Após 23 anos no Angra, Kiko Loureiro entrou como guitarrista do Megadeth, criada e liderada por Dave Mustaine, em 2015
Um dos principais guitarristas brasileiros da atualidade (que entrou com certeza para história) é Kiko Loureiro. Ele ficou bastante popular no país com a passagem pelo Angra, icônica banda de power metal formada em São Paulo, entre 1992 e 2015. Mesmo em um grupo nacional, Loureiro chamava atenção pelo talento - e em 2015 foi escolhido para entrar no Megadeth.
Megadeth foi formada em 1983 por Dave Mustaine após ser demitido do Metallica. Ao todo, a banda de heavy metal lançou 15 discos de estúdio, alguns ao vivo, assim como EPs e compilações. Ao longo dos anos, o grupo teve guitarristas como Marty Friedman e Jay Reynolds.
Atualmente com 50 anos, Loureiro tinha apenas 11 anos quando Megadeth foi criada. Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o guitarrista explicou a influência da banda na vida e carreira dele, assim como são esses sete anos desde que saiu do Angra e entrou no grupo estadunidense.
"Foi em 2015, tudo muito novo. Você meio que desconta esses dois anos da pandemia, né? [risos] Tive quase nenhuma atividade. [Na época] eu já morava nos Estados Unidos, então aceitar foi algo que fazia sentido pelo fato de gostar muito da banda, sempre gostei muito do trabalho de guitarra deles," afirmou o músico. "Megadeth sempre foi uma referência de trabalho de guitarra, sendo o Dave com os riffs icônicos, com as músicas e tal… outros guitarristas que passaram pelo grupo, principalmente Marty Friedman. Era uma referência."
Como integrante da banda, Dystopia (2016) e The Sick, the Dying... and the Dead!, lançado em 2 de setembro de 2022. No primeiro, Kiko Loureiro acabou não participando tanto quanto queria porque tinha praticamente acabado de entrar, mas ele conseguiu fazer bastante coisa no mais recente: "A gente tinha um produtor, a banda, e mais um técnico que arrumava a guitarra ou também saia para comprar alguma coisa que a gente precisasse. Não estava no período de pandemia ainda."
Era trabalho normal, então você fica lá umas cinco, seis horas. Porém, nem sempre era assim, porque o Dave também fazia quimioterapia, era dia livre quando ele não estava lá. Daí nasceu muita ideia minha, que eu pude apresentar, e acabou no álbum.
Leia, abaixo, a entrevista completa de Kiko Loureiro com a Rolling Stone Brasil:
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Rolling Stone Brasil: Vocês lançaram The Sick, The Dying… And The Dead! neste ano. Como foi o processo de produção do disco?
Bom, o processo de produção foi um grande processo [risos]. Tipo, encontrei com Dave, fui à casa dele, no final de 2018. Todo álbum, mas para dar aquela ponta inicial. Você está num pique de fazer turnê, volta para casa e tal… tem um certo hiato assim. Aí vamos lá: 2018. Fui para mostrar algumas coisas que eu tinha, aí depois fiz mais um encontro, bem solto, e aí quando foi meio de 2019, decidiu então juntar a banda inteira lá em Nashville e trabalhar nas composições, começar para valer.
Aí o Dave ligou falando estar com câncer, já estava com tudo marcado. Aí ficou aquele clima né. Mas aí o Dave falou para nós continuarmos, o Dave não teve medo da parada. Então a gente foi para lá, ficamos numa casa vizinha dele, era uma chácara, uma fazenda, sítio, um pouquinho afastado, não tanto - bem bucólico o negócio. Ele alugou uma casa na fazenda do lado e montou o estúdio todo, e a gente ficou dormindo lá também.
Então ficava aquele clima bem natureza do country americano. É tipo ir ao Brasil gravar em Goiás para gravar um disco de heavy metal. Ficamos lá e o Dave começou a fazer os tratamentos. Nadávamos no meio da agenda dele, mas fomos trabalhando. A gente ficou dois meses e pouco lá e fizemos as músicas, o grosso de tudo foi feito nesse período.
Depois, a gente parou uns seis meses, na segunda metade de 2019, porque o tratamento ficou mais intenso e esperar a recuperação. Aí recuperou, estava tudo bem, fomos fazer uma turnê na Europa que era curta em janeiro [de 2020], e aí veio a pandemia quando a gente ia gravar, tava planejado fazer a bateria, seria março de 2020.
Aí parou tudo, por isso que foi um processo, né? Teve esse período da composição, o qual foi legal. Depois ia começar a gravar para dar refinada nas músicas e gravar, mesmo. Mas a pandemia então atrasou mais uns sete meses.
Depois de tudo isso, lançamento, videoclipes. Teve o lance de participar mais perto do Dave e da banda, um lado um pouco mais pessoal. Tive mais participação, apresentei mais coisas relevantes: foram oito no álbum.
Agora, entendo mais da banda, entendo catálogo. Fiz bastantes shows com eles, de 2015 até hoje, e foi mais tranquilo de trazer música e fazer ideias.
Rolling Stone Brasil: Explica um pouco sobre o conceito do disco. Qual mensagem vocês queriam passar para o público?
O conceito do álbum, no geral, as letras são todas do Dave. As minhas colaborações são mais na parte musical. Os riffs de guitarra, melodias, estrutura de música e tudo mais.
O tema é a peste negra, a capa, tudo isso traz para esse período. Porém, não é um álbum conceitual, e até o Dave não é fã de um álbum com um tema só, coisa que o Angra já fez. Cada música tem o seu tema, mas obviamente tem o tema que vai ser a capa do disco e o nome.
