Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Thomas Mars adiantou o que fãs podem esperar da apresentação do Phoenix no Lollapalooza, que acontece no domingo, 24
Há uma década, o Phoenix se apresentava no Lollapalooza Brasil ao lado de Arcade Fire. Neste ano, as duas bandas retornam ao festival que acontece nos dias 22, 23 e 24 de março no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.
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O evento ganhou novas proporções — com um line-up que ocupa três dias da semana e patrocinadores que geram filas enormes ao distribuir brindes exclusivos, por exemplo —, e há quem diga que a edição de 2024 demonstra que a versão brasileira do Lollapalooza está em queda.
Para o Phoenix, porém, não houve muitas mudanças. "Acho que o mesmo continua nos levando ao palco: uma espécie de conexão com as pessoas", disse Thomas Mars em entrevista à Rolling Stone Brasil.
Os dez anos que se passaram serviram para conferir confiança ao grupo francês: "Fizemos isso tantas vezes que agora estamos mais confortáveis. Se algo dá errado, se cometemos um erro, acho que conseguimos tirar proveito disso da melhor forma possível".
A setlist da banda também sofrerá alterações, com a inclusão de faixas de dois álbuns lançados depois de 2014. "Temos mais dois álbuns, mas eu não diria que muita coisa mudou", argumentou Mars. Alpha Zulu (2022) e Ti Amo (2017) devem pintar na apresentação do Phoenix no país com as faixas-título.
"Conheço o lugar, conheço algumas das bandas que vão tocar também", continuou. O vocalista elogiou o público brasileiro e o equiparou com o mexicano: "O Brasil tem uma das melhores plateias do mundo — eu também incluiria o México nisso. É muito legal tocar aí, porque as pessoas cantam junto, elas interagem com você... Há algo a mais, a apresentação é mais profunda".
Mars indicou que pretende assistir aos artistas nacionais durante a passagem pelo Brasil. "Não conheço muito os artistas locais, então esses são os que mais quero ver", confessou. Ele ainda revelou que está "muito curioso para ver a banda que toca por volta das 15h", o que pode corresponder à performance do Hungria no palco Budweiser.
A agenda dos franceses está ocupada com shows da turnê iniciada há mais de um ano. Enquanto isso, eles se dividem entre os palcos e os estúdios de gravação, no que Thomas descreveu como "uma fase de transição". Apesar de não haver sinais de um novo álbum a caminho, o músico disse que "tudo é possível".
"É prazeroso, porque uma coisa alimenta a outra", ponderou Mars. "A turnê está quase no fim, então cada show é muito precioso. Nós damos nosso melhor e sabemos que vamos sentir falta disso."
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A banda formada por Thomas Mars, Deck d'Arcy, Laurent Brancowitz e Christian Mazzalai nasceu em Versalhes, na França. Não à toa, a discografia do Phoenix faz inúmeras referências ao que cercou os artistas enquanto cresciam: o classicismo francês. O cotidiano na cidade artificial, com um palácio onde Luís XIV e seu pai puderam se refugiar, faz parte das influências do grupo.
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Crescemos em Versalhes, que não é realmente uma cidade, é mais um museu. Crescemos nesse ambiente estranho que é lindo. Mas, ao mesmo tempo, tudo de bom aconteceu no passado e ninguém quer que você perturbe esse ambiente. Então, eu acho que, ao longo dos anos, o Phoenix se tornou uma banda brincalhona e talvez um pouco provocativa com tudo o que é clássico, com tudo o que estava ao nosso redor. Eu acho que amamos pegar muitas coisas do passado e fazê-las nossas.
Um hit do Phoenix, "Lisztomania", inclusive, faz referência a uma suposta histeria vivida por fãs ao assistirem o alemão Franz Liszt tocando piano. "Quando penso em uma música como 'Lisztomania', isso resume um pouco. O que queríamos fazer era pegar algum tipo de DNA histórico que temos ligado à Europa e torná-lo um pouco nosso", contou Mars. Os músicos chegaram a gravar no Louvre, o que Thomas caracterizou como "sorte".
