Humberto Gessinger explica por que não toca com ex-colegas de Engenheiros do Hawaii
Augusto Licks e Carlos Maltz declararam estar “de portas abertas” para receber antigo colega em shows onde revisitam álbuns clássicos da banda
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 16/01/2025, às 13h11No último ano, Augusto Licks e Carlos Maltz realizaram uma série de shows pelo Brasil tocando músicas do Engenheiros do Hawaii — em iniciativa que será repetida em 2025, com show já agendado em Porto Alegre (Sargent Peppers) para 10 de abril. O guitarrista e o baterista, respectivamente, compuseram a formação mais popular da banda ao lado do vocalista e baixista Humberto Gessinger.
Ao mesmo tempo, o próprio Gessinger está revisitando dois momentos específicos da carreira do grupo, em uma turnê focada nos álbuns Acústico MTV (2004) e Acústico: Novos Horizontes (2007). Ambos os trabalhos foram gravados já sem Licks e Maltz, que saíram na década de 1990, mas trazem versões para várias músicas originalmente concebidas com eles.
Seria este o momento perfeito para Humberto, Augusto e Carlos tocarem juntos novamente? Guitarrista e baterista já disseram estar com as “portas abertas”, mas o vocalista/baixista já expressou, mais de uma vez, não ter interesse.
Em nova entrevista a Carlos Redel para a GZH (com paywall), Gessinger foi perguntado se existe alguma chance de subir ao palco com os ex-colegas. Em sua resposta, seguiu o mesmo raciocínio revelado em outras ocasiões: diz ter admiração pelos antigos parceiros, mas não se enxerga tocando ao lado deles novamente.
“O problema que tenho em falar sobre isso são dois. Corro muito o risco de ficar comparando com colegas, companheiros meus de várias fases. E isso não quero fazer. E o outro risco que, mais relacionado à esquizofrenia, por ficar me comparando também com o agora. [...] Mas do ponto de vista humano, gosto dos dois, não tenho nada, mas não me vejo.”
Humberto aponta que “o passado é legal, mas pode ser uma gaiola também”, diz que aceitar tocar com os ex-colegas “é voltar aos anos 1980” e garante: “não quero alimentar essa loucura das pessoas de voltar aos anos 1980”. Declarou, ainda, não ter qualquer briga com Augusto e Carlos, definindo o rompimento como apenas “esgotamento”.
“A pergunta mais certa não é ‘Por que acabou?’, mas ‘Como durou tanto tempo com pessoas tão diferentes?’. E essa diferença aumentou mais agora, porque é natural, cada um vai para um lado. Então, não me sinto estimulado a voltar a tocar [com eles], porque voltar não é só tocar com os caras, é voltar aos anos 1980. Adoraria se tivesse uma máquina do tempo, mas não existe [risos]. Então, não quero alimentar essa loucura das pessoas de voltar aos anos 1980.”
Ponto de vista do compositor
Durante a entrevista, Humberto Gessinger revelou qual considera ser a maior diferença entre ele e Augusto Licks e Carlos Maltz. O vocalista e baixista diz ter “ponto de vista do compositor” e buscar “novos caminhos para as novas canções”, enquanto os antigos parceiros enxergam o mundo como músicos, com “fixação em pequenos detalhes”.
“Tenho o maior prazer de estar presente no inconsciente coletivo de um monte de gente. E uma diferença grande também é a cabeça do compositor da cabeça do músico. Como compositor, tu ficas buscando novos caminhos para as novas canções e tu sabes que nenhum momento é definitivo. E o músico é meio diferente, fica: ‘ah, mas aquele solo não sei o quê’. E essa fixação nesses pequenos detalhes é uma coisa que não me agrada. Gosto mais de ver a coisa do ponto de vista do compositor, que vê as coisas completamente diferentes do músico. Talvez, essa seja a diferença entre nós.”
Por fim, Gessinger afirmou que não se imagina adotando um raciocínio de “vamos tocar só os sucessos”, mesmo no futuro. Para ele, trata-se de uma armadilha.
“Gastei muito da minha energia para fugir dessa armadilha de ‘só os sucessos’, velho. Não quero ficar dourando a minha pílula, mas comprei muita briga na indústria fonográfica e não ia ser agora, que não existe mais nada disso, que ia voltar para essa coisa de: ‘ah, então vamos lá, vou cortar o meu cabelo igual ao que era’, porque não é mais igual. Mas, é muito estranha essa energia dos caras de estar sem fazer nada. É muito bom que eles estejam tocando, estejam na ativa aí, e façam o caminho deles. Mas, assim, bah, não me convidem para ficar preso no passado, não posso me dar esse luxo de não viver o hoje.”
