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Journey, a banda que tem músicos tocando juntos enquanto se processam

Neal Schon e Jonathan Cain trocam acusações na justiça por uso de cartão corporativo; guitarrista também notificou tecladista extrajudicialmente por tocar músicas do grupo em comícios de Donald Trump

Igor Miranda
por Igor Miranda

Publicado em 12/01/2023, às 18h51

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Journey (Foto: Ethan Miller/Getty Images)
Journey (Foto: Ethan Miller/Getty Images)

Imagine fazer parte de uma banda com uma pessoa que está te processando. Parece impossível, mas isso acontece nesse momento com o Journey, um dos maiores grupos americanos de rock, com mais de 100 milhões de discos vendidos mundialmente e hits do porte de “Don’t Stop Believin’” e “Separate Ways (Worlds Apart)”.

Em novembro, foi revelado que o guitarrista Neal Schonmoveu um processo contra o tecladista Jonathan Cain. Schon é fundador da banda; Cain entrou em 1980, mas adquiriu função de sócio ao lado do colega. A ação está relacionada ao uso de um cartão de crédito da American Express pela empresa responsável por gerir as finanças do grupo, a Nomota.

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No processo, Neal acusa Jonathan de usar o cartão para realizar movimentações sem seu conhecimento e impedir o acesso do guitarrista a tais dados. Ele também afirma que o tecladista bloqueia o pagamento de músicos e funcionários em geral da banda.

Em nota à imprensa, Jonathan Cain negou as acusações feitas por Neal Schon e disse que o guitarrista quer apenas aumentar seus próprios limites de gastos, pois teria um “estilo de vida extravagante”. O tecladista alega que medidas foram tomadas para frear as despesas do colega, já que este não aceitava orientações de contadores e outros especialistas em finanças.

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O advogado de Jonathan, Alan Gutman, afirma que “preliminarmente parece haver uma cobrança de mais de US$ 1 milhão em despesas pessoais impróprias” no cartão corporativo do Journey. O profissional declarou que os “gastos imprudentes” teriam sido feitos por Neal.

Segunda treta, agora envolvendo Trump

Em dezembro, advogados de Neal Schon enviaram formalmente uma notificação extrajudicial para que Jonathan Cain pare de tocar a música “Don’t Stop Believin’” em comícios do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Cain é casado com a pastora Paula White, citada como uma espécie de conselheira espiritual do político e empresário. Jonathan também tem carreira na música cristã e se envolve em eventos de cunho religioso.

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Ainda que uma notificação extrajudicial não seja uma ação de fato - apenas uma tentativa de resolver a situação sem recorrer à justiça -, é uma forma oficial de garantir que o notificado tomou conhecimento de uma reclamação. Desse modo, muitas vezes é o último passo antes de ingressar no judiciário.

Na notificação, Schon deixa claro que Cain é livre para expressar suas opiniões, mas não pode fazê-lo em nome do Journey, pois “polariza os fãs e o alcance” do trabalho da banda. O guitarrista reuniu provas de que a associação do tecladista a um político gerou discussões diversas nas redes sociais.

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Em resposta, um representante de Jonathan declarou que Neal está “frustrado” por suas derrotas no tribunal e “alegou falsamente” o uso da música em comícios. Pelas redes, o guitarrista negou estar perdendo na justiça e garantiu ter vencido uma das ações, enquanto a outra não havia sido julgada até então.

Climinha gostoso no Journey

Por incrível que pareça, o Journey não parou com toda essa confusão. Embora não estivesse em turnê, a banda manteve o núcleo de sua formação - nem Neal Schon, nem Jonathan Cain saíram. O grupo ainda lançou um álbum ao vivo, “Live in Concert at Lollapalooza”, em dezembro de 2022. O material foi gravado durante um show no Lollapalooza Chicago em 2021. Meses antes de toda essa confusão, em julho de 2022, eles divulgaram “Freedom”, primeiro trabalho de inéditas em mais de uma década.

O retorno do Journey aos palcos está marcado para o fim deste mês, com dois shows em um cassino de Durant, nos Estados Unidos. Em fevereiro, a banda passa por outras cidades do território americano em um giro ao lado do Toto - as duas bandas excursionaram juntas ao longo do ano passado e em entrevista a IgorMiranda, Schon disse que os grupos passarão pelo Brasil em breve.

As apresentações estão sendo anunciadas como parte das celebrações de 50 anos do Journey. Pelas mídias sociais, Neal tem sugerido que o tecladista original do grupo, Gregg Rollie, irá participar dos eventos - o que fez muita gente cogitar que Jonathan não estaria mais na formação. Porém, em postagem recente também nas suas contas de redes, Cain declarou que estará em turnê com o grupo ao longo de 2023.

Histórico de processos

A história recente do Journey é marcada por ações judiciais. Em março de 2020, o baixista Ross Valory e o baterista Steve Smith foram expulsos da banda e processados sob acusação de golpe corporativo. De acordo com Neal Schon e Jonathan Cain, os agora ex-integrantes estavam tramando para obter controle da Nightmare Productions, uma das empresas que faz a gestão da banda. Não houve atualização pública sobre o caso e os músicos retirados do grupo não se manifestaram.

Já em setembro de 2022, o ex-vocalista Steve Perry, que seguiu como sócio mesmo tendo saído do Journey em 1998, processou Schon e Cain sob acusação de terem registrado direitos sobre 20 músicas da banda, sem seu conhecimento, para que fossem usadas em itens de merchandising. Em janeiro deste ano, Nealconfirmou que Steve desistiu da ação e a retirou.

Igor Miranda

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.