Brasileiro que escreve sobre seu cotidiano em inglês, Deadcat nunca revelou sua identidade e falou sobre o tema com a Rolling Stone Brasil
Das batidas sintéticas presentes no dance music dos anos 1970, até as guitarras energéticas do rock, décadas de história da música compõem o conhecimento utilizado por Deadcat para criar seu disco de estreia. Brasileiro que canta seus sentimentos em inglês, através de um personagem misterioso, o artista falou com exclusividade para a Rolling Stone Brasil.
Em um mundo de bandas animadas digitalmente, como o Gorillaz, DJs de música eletrônica que se apresentam com máscaras, como Marshmello, e de bandas cujos figurinos chamam tanta atenção quanto sua música, como no caso do Slipknot, o público está acostumado com artistas que nunca mostraram seus rostos. E é nessa onda que surfa Deadcat.
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Com faixas sobre experiências do cotidiano, o brasileiro nunca mostrou seu rosto — e sequer revelou sua identidade. Assim como os artistas já citados, o que fala mais alto na carreira de Deadcat não é sua vida pessoal ou sua aparência, mas sim as características pensadas com cuidado de suas músicas e, claro, o tom misterioso de seu personagem.
Algumas vezes me sinto mais livre sendo Deadcat, porque realmente estou sem máscara alguma no palco ou no estúdio. Então, talvez ele seja um eu mais honesto, porque eu consigo escrever da perspectiva dele e não tenho muita vergonha”, revelou.
Mas se engana quem pensa que o personagem criado por Deadcat é um alter-ego, ou uma forma de esconder o artista que existe por trás do disco. Segundo o músico, a decisão de criar um mistério sobre sua identidade foi muito mais narrativa e mercadológica.
“O nome Deadcat já instigou a curiosidade das pessoas e a gente só pode usar isso uma vez, o mistério. Porque depois que eu sair em público, não dá mais para voltar atrás”, explicou. “Mas não é para dividir quem eu sou do Deadcat, porque você vai chegar na mesma pessoa.”
Uma mistura de dance-rock, soul, disco e eletrônica, o disco traz os lados pop e performático de um artista que saiu de sua zona de conforto para criar sete faixas dançantes. Lançado logo no início de março, o disco autointitulado também traz letras densas e sarcásticas.
“Eu nunca tinha feito pop, então o disco reflete muito essa minha tentativa. Fiquei muito feliz com o resultado, tem vários elementos diferentes e pretendo fazer assim, explorar mais, sempre simplificar o máximo possível, mas também forçar um pouco as barreiras do pop, não me limitar ao que todo mundo está fazendo, ou ao que eu já estava fazendo”, afirmou.
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Composto por faixas como “Avant Garde”, que reflete sobre uma das famílias mais famosas da internet, até "Rádio", uma ode ao equipamento que acompanhou gerações, o álbum Deadcat teve duas faixas lançadas como singles antes de sua divulgação. A primeira delas, “Midnight boogie”, traz uma homenagem direta a David Bowie; enquanto a segunda, “Scarlett”, se aproxima do house-funk com um sample da música tema de E o vento levou.
“Escolhemos lançar as duas como singles com muita dificuldade”, lembrou o cantor. “Acho que todas as faixas têm capacidade de se tornarem singles no disco, então essa dificuldade de escolher o que deveríamos lançar primeiro fez ele ser tão especial. É um álbum curto, mas com elementos diferentes, todos tirados da minha visão do cotidiano.”
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Por fim, questionado sobre seu carinho pelos gatos, que surge na obra de Deadcat desde seu apelido, até elementos presentes em seus clipes, o músico explica que é tudo questão de escolhas criativas. “Eu me reservo mais para produzir a música e dou carta-branca para que os criativos da identidade visual interpretem as faixas e trabalhem com elas.”
“Então as referências aos gatos surgiram do meu nome e da mente do pessoal que trabalhou na parte audiovisual do álbum”, finalizou Deadcat. “Claro que amo todos os bichinhos e acho que os gatos deveriam ser venerados como os deuses que são, mas essa estética visual é simplesmente pelo fato de ser o primeiro álbum e de eu não estar colocando a cara ainda.”