Judeline fala à RS sobre show no Brasil, parceria com Tainy e colaboração com artistas brasileiros
Cantora espanhola de 22 anos se apresenta no Parque Ibirapuera neste domingo ao lado de Weezer e Bloc Party
Daniela Swidrak (@newtango)
A chegada de Judeline ao Brasil neste domingo, 2 de novembro, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, marca um momento especial na trajetória da jovem artista espanhola. Aos 22 anos, ela integra o lineup do festival da ÍNDIGO, projeto da 30e que reúne nomes como Weezer, Bloc Party e Mogwai, e traz consigo uma proposta musical que desafia categorizações fáceis. Com influências de flamenco, laços venezuelanos de seu pai andaluz e sons árabes, Judeline constrói uma identidade sonora que transita entre o familiar e o experimental.
Em conversa exclusiva, Lara — como prefere ser chamada — revelou-se uma artista inquieta, que admira quem consegue incomodar com sua música. “Eu vejo que abuso do autotune, que não é do gosto de muita gente, e faço experimentos com muitos gêneros”, diz, com a franqueza de quem continua descobrindo até onde pode ir. Mas há um equilíbrio consciente nessa equação. “No final, é uma música que é um pouco fácil para o ouvido. Eu acho que uma senhora muito mais velha pode gostar, ou um adolescente, ou uma garota de 11 anos. E isso é o que eu gosto muito da música que eu faço”.
A confissão seguinte, porém, revela o impulso que move qualquer artista verdadeiramente criativo: “Mas eu gostaria de ser mais louca e, de repente, que ninguém goste da música; também pode ser divertido”. É essa tensão entre agradar e romper que faz de Judeline uma promessa interessante do indie pop atual.
Sua discografia ainda é enxuta — o EP de la cruz (2022) e o álbum de estreia Bodhiria (2024) —, mas já conquistou elogios de peso, incluindo de Anitta, Bad Bunny e ROSALÍA. O trabalho também abriu portas para que ela integrasse a turnê mundial de J Balvin. Agora, canções como “Heavenly”, “zarcillos de plata” e a parceria com o produtor porto-riquenho Tainy, “si preguntas por mi”, exploram um minimalismo estético que se traduz tanto nas letras poéticas quanto na presença visual marcante da cantora.
Quando questionada sobre seu processo criativo, Judeline é direta: nada de rituais românticos ou inspiração mística. “Eu gosto de escrever no estúdio, não conheço outro jeito; não é ir ao campo e subir numa árvore para me conectar com a raiz da árvore, que vai surgir uma letra”, brinca. Para ela, a criação é disciplina. “Eu gosto de ser mais disciplinada e ir ao estúdio ao máximo, me conectar com a música que estou escutando e passar horas ali”. Mesmo nos dias em que a inspiração não vem naturalmente, ela se força a estar presente.
Mas a música é apenas uma parte da história. Judeline se interessa profundamente pela construção visual de seu universo artístico. “Não sei, eu sou como… me imagino ser construtora, diretora criativa, ser pintora”, diz, comparando-se a um jogo da Nintendo onde é possível experimentar múltiplas profissões. “Amanhã eu estou pintando e desenhando o set de arte que eu quero para o meu próximo show. Por agora, eu estou fazendo a música. No dia seguinte, estou planejando o visual que eu poderia fazer para uma canção.”
Entre suas aspirações, Rick Owens aparece como uma obsessão particular. “Eu gostaria de fazer um tipo de módulo para ele. Eu gostaria de usar a minha cara para o que for. Gosto muito das coisas que ele faz, como as joias. Sou muito fã da visão do Rick Owens“, confessa. A lista de desejos também inclui trabalhar com a Chanel e outros grandes nomes da moda, sempre com a certeza de que essas colaborações virão. “Eu acho que eu vou ter a oportunidade de trabalhar com muitos deles no futuro. Ou é algo que manifesto, pelo menos.”
A experiência de tocar em festivais internacionais como o Coachella e de abrir shows para J Balvin trouxe lições valiosas. “É bonito também, porque quando uma já está acostumada a ter um público que a recebe com muito calor em sua terra natal, e já está em sua zona de conforto, de repente sai em um lugar onde ninguém a conhece e tem que voltar a começar de zero”, reflete. Para ela, essa alternância é estimulante. “Um dia eu tenho o público louco, que obviamente é o mais legal, e outro dia eu tenho quatro senhores suecos que não me conhecem de nada. Então, olha, que divertido, sabe?”
Sobre sua conexão com o Brasil, Judeline demonstra carinho especial. Além da colaboração com MC Morena, ela promete surpresas para o show no Ibirapuera. “Eu vou tentar fazer um show o mais lindo possível para o Brasil. E trazer coisas especiais, porque é um lugar tão inspirador.”
No domingo, o público brasileiro terá a chance de conhecer ao vivo essa artista que recusa rótulos fáceis, que transforma a criatividade em disciplina diária e que, entre o desejo de agradar a todos e a vontade de experimentar sem limites, constrói uma música que é, acima de tudo, honesta consigo mesma. Judeline chega ao Brasil como quem sabe que ainda tem muito caminho pela frente, e isso, para ela, é exatamente o que torna tudo tão divertido.

SERVIÇO
ÍNDIGO apresenta: Weezer, Bloc Party, Mogwai, Judeline, Otoboke Beaver
Quando: domingo, 02 de novembro de 2025, a partir das 13h
Onde: PARQUE IBIRAPUERA | Av. Pedro Álvares Cabral, s/n – Vila Mariana | 04094-050, São Paulo
Ingressos online: aqui
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