Rolling Stone Brasil: O disco conta com a participação ilustre do ICE-T. Como foi gravar com um dos grandes nomes do rap?
É, na realidade o ICE-T tem uma banda chamada Body Count, é um heavy metal que apareceu nos anos 1990 - e era realmente diferente, porque era outra linguagem. A gente está acostumado ouvir heavy metal de branco da Inglaterra. De repente, veio Body Count com esses assuntos do rap com som meio punk, meio metal. Acho que nessa época o Dave conheceu o ICE-T, eu era moleque quando apareceu essa banda.
A relação do ICE-T com o Dave vem de lá atrás, desse respeito mútuo. Na realidade, o ICE-T é um ator muito conhecido na televisão estadunidense. É o ator que ficou mais tempo numa mesma série, tem um prêmio desse tipo assim. Aqui nos Estados Unidos, você vê o ICE-T em propaganda de carro, etc. É uma figura conhecida.
Ele tem esse lado heavy metal, ele vai nos shows nosso, curte o negócio. Aí o Dave teve a ideia de "Night Stalkers," e ele queria alguém que fosse um narrador. Ele falou: "Perfeito vai ser o ICE-T."
Rolling Stone Brasil: Além de gravar as guitarras, como funcionou sua rotina durante a criação do álbum?
A gente estava numa casa, em Nashville, no estado do Tennessee, que é a cidade da música, tem muito músico, muito estúdio, muita coisa musical. A gente estava meio cinquenta minutos de Nashville, maia para o campo. Lá tem um clima meio que lembra o Brasil, é mais úmido, quente, chove… tem umas chuvas fortes, meio tropical. Tava um clima de paz, tranquilo, bem shorts e chinelo, sabe? Todo dia.
Acordava tinha umas montanhas, o cara da fazenda do lado tem um monte de vaca, ficava vendo elas no fundo. Era esse clima numa casa um pouco mais antiga - e de repente umas chuvas fortes e tal.
Fora disso, a gente foi em algum show, alguma coisa bem de leve. Mas foi bem lá em, enfurnado. Tipo ermitão, e ficava focado lá, falando com família, amigos. Quando o Andre Matos, com quem eu toquei no Angra, faleceu, eu estava lá. Então teve esse período que eu lembro bem.
A gente tinha um produtor, a banda, e tinha mais um técnico que arrumava guitarra ou também saia para comprar alguma coisa que a gente precisasse e tal. Não estava no período de pandemia ainda.
Era trabalho normal, então você fica lá umas cinco, seis horas. Porém, nem sempre era assim, porque o Dave também fazia quimioterapia, era dia livre porque ele não estava lá. Daí nasceu muita ideia minha, que eu pude apresentar, e acabou no álbum.
Não tem nada melhor do que você estar num lugar meio afastado.
Rolling Stone Brasil: Considerando a história da banda, você entrou até que recentemente na formação. Como foi aceitar essa nova jornada e como está sendo essa experiência para vocês?
Sete anos. Foi em 2015, tudo muito novo. Você meio que desconta esses dois anos da pandemia, né? [risos] Tive quase nenhuma atividade. [Na época] eu já morava nos Estados Unidos, então aceitar foi algo que fazia sentido pelo fato de mim também gostar muito da banda, sempre gostei muito do trabalho de guitarra deles. Megadeth sempre foi uma referência de trabalho de guitarra, sendo o Dave com os riffs icônicos, com as músicas e tal… outros guitarristas que passaram pelo grupo, principalmente Marty Friedman. Era uma referência.
Soube que eles procuravam [guitarrista]. Às vezes, como músico, você pode receber um convite para tocar com alguém, mas pode ser uma coisa que não tem muito a ver com. Comigo, tem muito a ver, porque tem um trabalho de guitarra muito legal.
Obviamente eu fiquei feliz com o lance, o fato de ser brasileiro numa banda tão iconicamente americana, né? Megadeth tem esse lado de ser bem americano nos assuntos dos assuntos das letras, na forma com a qual se porta. O fato de botar um brasileiro ali dentro é uma conquista importante de uma forma geral.
[Também] de incentivar os músicos, mesmo, da galera fazer o que gosta, porque tocar guitarra heavy metal no Brasil não é uma coisa muito fácil, é muito fora do trivial, ainda mais na idade em que comecei assim, tinha pouca coisa.
Hoje, com a internet, é tudo muito mais plural. Agora estou Estados Unidos, cada dia numa cidade que eu não conheço, com a imensidão, cheio de coisas diferentes, de culturas diferentes dentro do mesmo país.
Rolling Stone Brasil: Megadeth ia tocar em festival no Rio de Janeiro em 2022, mas acabou cancelando a participação. Vocês já têm planos em rota para fazer show por aqui no Brasil?
Sim! Quando você lança um álbum, começa um novo ciclo. Então, em tese, o porte do Megadeth é de rodar o mundo. Eu não tenho datas aqui, mas sei que estão sendo trabalhadas essas datas de turnê ao redor do mundo. Geralmente anunciamos quando está 100% certo.
Antes disso não se anuncia, mas é uma coisa meio natural: iniciado o novo álbum você começa a sair em turnê. A gente marcou Japão e Ásia em fevereiro, e vamos para Europa nos festivais terão em julho e agosto de 2023. Sabendo disso, estão sendo marcados, nos outros períodos, as outras regiões.