HEAVY METAL

Jon Oliva celebra reunião do Savatage e explica ausência [ENTREVISTA]

Banda americana será uma das atrações do Monsters of Rock no Brasil, realizando aqui sua primeira apresentação em uma década

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 28/01/2025, às 14h36
Jon Oliva (esq.) e a formação atual do Savatage - Fotos: divulgação
Jon Oliva (esq.) e a formação atual do Savatage - Fotos: divulgação

Em meio às atrações do Monsters of Rock Brasil 2025, que acontece em São Paulo (Allianz Parque) no dia 19 de abril, surpreendeu a presença de uma atração que não é uma das headliners, mas desperta enorme interesse. Trata-se do Savatage, banda que não se apresentava ao vivo desde 2015 e não fazia turnês desde 2002.

A presença do grupo americano de heavy/progressive metal no evento — que terá ainda Scorpions, Judas Priest, Europe, Opeth, Queensrÿche e Stratovarius — foi a primeira atividade anunciada deste retorno. Eles também estão confirmados em um evento similar no Chile e, neste caso em junho, uma série de apresentações na Europa, entre festivais e compromissos solo.

Existe ainda uma especulação de que o Savatage fará uma apresentação à parte no Espaço Unimed, também em São Paulo, dois dias depois. A própria banda havia anunciado esta informação, mas depois voltou atrás — e ainda não há confirmação oficial.

Fato é que os fãs no Brasil poderão assistir a Zak Stevens (voz), Johnny Lee Middleton (baixo), Chris Caffery (guitarra), Al Pitrelli (guitarra) e Jeff Plate (bateria), além de um tecladista a ser escolhido. Infelizmente, o vocalista, tecladista e líder Jon Oliva não estará presente. Porém, seu envolvimento continua.

Único membro fundador ainda vivo — já que seu irmão, o guitarrista Criss Oliva, faleceu em 1993 —, o músico de 64 anos tem lidado com uma série de problemas de saúde. Em 2023, sofreu um acidente que lhe causou uma fratura em três regiões da vértebra T7. Nos últimos tempos, também foi diagnosticado com esclerose múltipla (doença crônica em que o sistema imunológico destrói a cobertura protetora de nervos) e doença de meniére (distúrbio no ouvido interno que causa episódios de vertigem).

Em entrevista coletiva realizada por Zoom, com apenas a Rolling Stone Brasil representando o país, Oliva — que não apareceu em vídeo, somente em áudio — reforçou várias vezes a fratura como impeditivo para sua presença na tour. Disse estar se locomovendo em cadeira de rodas, revelou que não consegue sequer cantar atualmente devido às dores que sente e destacou que precisa aguardar a cura natural de sua vértebra, pois optou por não fazer cirurgia. “Queriam colocar coisas de metal no meu corpo, mas pessoas com quem eu conversei falaram para não fazer isso, pois eu me arrependeria”, explicou.

O líder, porém, garantiu estar envolvido com este novo capítulo do Savatage. Ficou a cargo de definir o repertório — que terá cerca de 26 músicas em sua versão mais longa — e afirmou que estará em todos os ensaios. Ele chegou a revelar algumas músicas que devem ser tocadas:

“Também iremos adicionar algumas surpresas, não posso revelar. Mas estou bem envolvido. Eu não estaria fazendo isso aqui [entrevista] se não estivesse envolvido. Escolhi algumas mais antigas, como ‘Sirens’, ‘Gutter Ballet’, ‘Edge of Thorns’, ‘Jesus Saves’, ‘Believe’, ‘Hall of the Mountain King’, músicas que sinto que precisamos tocar. E muitas coisas de Handful of Rain (álbum de 1994, primeiro desde a morte de Criss Oliva) em diante. Misturei o quanto pude. O tempo passa rápido e as pessoas não percebem o quão rápido um show é. Quero que as pessoas ouçam também as músicas mais obscuras, como ‘Morphine Child’, ‘Miles Away’, ‘Follow Me’, ‘Damien’, ‘Dead Winter Dead’, ‘This is the Time’, ‘The Wake of Magellan’, ‘The Hourglass’, ‘Chance’. Os ensaios serão terríveis para esses caras — estarei em cima deles. [Risos]”

Oliva também destacou que a turnê de 2025 estava em discussão há alguns anos, antes mesmo do acidente sofrido em 2023. A ideia, claro, era que o vocalista e tecladista participasse. Porém, ele incentivou a manutenção do planejamento sem a sua presença. Os motivos são nobres.

