Lei 'anti-Oruam': entenda o projeto que proíbe contratação de artistas por apologia ao crime
Propostas surgiram em São Paulo e se espalharam para outras capitais
Aline Carlin Cordaro (@linecarlin)
Publicado em 26/02/2025, às 13h27
Projetos de lei que restringem a contratação de artistas que supostamente fazem apologia ao crime organizado ganharam força em diversas cidades brasileiras. A medida, apelidada de "Lei anti-Oruam", tem como foco o rapper Oruam, nome artístico de Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido por abordar em suas músicas temas relacionados à criminalidade e por ser filho de Marcinho VP, apontado como líder do Comando Vermelho.
A iniciativa começou em São Paulo, quando a vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil) propôs um projeto para impedir que a prefeitura contratasse artistas que, segundo ela, promovem apologia ao crime. Em um vídeo nas redes sociais, a parlamentar afirmou:
"Quero proibir Oruam de fazer shows na cidade de São Paulo. Chega de cantores de funk e rap fazendo apologia explícita ao crime organizado."
O vídeo viralizou e o debate se espalhou por outras cidades, levando políticos de Goiânia, Campo Grande e Rio de Janeiro a apresentarem propostas semelhantes.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/e/R/oIkaMRRa2UFHIRCU7gBw/whatsapp-image-2025-02-26-at-10.49.03.jpeg)
O que diz a proposta?
No Rio de Janeiro, por exemplo, o projeto prevê que a administração pública municipal não poderá contratar artistas para eventos abertos ao público infantojuvenil se suas apresentações contiverem "expressões de apologia ao crime organizado ou ao uso de drogas".
A polêmica gira em torno da falta de clareza sobre o que se considera apologia, já que muitos artistas utilizam suas músicas para retratar a realidade das periferias. Em Salvador, uma lei semelhante já está em vigor desde 2019, proibindo o financiamento público de artistas que abordem crime ou violência contra a mulher.
A reação de Oruam
Diante da repercussão, Oruam lançou em 21 de fevereiro a música "Lei Anti Oruam", na qual critica o projeto e cobra políticas públicas voltadas às favelas. Em um dos versos, ele questiona:
"Explica pra uma criança porque seu herói vive dentro das grades."
O cantor já havia se envolvido em polêmicas anteriormente, como ao pedir a liberdade do pai durante sua apresentação no Lollapalooza 2024.
O que já diz a lei?
O Código Penal Brasileiro já prevê punições para quem incita crimes. O artigo 287 estabelece detenção de três a seis meses ou multa para quem fizer apologia de fato criminoso ou de seu autor. Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também define restrições sobre conteúdos inadequados para menores.
Até o momento, os projetos ainda não foram votados e precisam passar por diversas etapas antes de uma possível aprovação. No entanto, a discussão já gerou grande repercussão e pode influenciar a contratação de artistas por prefeituras nos próximos anos.
Caso alguma dessas leis seja sancionada, a decisão ainda poderá ser contestada no Judiciário, uma vez que levanta questões sobre liberdade de expressão e censura na cultura brasileira.