Harry Styles: como a terapia (e o chuveiro) o ajudaram a lidar com o assédio à vida pessoal?
Dos maiores ícones pop do planeta, Styles cresceu sob os holofotes; hoje, tem sua sexualidade e relacionamentos explorados a olho público - mas achou um jeito de lidar com o assédio
Por Brittany Spanos / Fotos por Amanda Fordyce / Tradução: Eduardo do Valle Publicado em 22/08/2022, às 17h41
Quando Harry Styles tocou em dois shows lotados no Wembley Stadium em Londres, na Inglaterra, em junho, a primeira coisa que ele fez ao sair do palco nas duas noites foi tomar um banho. A ducha pós-show tornou-se um ritual: uma necessidade higiênica, claro, mas também um momento crucial de clareza e reflexão. É ali que ele lava os gritos cheios de amor e desejo de estar em sua presença. Qualquer um ficaria impressionado por isso.
“Não é natural estar em frente a tanta gente e passar por essa experiencia”, diz o cantor, capa global da Rolling Stone.
“Lavando isso, você é só uma pessoa nua em seu estado humano mais vulnerável. Como um bebê pelado, basicamente.”
Estes banhos pós-Wembley foram especialmente gratificantes. Quando o One Direction, ou “a banda”, como Styles se refere, tocou no estádio em 2014, ele acabou com amigdalite no dia do show. “Eu estava miserável”, recorda. “Nós tocamos a primeira música e me lembro de sair do palco, ir para o carro e começar a chorar porque estava muito decepcionado.”
Os shows solo em Wembley acabaram sendo uma reunião. Amigos de todos os cantos e épocas estavam lá, o assistindo, nas suas noites. Assim como sua mãe, Anne Twist, sua irmã, Gemma, amigos e time, todos dançando perto da namorada de Harry, Olivia Wilde e seus dois filhos. Niall Horan, ex-colega de banda, também estava lá, sorrindo enquanto Styles cantava “What Makes You Beautiful”, dos 1D, no palco.
Privacidade como necessidade
Ao tornar-se um dos maiores astros pop do planeta, a necessidade de Styles por alguma privacidade – para manter aquele “bebê pelado” fora do olhar público – acabou crescendo. Discrição o ajudou a despistar questões sobre sua vida sexual, do tipo que o inundaram assim que cruzou a idade legal.
Nos últimos dois anos, ele começou a frequentar a terapia com frequência. “Me comprometi a fazer uma vez por semana”, explica. “Sinto que, da mesma forma como me exercito todo dia e cuido do meu corpo, por que não posso fazer o mesmo com minha mente?”
No processo, ele começou a descobrir partes de si que nunca entendera antes, “Tantas emoções são estranhas a nós antes de começarmos a analisá-las propriamente. Gosto muito de conhecer cada uma encará-las face a face. Nada de ‘não quero sentir isso’, mas sim ‘o que está fazendo com que me sinta assim?’”
Um dos sentimentos que precisou perder foi a vergonha – aquela vergonha de ter sua vida sexual escrutinizada enquanto você ainda está tentando a compreender. Ao longo dos anos, ele aprendeu a parar de desculpar-se por ela. Ele aprendeu que pode ser vulnerável na vida particular, e ainda protegê-la do público.
Algumas vezes ele preocupou-se em parecer “hipócrita” por ser tão reservado. Seus shows tornaram-se espaços tão empoderadores para tantos fãs que muitos deles gostariam de compartilhar quem são com ele. No palco, ele ajudou pessoas a se assumirem para seus pais e facilitou muito, de pedidos de casamento a revelações de gênero. Separar a vida pública da pessoal não foi uma escolha fácil. “Quando estou trabalhando, trabalho duro e me acho muito profissional”, diz.
“Mas quando não estou, gosto de pensar que sou aberto e provavelmente teimoso também, e aberto a ser vulnerável. Posso ser egoísta algumas vezes, mas gosto de pensar que sou um cara carinhoso.”
Acabou encontrando equilíbrio nessa compartimentalização. “Nunca falei em público de minha vida fora do trabalho e isso me beneficiou”, explica, talvez antecipando-se. “Sempre vai haver uma versão de uma narrativa e eu acho que decidi não gastar tempo tentando corrigir ou redirecionar nada, de nenhuma forma.”