“Os fãs do Savatage esperaram por tanto tempo e são fãs tão leais. E esses caras [os músicos] esperaram 20 anos para tocar. Então que façam, tudo bem, não me importo. Só quero dar aos fãs algo para mostrar a eles que ainda estamos unidos, que tudo está bem e que estamos trabalhando em um novo material.”

O retorno, aliás, deveria ter acontecido antes. Em 2015, o Savatage realizou uma apresentação no festival alemão Wacken Open Air. Porém, uma perda ocorrida no ano seguinte fez a ideia ser descartada: Paul O’Neill, produtor e letrista do grupo, faleceu em abril de 2017, aos 61 anos. Jon e ele formaram juntos o Trans-Siberian Orchestra, projeto de sonoridade mais sinfônica que se tornou um fenômeno de popularidade — muito maior do que a banda principal.

“Quando Criss faleceu [em 1993], isso simplesmente interrompeu qualquer progresso. Pensávamos no que iríamos fazer. [Quando Paul faleceu em 2017] Não consegui lidar com tudo isso na época. Estávamos no embalo e simplesmente saímos de cena. Coisas estranhas acontecem quando você perde alguém tão próximo. Foi um período muito difícil, assim como quando Criss faleceu. Mas a vida continua e espero que, agora, possamos fazer um novo álbum juntos, os caras façam os shows e aí vemos o que vai acontecer. Estou ansioso.”
Savatage em 1990. No sentido horário a partir do canto superior esquerdo: Johnny Lee Middleton, Jon Oliva, Chris Caffery, Criss Oliva e Steve Wacholz
Savatage em 1990. No sentido horário a partir do canto superior esquerdo: Johnny Lee Middleton, Jon Oliva, Chris Caffery, Criss Oliva e Steve Wacholz - Foto: Paul Natkin / Getty Images

Relação com o Brasil

Surpreende, inclusive, que o Brasil tenha sido escolhido para dar início à turnê. Não é algo comum por parte de artistas internacionais. No entanto, de acordo com Jon Oliva, este sempre foi o plano — tendo em vista a grande popularidade da banda por aqui, como testemunhado durante visitas em 1998 (incluindo uma performance no Monsters of Rock daquele ano) e 2001.

“Bem, [começaremos no Brasil porque] vocês nos ofereceram mais dinheiro. [Risos] Estou brincando. Me diverti muito no Brasil. Antes de me machucar, eu falava: ‘se vamos fazer isso, vamos começar ao Brasil’. Falava disso dois anos atrás. Quando decidimos fazer isso, acho que nosso escritório contatou o Monsters of Rock, ou eles nos contataram. Essa parte não é comigo, meu trabalho é a música e definir que isso será um show matador. Mas fico feliz por começarmos no Brasil — apesar da questão de dinheiro. [Risos]”

O festival de 27 anos atrás recebeu uma menção à parte por Jon. Na ocasião, o Savatage dividiu o palco com Slayer, Megadeth, Manowar, Dream Theater, Saxon, Glenn Hughes, Korzus e Dorsal Atlântica.

