Jão detalha relação com fãs, entre a "segunda família" e os limites cruzados: "As vezes assusta"
Do alto do melhor momento da carreira até então, o cantor, que é capa digital da Rolling Stone Brasil, sobre como a relação com os fãs evoluiu diante de uma das maiores turnês de 2022
Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 08/09/2022, às 18h18
Acontece com alguma frequência: Jão mal termina "Vou Morrer Sozinho", poucas músicas show adentro, e uma fã é retirada da plateia em emoção catatônica. A cena se repete pouco depois, em "Me Beija com Raiva". E de novo em "Ainda Te Amo" e em "A Última Noite". Antes que ele faça chover no palco com "Olhos Vermelhos", e que encerre o set com "Idiota", mais de uma dezena de jovens fãs serão removidos da apresentação, em uma espécie de êxtase catártico.
A cena toda lembra um longínquo 1964, quando os Beatles enlouqueciam tantas jovens em sua primeira turnê pelos Estados Unidos. Mas não estamos em 1964. No Brasil de 2022, é uma só voz que mobiliza milhares de fãs pelo país, com letras francas e românticas, e uma atitude de dândi, que hoje começa a se reconhecer melhor como centro do sucesso que movimenta.
"Eu sou uma pessoa que geralmente não se diverte no processo", entrega Jão. "Tenho um problema em estar centrado no momento, em perceber as coisas dando certo e estar feliz. Não processo muito bem. Dessa vez tô fazendo isso como exercício e conseguindo".
Motivos para ficar feliz não faltam: com 31 dos 39 shows de sua turnê Pirataesgotados, Jão é hoje headliner por onde passa. Seu show no Lollapalooza foi um dos mais memoráveis - talvez pelo imenso polvo azul com quem dividiu o palco, é verdade. Para o Rock in Rio, onde se apresenta nesta sexta (9), ele promete emocionar com uma homenagem especial ao cantor Cazuza, uma de suas maiores inspirações e dono de um dos shows mais icônicos da história do festival (mais sobre Jão no Rock in Rio abaixo).
"Fomos muito além do que eu esperava com a turnê Pirata, então agora eu tô me divertindo."
"Ir além", nesse caso, compreende também o sucesso financeiro de sua produtora, a U.F.O., avaliado em R$ 36 milhões pela Forbes em maio deste ano - e a popularidade entre diferentes públicos, que ele reúne a cada apresentação, maior ou menor, de sua turnê.
"Eu tô indo muito mais pro interior agora. A gente foi pra uma cidade de 40 mil pessoas e tinham 20 mil pessoas no show", diz.
Parte disso, é claro, vem de um modelo de contato com os fãs que já começou diferente, valendo-se do algoritmo das redes lá no início da carreira, em 2017, quando ainda dedicava-se a gravar covers de artistas de diferentes gêneros - de Beyoncé a Maiara e Maraísa. Hoje, seus números incluem mais de 2 milhões de ouvintes nas plataformas digitais e cerca de 3 milhões de seguidores nas redes.
O segredo, para Jão, é fazer uma música que "converse com todos". "Odeio o elitismo musical. Sempre achei que o tipo de música mais legal é o que conversa com todo mundo."
No limite da fama
Conversar com todo mundo, é claro, tem também suas consequências. Para além da já batida atenção à sua sexualidade ("acho que tem que existir um limite"), Jão lida com a responsabilidade de refletir com sua obra em um grupo majoritariamente jovem, a Geração Z.
"Foi algo não intencional, algo que aconteceu. Não sei se sou um ícone [risos], mas sou um nome para eles."
Para além dos desmaios da plateia, ele vê o impacto de suas ações entre os jovens fãs e seguidores, o que teria lhe despertado o que define como um "senso de responsabilidade".
Conhecido por uma relação aberta com os fãs, ele narrrou abertamente um momento de tensão recentemente, quando sua equipe percebeu que a van com a banda estava sendo perseguida por um carro. "Algumas vezes fico um pouco assustado."
Segundo ele, somam-se ainda mais exemplos do assédio: "Tem uma pessoa que se mudou para o meu prédio e ficava me filmando da janela. Acho que isso não é saudável. Mas eu tenho um diálogo bom com eles, ainda que obviamente eu não consiga controlar esse tipo de ação."
"Quando comecei a fazer música, eu só queria fazer música. Não tinha nenhuma outra pretensão - talvez isso seja inocente para alguém que quer fazer música", admite. Confrontado com a realidade de tornar-se um dos maiores nomes da música em 2022, ele revela essa é uma área em desenvolvimento e que ainda está longe de ser resolvida - interna e externamente. No momento, resta apenas o cuidado com essa, que é sua principal relação hoje em dia.
"A maioria das pessoas que me acompanha, acompanha por tudo: pela letra, pela forma como eu penso ou falo, e isso pra mim é um pouco assustador - não é algo que eu saiba lidar 100% ainda. Não esperava. Mas é algo que eu gosto também. Eles são minha segunda família. Às vezes passo mais tempo com eles do que com minha família."
Atração do palco Sunset nesta sexta (9), Jão revelou em primeira mão para a Rolling Stone Brasil os detalhes de sua apresentação - que terá mudanças sensíveis em relação ao show da turnê Pirata.
A diferença principal será uma homenagem a Cazuza, com uma orquestra de mais de 20 músicos, ele interpretará alguns dos sucessos do artista com arranjos exclusivamente criados para o festival.
Fotos: Gabriela Schmidt Assistentes de foto: Renato Toso, Bia Garbieri Styling: Pedro Sales Diração Criativa: Pedro Tófani Assistente de Styling: Luiz Fernando Freiberger Arte: Felipe Fiuza Texto: Eduardo do Valle Assessoria: Melina Tavares Comunicação Agradecimento: Galpão 8
Este site utiliza cookies e outras tecnologias para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita as condições de nossa Política de Privacidade