia, que possui forte presença no mercado mundial de tecnologia, vem demonstrando entusiasmo e apoio ao projeto “Come to Latin America”, e tem em seu quadro de colaboradores pessoas que o apreciam, como o CEO da marca no Brasil, Ailton Santos Filho, músico, matemático por formação e apontado como padrinho desta ideia.

“Uma das coisas que diferencia a arte da tecnologia é que esta sempre busca o perfeccionismo, enquanto a outra é uma forma de expressão mais humana, onde podemos ousar ser nós mesmos, com nossas virtudes e erros. Por isso, decidi apoiar nossos jovens colegas músicos em seu processo de desenvolvimento, além de entrar na cena finlandesa”, explica o gestor, que complementa: “A música é universal e conecta as pessoas”.

Indo além da intenção de promover o desenvolvimento de novos e emergentes artistas, Santos conta como isso se reflete em outros pontos da vida e do âmbito profissional. “Liderar uma banda e tocar em um palco colaborou muito com minha carreira no mundo corporativo. Estar conectado por um propósito comum, que é a forma como o som nos educa, pois é uma linguagem universal, permite que tudo isso seja aplicado à liderança de uma empresa, organização e/ou qualquer tipo de trabalho”, afirma.

Outro nome ligado ao estilo e que atua com grande destaque na área da saúde, é Ville Vänni, que por anos integrou a importante banda Insomnium. O ex-guitarrista, atuando agora como médico-cirurgião, falou sobre o impacto do gênero na comunidade. “Hoje ele está em todos os níveis da sociedade; não é para a elite, nem para a classe média, nem para quem tem menos recursos. É algo enraizado e que faz parte da nossa cultura”, enfatiza.

Por sua vez, o brasileiro Daniel Medeiros, hoje community manager da Supercell, empresa finlandesa de desenvolvimento de videogames, conta que, quando jovem, sua banda favorita era HIM. “Fiquei sabendo eles eram de lá, um país conhecido pelo alto nível de ensino e qualidade de vida. Mais tarde, quando quis encontrar um emprego na indústria de videogames, este local imediatamente me veio à mente. Em outras palavras, se eu não estivesse inicialmente interessado na Finlândia por causa do HIM, e não soubesse que é um dos melhores países do mundo para se viver, eu nunca teria vindo trabalhar aqui”, revela.

O “Come to Latin America” é um projeto que visa o intercâmbio e o fomento cultural da Finlândia para o mundo, e que cujo capítulo que estamos vivendo agora é o primeiro de muitos outros.

Para mais informações, acesse: www.cometolatinamerica.fi