Nova turnê de Humberto Gessinger
Humberto Gessinger deu início à sua nova turnê no último fim de semana, celebrando os 20 anos do show gravado pelo Engenheiros do Hawaii para o quadro Acústico MTV. A apresentação de 2004 foi lançada como álbum e vídeo — tanto CD quanto DVD conquistaram certificação de platina pelas mais de 80 mil cópias vendidas cada. Nesta nova iniciativa, o músico também relembra Acústico: Novos Horizontes, trabalho lançado em 2007 e premiado com disco de ouro pelas 40 mil unidades comercializadas.
A estreia da tour se deu no sábado (11) e domingo (12), com dois shows no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre — cidade natal de Gessinger. Assumindo vocais, violão, piano, viola caipira e bandolim, o artista de 61 anos é acompanhado por Felipe Rotta no violão, Fernando Peters no baixo, Paulinho Goulart no acordeon e Rafael Bisogno na bateria.
De acordo com o Setlist.fm, o repertório executado em ambas as noites foi o seguinte:
- O papa é pop
- Até o fim
- No meio de tudo, você
- Dom Quixote
- Pose/Fevereiro 13
- Quebra-cabeça
- Toda forma de poder
- Guantánamo
- A montanha
- 3ª do plural
- De fé
- Simples de coração
- Piano bar
- Somos quem podemos ser
- Novos horizontes
- Outras freqüências
- O preço
- Eu que não amo você
- Vertical
- 3x4 (trecho de Oh Yoko)
- Vida real
- Armas químicas e poemas
- Era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones
Bis:
- Refrão de bolero
- Pra ser sincero
- Infinita Highway / A revolta dos dândis I
Vídeos registrados por fãs e pela produtora Opinião podem ser conferidos a seguir.
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Também durante entrevista a Carlos Redel para a GZH, Humberto Gessinger revelou que pretende seguir com esta turnê por todo o ano — e apresentar duas músicas inéditas, a serem lançadas em breve. Uma delas, “Paraíbah”, é uma parceria com Chico César e será gravada durante viagem do artista para a Suécia, com intuito de visitar sua filha, Clara — que, inclusive, participa do Acústico MTV de 2004. A outra se chama “Sem Piada Nem Textão”. Ambas estarão em um novo álbum, que também deve sair em 2025.
“A gente vai seguir, no mínimo, o ano inteiro na estrada com esse show, tocando essas músicas (dos álbuns de 2004 e de 2007) em formato acústico. Mas, até serem lançadas, não vou tocar as duas músicas inéditas. Gosto que, para a primeira impressão da música inédita, o cara esteja no habitat dele, no rádio do carro ou no quarto ou com fone. Acho que show é um pouco para outra coisa. As pessoas não têm mais muito tempo e muita atenção. Então, tenho que me segurar para não correr mais do que a bola.”
Confira abaixo a agenda de shows de Humberto Gessinger para 2025:
- 17 e 18 de janeiro: Belo Horizonte (BeFly Hall)
- 24 e 25 de janeiro: Rio de Janeiro (Vivo Rio)
- 01 e 02 de fevereiro: São Paulo (Tokio Marine Hall)
- 07 de fevereiro: Balneário Camboriú (Music Park)
- 08 de fevereiro: Florianópolis (Floripa Rock)
- 15 de fevereiro: Juiz de Fora (Cine Theatro Central)
- 28 de março: Dourados (Salão de Eventos Unigran)
- 29 e 30 de março: Campo Grande (Ondara Palace)
- 05 de abril: Vitória (Praça do Papa)
- 11 de abril: Lages (CentroSerra)
- 12 de abril: Criciúma (Espaço Flor de Lis)
- 19 de abril: Toledo (Empório Santa Maria)
- 09 de maio: Goiânia (Goiânia Arena)
- 10 de maio: Brasília (Estádio Mané Garrincha)
- 16 de maio: São José dos Campos (Farma Conde Arena)
- 17 de maio: Santo André (Clube Atlético Aramaçan)
- 24 de maio: Araçatuba (Viveri Eventi)
- 21 de junho: Pirenópolis (Cavalhódromo)
- 16 de agosto: Salvador (Concha Acústica)
- 12 de setembro: Natal (Teatro Riachuelo)
- 13 de setembro: Fortaleza (Praça Verde)
- 19 de setembro: São Luís (Palazzo)
- 03 de outubro: Belém (Assembleia Paraense)
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