Lendário guitarrista do Led Zeppelin completa 80 anos nesta terça-feira (9); para celebrar, resgatamos trecho de livro que detalha a relação de carinho pelo Brasil
Jimmy Page completa 80 anos nesta terça-feira (9). O lendário guitarrista britânico é reconhecido como um dos mais influentes de todos os tempos, além de um dos mais importantes compositores do rock. Terceiro lugar na lista dos 250 guitarristas mais influentes de todos os tempos da Rolling Stone US, ele chegou a tocar com The Who, The Kinks, Donovan e Marianne Faithfull, antes mesmo de estourar à frente do Led Zeppelin ao lado de Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham.
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Seu impacto, celebrado para além de sucessos como "Achilles Last Stand", "Kashmir" e "No Quarter", lhe rendeu prêmios como o Grammy, além de honrarias como a Excelentíssima Ordem do Império Britânico, o primeiro prêmio global de paz da ONU e o Hall da Fama do Rock - duas vezes (!). Mas, dentre todos os reconhecimentos, existe um que aponta para uma boa (e inusitada) relação do músico com o Brasil: Jimmy Page é Cidadão Honorário do Rio de Janeiro.
"A relação de Page com o Brasil é antiga", escreve Leandro Souto Maior, autor do livro Jimmy Page no Brasil (Garota FM Books, 2021). Segundo ele, o músico soma temporadas na Bahia, além da abertura de uma Casa Jimmy para abrigar jovens sem lar na capital carioca - ação que ultimamente lhe rendeu o reconhecimento oficial do Rio de Janeiro.
"Jimmy Page ama o Brasil e especialmente o Rio de Janeiro. Durante as entrevistas para promover novos lançamentos do Led Zeppelin, em 2003, ele avisa à sua gravadora que faz questão de falar com os jornalistas do Rio, e que seu colega de grupo, o cantor Robert Plant, converse com os outros jornalistas", diz Souto Maior.
Para além das "ótimas lembranças do Rio", como descreveu o próprio Jimmy certa vez sobre sua relação com o Brasil, o livro de Leandro esmiuça outras passagens do guitarrista por aqui - incluindo suas famigeradas férias de 1979, suposto início ao contato de mais de três décadas com o país, que incluiria amizades com Rita Lee e Margareth Menezes, além de três casas em Lençóis, na Bahia, e inúmeros causos.
Confira abaixo um trecho de Jimmy Page no Brasil, de Leandro Souto Maior.
Em agosto de 1979 o Led Zeppelin faz dois grandes shows em Knebworth, nos arredores de Londres, e logo depois lança ‘In through the out door’. O novo disco traz ‘All my love’, balada romântica distante do típico som pesado da banda e que vira hit nas FMs brasileiras. Parceria de Robert Plant e John Paul Jones, a canção curiosamente é uma das raras do grupo sem a assinatura de Jimmy Page. Já a música ‘Fool in the rain’, de Page, Plant e Jones, no meio vira um negócio carnavalesco, um tipo de samba que o Led Zeppelin tenta emular com direito a timbales e agogô tocados por John Bonham.
O flerte com ritmos latinos se dá durante a Copa do Mundo na Argentina em 1978. Na época, a popularidade de Pelé e do futebol brasileiro é enorme. Plant, que adora futebol e é um famoso torcedor do Wolverhampton Wanderers (time de segunda divisão da Inglaterra), vê os jogos pela televisão, incluindo os do Brasil, e se amarra na batucada: daí vem também a ideia do apito na música. Em maio de 1980, nos ensaios para uma turnê pela Europa no Victoria Theater, em Londres, Plant aparece vestindo uma camisa amarela escrito “Brasil”. Jimmy Page também gosta de futebol, é fã da seleção brasileira e torce para o Chelsea da Inglaterra.
Dois meses depois, um jovem fotógrafo colega do guitarrista morre de overdose em sua casa. Na sequência, Page é o único integrante da banda que não comparece para receber vários prêmios, incluindo Melhor Disco do Ano, em uma cerimônia do jornal inglês especializado em música Melody Maker. O que se fala é que ele está de férias em Barbados, no Caribe.
É no embalo desses acontecimentos que Jimmy finalmente chega ao Brasil, no Rio de Janeiro, no final de 1979, passando por aqui o Ano Novo e ficando até o início de 1980. Ele vem acompanhado da esposa, a modelo francesa Charlotte Martin, e da filha deles Scarlet, então com nove anos.
A cantora e compositora Rita Lee, em sua autobiografia lançada em 2016, escreve que encontra Jimmy Page na Bahia em 1972 e dá a ele um violão brasileiro chamado craviola. É verdade que as recordações são difíceis, um período de muito rock and roll... “...mas eu não me lembro de termos ido ao Brasil antes desta nossa viagem de 1979”, rememora Charlotte Martin em 2019, 40 anos depois*.
*Nota do autor: Pela pesquisa para este livro, esta é a primeira visita de Jimmy Page ao Brasil, em 1979. É possível que ele tenha vindo em 1972, mas provavelmente teria dito isso em uma entrevista em algum momento.
O trecho acima é uma reprodução do livro Jimmy Page no Brasil, de Leandro Souto Maior, feita com autorização do autor.