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Música / ENTREVISTA

Jup do Bairro não quer mais ser 'a representação da representatividade'

A multiartista paulistana lançou na última semana o EP in.corpo.ração, que da continuidade a narrativa iniciada em Corpo Sem Juízo

Jup do Bairro (Foto: Wallace Domingues)
Jup do Bairro (Foto: Wallace Domingues)

Jup do Bairro nos apresentou seu Corpo Sem Juízo (2020) há quatro anos. Agora, a multiartista paulistana retorna de um novo mergulho — ainda mais profundo — em si mesma com in.corpo.ração (2024), novo EP com cinco faixas, produzido por ela em parceria com o duo CyberKills.

O lançamento do projeto acontece via Natura Musical, edital para o qual a artista foi selecionada no ano de 2022. Em conversa com a Rolling Stone Brasil, Jup conta que assim como no EP anterior, sua conexão com o fazer artístico acontece de maneira "muito visceral." Para ela, esses trabalhos a chamaram para um exercício.

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Nesses quatro anos de intervalo entre um projeto e outro, a artista se envolveu em diversas parcerias e estava na estrada com a turnê de Corpo Sem Juízo — que lhe rendeu os prêmios de Artista Revelação nos prêmios Multishow e APCA, além da abertura da série de shows no Lollapalooza. Em meio a tantos acontecimentos, Jup escreveu o roteiro de um filme. 

Se chamaria Juízo Final e contaria a trajetória de uma personagem — nem de ficção, nem real — eu chamaria de uma 'fricção,' porque partiria da minha história, mas caminharia para outros lugares que eu gostaria de imaginar. 

O edital permitiu a fragmentação do projeto, que a artista classifica como "uma espécie de continuação de Corpo Sem Juízo. Lá eu estava me apresentando para o mundo da forma mais literal possível." O disco conta uma experimentação por diversos gêneros, do hip hop ao rock, passando pelo funk — com a ilustre participação de Deize Tigrona

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"Agora, com in.corpo.ração, eu acredito que é meu experimento mais experimental do que eu tenho consumido. É um disco que celebra muito a noite paulistana contemporânea, então as minhas referências vão muito mais de movimentos do que ritmos," explica. Nascida e criada no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, o funk é o ritmo que se faz mais presente ao longo do projeto.

Jup imprime nas faixas as sensações que tem quando vai ao baile da DZ7 ou quando vai à Mamba Negra. "É esse lugar com stereo muito presente," a ideia é fazer com que as pessoas ouçam e sintam. O EP se mostrou "um lugar de possibilidades," como classifica: "De melancolia, de fantástico, criação de imaginário e inimaginável. Tem um lugar até meio mitológico de como essa história se cria."

Foto: Wallace Domingues

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A artista não desistiu do filme. "Mais do que artista, acho que sou arteira. Gosto de desafios e entender novas possibilidades," explica. O encontro com o cinema, no entanto, foi um pouco frustrante. A criadora não imaginava que fazer um filme fosse tão caro.

Fazer música no Brasil já é caro. O acesso é muito limitado. Até para mim que acabo tendo uma notoriedade, acabo fazendo contatos e tudo mais. Mas existem recortes sociais que caminham com os artistas independente dos lugares que eles vão almejando.

Ela brinca que, ao se deparar com a possibilidade de fazer o filme, "só tinha uma pastinha e um sonho." Ela chegou a conversar com alguns diretores e produtoras e entendeu que, neste momento, o projeto terá que esperar. "Não deixarei esse samba morrer, mas vou precisar de um pouco mais de calma para entender como percorrer esse meu acesso ao cinema."

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Refletindo sobre o que mudou nesses quatro anos entre os EPs, Jup — que recorreu a um financiamento coletivo para a execução do primeiro disco — conta que "precisava acreditar em pessoas, mas que essas pessoas também acreditassem em mim." 

A artista teve uma trajetória com Linn da Quebrada e era constantemente cobrada sobre o lançamento de um trabalho solo. "Quando eu lancei, a minha proposta era que eu pudesse voar." Ali, ela apresentou o seu trabalho e levantou um questionamento: O que pode um corpo sem juízo?

Foto: Wallace Domingues

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"Com o novo disco, eu entendo o que pode um corpo sem juízo. Mas, infelizmente, é muito dolorido. Esse corpo pode muitas possibilidades, mas muitas deles fogem da sua mão," reflete. Nesses quatro anos que se passaram, Jup se enxerga muito menos inocente, entendendo o lugar em que opera, "sabendo que esse lugar pode ser estético, mas não pode ser estático."