Queerbaiting e namoro
Fechar as cortinas sobre sua vida pessoal não apenas deixou a todos mais curiosos. Sua sexualidade, por exemplo, virou tópico de uma quase-obsessão por anos. Assim, abraçou a fluidez de gênero em seu estilo, como Mick Jagger e David Bowie o fizeram antes dele. Repetidamente declarou o quanto acha retrógrado exigir rótulos e dividir as pessoas em caixas identitárias. Críticos de seu approach o acusam de ”queerbaiting”, ou de lucrar a partir de estéticas queer sem declarar-se membro de nenhuma comunidade explicitamente. Defensores acham que é injusto forçar quem quer que seja a assumir-se como forma de validar seu gênero ou expressão criativa.
Sem exceder-se, Styles comenta o quão bobo acha alguns argumentos sobre como ele deveria identificar-se.
“Algumas pessoas dizem ‘Você só aparece publicamente com mulheres’ e eu não acho que tenha aparecido em público com ninguém, de fato. Se alguém tira uma foto sua com alguém, não significa que você tenha escolhido assumir alguma relação publicamente com ninguém.”
Na prática, isso pode ser contestado. Se ele está em toda parte, Olivia Wilde também está. A dupla se conheceu no set de Não Se Preocupe Querida, que foi dirigido por ela (mais sobre isso em breve). A dupla causou furor ao ser flagrada por um paparazzi de mãos dadas na festa de casamento do empresário e amigo Jeffrey Azoff, em janeiro de 2021.
Wilde e Styles falaram muito pouco sobre o relacionamento e rumores acabaram preenchendo o vazio. Tuiteiros anônimos reagiram horrorizados à diferença de idade entre os dois (como se um homem de 28 anos namorando uma mulher de 38 fosse absolutamente anormal). Outros problematizaram a relação de ator-diretor entre ambos (como se Hollywood não tivesse um histórico bibliográfico de casais que se conheceram da mesmíssima forma).
Mais intenso e mais chocante que isso foi uma parte do fandom de Olivia que passou a criticar seus registros de dança ou fazendo longas threads no Twitter ou vídeos no TikTok cancelando-a por piadas insensíveis feitas há mais der uma década. Se Styles é, ele próprio, colocado em um pedestal, seus parceiros potenciais são mantidos num ponto inatingível por alguns fãs.
Vida pública X Vida privada
Harry Styles não é, ele próprio, o cara mais online do mundo. Ele não tem TikTok, usa o Instagram para ver posts sobre plantas e arquitetura e chama o Twitter de “a maior tempestade de pessoas de merd* tentando ser ruins para as outras”. Ainda assim, ele sabe como os cantos obscuros da internet podem ser tóxicos para as pessoas a seu redor. “Claro que não me sinto bem com isso”, diz, com cuidado. Para ele, discutir isso é uma corda bamba. Ele quer esperar – e espera! – o melhor de seus fãs, mas não há como negar que, como em qualquer grande comunidade online, a sua também possui uma facção que age com ódio e no anonimato.
Mesmo os limites colocados por ele entre sua vida pública e sua privacidade, algumas vezes têm sua “linha borrada por outras pessoas”, diz. Com isso, a cada novo relacionamento, existe uma conversa com ele sobre o assunto, aberta logo no início, não importa quão cedo pareça. “Consegue imaginar”, ele questiona, “ir ao segundo encontro com uma pessoa e precisar dizer ‘OK, tem esse lado da coisa e eles vão dizer isso e ficar bem loucos, e vão ter pessoas ruins, mas isso não é real... e, enfim, o que você quer pedir para o jantar?”
Enquanto Styles se conforta em saber que não é todo seu fandom que é assim, ele ainda se pergunta como responder caso o barulho aumente demais. “É obviamente algo difícil. Ser próximo a mim significa que você esteja na mira em algum canto do Twitter ou algo assim”.
“Eu só queria cantar. Não queria fazer isso se soubesse que vou machucar as pessoas dessa forma.”
Quando questionada sobre as experiências com os fãs dele, Wilde é diplomática. Como Styles, ela acredita que no que eles significam como um todo, chamando-os de “pessoas profundamente amorosas”, que transformaram-se em uma comunidade receptiva. “O que eu não entendo sobre a crueldade que você menciona é esse tipo de negatividade tóxica que é a antítese de Harry, e de tudo o que ele produz”, ela me conta. “Pessoalmente, eu não acredito que essa energia negativa defina sua fan base, de jeito nenhum. A maior parte deles é campeã em gentileza.”
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