Rapper foi uma das grandes referências dos anos iniciais do estilo, mas se afastou progressivamente por não gostar de como os artistas atuais soam
Publicado em 28/03/2023, às 16h08
Como todo estilo musical popular, o hip hop sofreu várias modificações desde suas versões iniciais até os modelos seguidos na atualidade. Criado ainda na década de 1970, o gênero começou como parte de uma representação cultural afroamericana ainda maior, envolvendo também dança, moda e muito mais. Com a disseminação em âmbito mundial, ganhou outras características e ramificações.
De acordo com um dos grandes ícones do estilo, porém, as coisas começaram a se perder em determinado momento da história. O rapper e ator Ice-T, também conhecido pelo trabalho como vocalista da banda de heavy metal Body Count, falou sobre o tema de forma bastante sincera em entrevista à revista Variety.
Sem meias palavras, o artista cujo nome real é Tracy Lauren Marrow destacou que o hip hop começou a ficar “bobo” a partir da segunda metade dos anos 2000. Não por acaso, foi quando o estilo passou a ter grande influência da internet, com a chamada Blog Era - nome dado ao período em que blogs de maior audiência davam exposição a rappers independentes, de modo que eles conseguiam ficar famosos sem as grandes máquinas de gravadoras por trás.
Ice-T não cita diretamente esse período; trata-se apenas de uma coincidência temporal. Inicialmente, ele destacou: “O hip hop mudou. A música ficou boba para mim. Os garotos começaram a ficar estranhos. Tudo ficou de uma forma com a qual eu não estava confortável.”
A própria carreira musical do artista começou a sentir os efeitos dessa transição. Dono de trabalhos premiados com discos de ouro e platina dentro e fora dos Estados Unidos, Ice-T notou que, com o tempo, seus registros não conseguiam mais a repercussão de outros tempos.
Havia um ponto onde eu estava vendendo muitos discos, então esfriou. Senti isso de uma certa forma. Então eu percebi que o Public Enemy, Rakim, Big Daddy Kane e o Wu-Tang Clan também não estavam vendendo discos. Era uma mudança de paradigma.
E o que, no fim das contas, deixou o hip hop tão “bobo” para ele? Em sua visão, a “suavidade”. Tudo ficou mais leve, com um olhar mais pop e menos direcionado às questões que o hip hop costumava abordar.
Os garotos ficaram mais suaves e suavidade não é algo que sou capaz de dar ao público.
Não dá para dizer que Ice-T deixou de se tornar um rapper, já que isso não é algo que possa ser tirado de alguém. Contudo, a partir da segunda metade dos anos 2000, sua carreira solo deixou de ser prioridade. O último álbum lançado como artista solitário foi Gangsta Rap, de 2006.
A partir daí, os olhos se voltaram para o Body Count, banda que já existia desde 1990, entrou em hiato no ano de 2006, mas retornou em 2009. Três discos foram lançados desde a retomada e um quarto, Merciless, deve chegar ainda em 2023.
Paralelamente, Ice-T sempre teve sua carreira de ator, iniciada ainda na década de 1980. Um de seus papéis mais famosos é como o detetive/sargento Odafin Tutuola na série Law & Order: Special Victims Unit(SVU).
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.