Ela entende também que o lugar onde se encontra hoje, exige alguma malícia. Mas não quer abrir mão da doçura para fazer parte do jogo. "Hoje eu quero muito mais e não quero mais ser a representação da representatividade. É um peso muito grande."

Ao mesmo tempo que eu possa dar possibilidade de pessoas olharem e dizerem: 'A Jup tá lá, então eu consigo fazer também,' pode ser um bloqueador de acharem que a Jup está lá 'então posso ficar quietinha porque já tem alguém fazendo a  minha parte. Eu quero continuar a sonhar.

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Sintonia impecável

Jup assina a produção de in.corpo.ração com Gabriel e Rodrigo, que formam o duo Cyberkills. Eles se conheceram por volta de 2019. A artista conta que sempre namorava eles pelos sets que postavam no SounCloud. "Convidei eles para fazer um remix do meu primeiro single, 'Corpo Sem Juízo'."

"Nós temos gostos muito parecidos, apesar deles serem mais jovens do que eu," diz a artista. "Eles são meio nerds da alquimia da música eletrônica. Isso sempre me seduziu muito." Em 2023, Jup sugeriu a Pabllo Vittar que fizesse um disco de remix de Noitada (2023) e disse que queria participar.

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Ao ser questionada sobre a música em que entraria, Jup confessou que já estava pensando em "Descontrolada." "eu achava que seria muito legal dividir essa ponta com a MC Carol, tanto pela associação estética, que falam que somos parecidas e essa força de cantar gritando, seriam dois contrapontos com a Pabllo no meio."

A artista topou e quando o convite foi formalizado, Cyberkills já estava incluído no pacote. "No ano passado, eles dirigiram também comigo a direção musical da minha turnê Umbral e, desde então, tem rolado esse casamento." Para Jup, não havia outra possibilidade além dos meninos para a direção musical e produção — inicialmente eles fariam duas, mas acabaram envolvidos em todas as cinco.

Foto: Wallace Domingues

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Se somam também à Jup, os artistas Edgar e Mateus Fazeno Rock, que estão com ela na faixa "não vou mais chorar nem me lamentar." Os dois estão entre os favoritos da cantora, que conta que conhecia Edgar por terem amigos em comum. "Fomos criando vínculos e uma amizade, até que surgiu essa vontade de fazermos algo juntos."

Ela conheceu Mateus com o primeiro disco dele, Rolê nas Ruínas (2020), "um punk tropical que eu consumo muito," explica. Ela também fez parte do segundo álbum do cantor, Jesus Ñ Voltará (2024), na faixa que dá nome ao disco.

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Em in.corpo.ração, os três se unem em papéis de "clowns", "aponta para lugares com uma certa safadeza, uma malícia gostosa que te faz nem sentir dó desses três personagens," conta. A letra, apesar de pesada, ganha uma leveza com a melodia contrastante.

Mulher do Fim do Mundo 

O disco fecha com Jup entoando a canção "Mulher do Fim do Mundo," composição de Alice Coutinho e Romulo Fróes, eternizada na voz de Elza Soares. A escolha de trazer a música é "uma grande responsabilidade. Não só pelo peso cultural dela, mas pelo peso dela para mim.

A Elza é uma das grandes inspirações para que eu pudesse cantar, falar dos meus sentimentos e tivesse o reconhecimento do meu corpo preto e de falar das minhas dores e delícias enquanto arte.

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Jup queria incorporar uma letra que fizesse sentido para ela e essa foi a segunda regravação que fez na carreira. Ela relembra que gravou "Máscara," da Pitty, para uma campanha de dia das mulheres da Deezes. Mas essa é a primeira vez que algo que não foi escrito por ela entra em um projeto dela.

"Falei para minha equipe que queria regravar 'Mulher do Fim do Mundo,'" relembra animada. Ela conta também que essa foi a música mais difícil do EP, especialmente para encontrar o equilíbrio entre homenagem à Elza, mas que trouxesse também a identidade dela.

Foto: Wallace Domingues

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in.corpo.ração é o resultado de um trabalho honesto em que a artista se derrama para conquistar as pessoas pelo sentimento — sem deixar de lado tudo que há de atrativo no estético, importantíssimo para o trabalho dela, aliás. Jup segue sendo um refresco na cena musical do Brasil.

Jup do Bairro convida MU540 e Urias – Lançamento IN.CORPO.RAÇÃO

Data: 28.06 – sexta
Horário: Abertura da Casa: 20h30/ Show: 22h
Classificação: 16 anos
Casa Natura Musical: Rua Artur de Azevedo 2134 – Pinheiros, São Paulo
Ingressos: Sympla
INGRESSO GRATUITO PARA PESSOAS TRANS

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