“Um de meus shows favoritos foi no Monsters of Rock no Brasil. Ainda me lembro do show e eu achei que o lugar iria desabar, por conta das pessoas pulando. Cheguei a ver a parte superior do estádio se movendo. Al chegou a dizer: ‘vamos acabar destruindo esse lugar, como vamos sair daqui?’. Falei: ‘corra como se sua vida dependesse disso’. [Risos]”

Ausência da turnê

Mesmo que toda a acessibilidade fosse garantida logisticamente para Jon Oliva, não seria possível a sua participação na turnê do Savatage. O músico disse que, atualmente, sequer consegue cantar.

“Fica doloroso. Meu estilo de cantar é apoiado no belting, eu canto muito alto. E dói muito. Jurei para mim que não iria subir no palco estando apenas 50%. Não estou feliz com isso, mas os fãs significam mais para mim do que qualquer coisa. Não sou do tipo: ‘se eu não puder ir, ninguém vai’.”

A fratura na vértebra, aliás, foi mencionada na maior parte das respostas. Não houve qualquer disfarce à sua frustração por sua condição atual não permitir a presença nos palcos.

“Preciso esperar que essas fraturas se curem, pois eu não queria fazer cirurgia. Eles queriam colocar coisas de metal no meu corpo, mas pessoas com quem eu conversei falaram para não fazer isso, pois eu me arrependeria. De toda forma, não posso fazer nada, estou em casa. É muito frustrante. Não consigo descrever. É muito decepcionante. Mas é a situação que tenho. Não aconselho ninguém a quebrar a coluna. É a maior dor que senti em toda a minha vida. Apenas preciso esperar curar e se seguir o planejamento para começar a fisioterapia, farei.”

Novo álbum e Trans-Siberian Orchestra

Além dos shows, o Savatage pretende gravar um novo álbum. O título provisório seria Curtain Call, dada a intenção de transformá-lo no último disco da história do grupo, mas isso não acontecerá. A explicação reside no fato de Jon Oliva ter composto muito material — e não estar disposto a jogar nada fora.

“Temos material para quatro álbuns. Só as letras não estão escritas, mas musicalmente está feito. E é culpa minha que tudo tenha parado, por conta das fraturas. [...]Eu falei [em outra entrevista] que este deve ser o último, mas agora não tenho certeza. Eu tenho esse material todo. Vou fazer o quê? Lançar um álbum quádruplo? Não acho que será o último.”

De toda forma, Jon ainda divide atenções com sua recuperação e com o Trans-Siberian Orchestra, que segue ativo e realizando apresentações para dezenas de milhares de pessoas na América do Norte. Com a morte de Paul O’Neill, coube ao vocalista e tecladista capitanear o projeto.

“Paul era meu melhor amigo no mundo e Criss era meu irmão. Eram meus parceiros. E eu perdi ambos. Isso teve seu efeito em mim. Foi muito difícil para continuar. Precisei manter o Trans-Siberian Orchestra seguindo. Eu me mantive mais envolvido nisso nos últimos anos do que quando Paul estava vivo. O Trans-Siberian Orchestra é uma grande organização, com 300 pessoas envolvidas, meus cabelos estão ficando grisalhos rapidamente. [Risos]”

Curiosamente, os fãs de TSO vêm lembrando Oliva sobre o Savatage. Mesmo com o enorme sucesso da banda formada em 1996, não seria ideal descartar o grupo onde tudo começou, em 1979.

“Saí em minha cadeira de rodas com um motorista para me levar para alguns shows do Trans-Siberian Orchestra. Neles, muita gente estava com camisetas do Savatage. Pessoas iam até a mesa de som, onde eu estava, e pediam autógrafos. Os fãs de TSO enfim entenderam que o TSO não existiria sem Savatage. O Savatage começou o TSO. É legal que as pessoas tenham percebido isso, voltando para ouvir os álbuns do Savatage e percebendo enfim que é uma família só.”

Serviço — Monsters of Rock 2025

*O Savatage é uma das atrações da edição 2025 do Monsters of Rock Brasil, que acontece no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 19 de abril. Scorpions, Judas Priest, Europe, Opeth, Queensrÿche e Stratovarius completam a programação. Ingressos estão à venda na Eventim.

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