Embora as influências europeias guiem o Phoenix, o vocalista optou por cantar em inglês. "Bem, colocamos palavras em francês aqui e ali, e colocamos palavras em italiano. Eu já cantei em alemão antes porque minha mãe é alemã", lembrou.
"Gosto da ideia de que estou usando uma língua que não é minha. De alguma forma, é mais criativamente interessante para mim, porque posso estar distante de todos os meus — eu não chamaria isso de bagagem...", continuou Mars. "Isso dá a você mais liberdade, mais perspectiva e mais objetividade. Também é mais fácil falar em nome da banda, se isso faz sentido."
Desde o início, foi interessante para nós, porque ninguém fazia isso na França. Estávamos cantando em inglês, mas todos queriam que cantássemos em francês. Todos os meus artistas favoritos são não-conformistas. Tínhamos esse rótulo de sermos não-conformistas — o que eu pensava que levaria anos para conseguirmos, mas tivemos isso imediatamente.
Prince, Marvin Gaye, Aretha Franklin, My Bloody Valentine e Pixies estão dentre os artistas que o genro de Francis Ford Coppola gosta de ouvir e aos quais atribui certo pioneirismo. "John Coltrane, Alice Coltrane, Ravi Coltrane — acho que eu poderia ter dito simplesmente 'os Coltrane' [risos]", adicionou à lista.
O título do último álbum de estúdio do Phoenix é o mesmo dado a um alfabeto fonético "utilizado na aviação para soletrar palavras", conforme informou o Aeroporto Internacional de Guarulhos nas redes sociais. A faixa homônima abre o disco, enquanto a música que encerra foi incluída em On the Rocks (2020), filme de Sofia Coppola.
Além de servir como trilha sonora para o longa-metragem estrelado por Bill Murray e Rashida Jones, "Identical" homenageia Phillipe Zdar, produtor que morreu após cair acidentalmente da varanda de um prédio em 2019.
Alpha Zulu é o primeiro álbum que fizemos sem nosso produtor, Phillipe Zdar. Ele nos ajudou muito ao longo dos anos e faleceu quando estávamos começando esse disco. Começamos a fazer 'Identical' no dia seguinte ao funeral dele. Então, ele esteve com a gente nesse álbum, mas 'Identical' foi a primeira música. Parecia que todo o disco estava ligado a Phillipe Zdar, então fez sentido para a gente incluir essa música. Talvez seja a canção mais ligada a ele, por meio da letra e tudo mais...
Thomas Mars e Sofia Coppola se conheceram há mais de 20 anos, quando o Phoenix participou da trilha sonora de As Virgens Suicidas (1999). Eles continuaram trabalhando juntos em videoclipes da banda e em filmes da diretora de Priscilla (2023) ao longo do tempo. Já com duas filhas, o casal oficializou o relacionamento em 2011.
Romy, a mais velha, viralizou nas redes sociais ao publicar vídeo no TikTok afirmando que os pais não a deixaram fretar um helicóptero. "É difícil, para mim, falar sobre isso, porque, quando você continua falando, faz mais barulho, e a coisa não acaba nunca", disse Mars. O cantor, porém, afirmou que poderia conversar sobre as redes sociais: "É uma ótima ferramenta, mas te força a se transformar em uma marca".
Sofia Coppola on her daughter Romy Mars’ viral TikTok video:
— Film Updates (@FilmUpdates) August 25, 2023
“I got lots of compliments on her filmmaking. And comedy. She’s funny. But people discussing my parenting publicly is not what I would’ve hoped for.”https://t.co/R4sKCVbpS3
pic.twitter.com/oST0apmfgD
Fazendo uma comparação ruim com agricultura: quando um campo está meio que cansado, você tem que dar um momento para ele, um ou dois anos, para a plantação crescer novamente. Eu me sinto do mesmo jeito. Preciso de tempo para pensar sobre minhas ideias, não dá para ser ativo o tempo todo. Isso ajuda a fazer algo por inteiro, mesmo que não seja assim que as pessoas consomem música hoje em dia.
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Thomas não tem uma conta própria nas redes sociais por acreditar que o perfil da banda é suficiente para saciar a curiosidade de internautas. Coppola, por sua vez, passou a usar o Instagram com muita parcimônia em 2022.