Em entrevista à Rolling Stone Brasil, cantor fala sobre acúmulo de funções e dificuldades da carreira independente
Celebrando 20 anos de carreira, o cantor pernambucano Johnny Hooker (35) escolheu Marília Mendonça (1995-2021) para guiar seu novo trabalho. Em conversa com a Rolling Stone Brasil, ele conta a origem do Clube da Sofrência como homenagem à artista e também revela os desafios da trajetória independente que vem trilhando no mercado musical.
Hooker diz que já pensava em fazer um show tributo, e quando o nome de Marília Mendonça surgiu, viu que ela seria a pessoa certa, tanto pela quebra de padrões que a artista representou em vida, quanto por sua obra musical. O pernambucano afirma que, durante a montagem das apresentações, percebeu que suas músicas eram “como irmãs”.
Apesar da satisfação em prestar a homenagem, o artista afirma que sua carreira independente não foi fácil.
"Infelizmente o agro engoliu o mercado da música por inteiro, mais de 80%. Acredito que isso seja irreversível. Para a gente só resta continuar fazendo nosso trabalho de formiguinha à margem desse projeto de poder."
O cantor, que completa 20 anos de seu primeiro show em 2023, ainda conta que seu trabalho foi construído de forma orgânica "sem incentivo de empresa [ou] do mercado publicitário totalmente corrompido pelos números das redes sociais". Hoje, ele diz ter conquistado uma comunidade de fãs que costumam esgotar as datas de seus shows.
Hooker acrescenta que, mesmo com os fãs e a agenda de shows, ainda há um acúmulo de funções como artista. Para ele, além de produzir a própria arte e escrever suas músicas, ainda é necessário ser blogueiro e influenciador digital.
"Dizem que essa é a receita. Então eu estou seguindo os passos, afinal artistas também precisam pagar as contas."
Para o futuro, o artista pretende continuar equilibrando os pratos para celebrar os 20 anos e diz que também pensa em lançar um novo single, ainda neste ano. A turnê em homenagem à rainha da sofrência ainda tem shows até o mês de setembro, se misturando a shows especiais e eventos fechados. "Estamos trabalhando nisso, vamos ver se o dinheiro dá."
Abaixo, Johnny Hooker dá mais detalhes sobre a ligação com Marília Mendonça, o início de sua carreira e a relação com as redes sociais. Confira trechos editados da entrevista à Rolling Stone Brasil.
Rolling Stone Brasil: Como surgiu a ideia da turnê Clube da Sofrência?
Johnny Hooker: Há algum tempo já queríamos fazer um show tributo, pois nunca tinha feito, e quando surgiu o nome de Marilia [Mendonça] me pareceu perfeito. Somos contemporâneos, tínhamos nos conhecido e trocado admiração por nossos trabalhos. Ela chegou a gravar um vídeo cantando uma música minha. Já suspeitava que nossas obras conversavam bastante, mas durante a montagem do show me impressiona o quanto nos termos da canção popular acho que nossas obras são irmãs em muitos aspectos.
Rolling Stone Brasil: Você é de Marília Mendonça e sertanejo?
Johnny Hooker: Sou fã de Marília, ainda mais depois de conhecer mais a fundo sua obra. Ela foi o que chegou mais perto de alguma representatividade "fora do padrão" exigido no mercado onde se estabeleceu, trazendo um novo sertanejo, seja pela temática das letras, por não ter um corpo de barbie, pelo posicionamento político que ela teve. Infelizmente o agro engoliu o mercado da música por inteiro. Mais de 80%. Acredito que isso seja irreversível. Pra gente só resta continuar fazendo nosso trabalho de formiguinha a margem desse projeto de poder.
Rolling Stone Brasil: Como começou seu interesse pela arte e a sua carreira musical?
Johnny Hooker: Não lembro da minha vida sem ser por intermédio das múltiplas expressões artísticas. Meus país são fotógrafos e cineastas, então de primeira foi o cinema, que me arrebatou totalmente. Minha infância foi vivendo paralelamente no mundo da imaginação cinematográfica, principalmente da Era de Ouro de Hollywood. Era fanático por Elizabeth Taylor. Depois a música se apresentou e foi onde eu consegui elaborar melhor e construir minha carreira que esse ano completou 20 anos.
Rolling Stone Brasil: Você é bastante ativo nas suas redes sociais. Qual a sua relação com elas?
Johnny Hooker: Hoje em dia um artista não vive apenas de seu trabalho, precisa acumular funções: produzir sua arte, escrever suas músicas, e ainda ser blogueiro e influenciador digital, dizem que essa é a receita e se você não estiver acompanhando fica para trás. Então eu estou seguindo os passos que disseram que era pra seguir, afinal de contas artistas também precisam pagar as contas.
Rolling Stone Brasil: Vi em seu Instagram que você faz vídeos mostrando os bastidores de algumas de suas produções. Qual a importância disso?
Johnny Hooker: As pessoas gostam de ver os bastidores, são curiosas a respeito de como funciona a engrenagem de tudo, então tento entregar isso a elas. Gostaria de ser mais assíduo, por enquanto é um trabalho de formiguinha.