Após luta para se encontrar na indústria, LP forjou seu próprio espaço com influências ecléticas e música pop sem rótulos
LP está de volta ao Brasil menos de um ano após sua apresentação no Lollapalooza 2022. Laura Pergolizzi faz show na Audio (São Paulo) no dia 8 de fevereiro, e revelou o que o público pode esperar em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil.
No ano passado, ela foi a primeira artista a se apresentar depois do alerta de tempestades que paralisou o festival no Autódromo de Interlagos. Apesar de iniciar o show enquanto público ainda retornava ao palco, LP cativou até mesmo quem não era fã e contou com um bom coro da plateia durante a execução do hit "Lost On You."
Sua discografia não ganhou acréscimos de lá para cá, mas a cantora chega ao país repleta de ideias novas. "Estou trabalhando em um disco novo, com a cabeça cheia de novidades, mas não posso tocar ainda. O primeiro single só sai em abril. Sobre o show, vou tentar entregar tudo que o público ama, caso eles amem algo," afirmou com tons de uma ironia brincalhona que carregou durante toda a entrevista.
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Os contratempos de um festival como o Lollapalooza parecem pequenos diante da missão que LP enfrentou para se consolidar na indústria da música. Começando como compositora ainda nos anos 2000, ela escreveu para artistas como Rihanna, Backstreet Boys, e Cher, mas não viu a própria carreira como cantora engrenar.
"Eu estava tentando encontrar meu tipo de música, e sou muito eclética como compositora. Minha música é de… gênero-fluido [risos]. É rock, meio folk, meio pop. Acho que, por isso, demorei um pouco para me encontrar, em meio a tantos contratos com gravadoras, com a Warner foi o meu 5º," afirmou.
Se este era o panorama em 2012, com o lançamento de um dos seus grandes sucessos, “Into The Wild," os anos seguintes trariam a esperada liberdade para trabalhar da forma que queria, mesmo com as amarras comerciais. O próximo disco de LP, sucessor de Churches (2021), segue a linha "fazendo a merd* que eu quiser," impulsionada por experiências solitárias e acompanhadas.
Confira entrevista completa de LP à Rolling Stone Brasil:
Rolling Stone Brasil: Você está vindo ao Brasil novamente!
LP: Estou muito ansiosa. É sempre legal vir e fazer o próprio show depois de um festival. Você está empolgado?
Sim! Seu show no Lollapalooza aconteceu em um dos primeiros eventos após ‘aquilo’.
“Aquilo”, a coisa que aconteceu sobre a qual não devemos falar. Eu também fui a primeira banda a tocar depois da tempestade. ‘Vamos continuar enquanto as pessoas entram de volta.’ Ótima ideia.
Em 2020, toquei no Lollapalooza em Chicago, o original. Eu estava em um palco menor, mas muito bonito. Estava muito empolgada, tudo parecia ótimo. Até que uma tempestade de raios começou, o público foi evacuado. E eu fui a primeira banda após o retorno. Havia metade das pessoas que estavam lá antes, o som todo f*dido. Foi incrível [risos]. Mas, honestamente, o Lollapalooza é um ótimo festival. São rápidos para deixar tudo pronto, ninguém se machuca… eles sabem o que fazem.
O que o público pode esperar de sua apresentação solo?
Um setlist maior, são quatro discos. É engraçado, estou trabalhando em um disco novo, com a cabeça cheia de novidades, mas não posso tocar ainda. O primeiro single só sai em abril. Sobre o show, vou tentar entregar tudo que o público ama, caso eles amem algo.
Você está no mercado há bastante tempo, mas começou a ganhar ainda mais reconhecimento na última década. Qual foi o momento chave na sua carreira?
A música “Into the Wild” foi um desses momentos em 2011 ou 2012. Essa faixa teve uma jornada um pouco estranha. Eu não chamaria de tragédia, porque me rendeu muitas coisas. Mas ficou muito claro pra mim naquele momento que eu estava sendo reconhecida. Eu estava tentando encontrar meu tipo de música, e sou muito eclética como compositora. Minha música é de… gênero-fluido [risos]. É rock, meio folk, meio pop. Acho que, por isso, demorei um pouco para me encontrar, em meio a tantos contratos com gravadoras, com a Warner foi o meu 5º.
“Into The Wild” foi um pulo, e em “Lost On You” eu pensei: ‘sério?’. Eu achava que seria indie, uma compositora. Ainda escrevo para outras pessoas, mas tenho meu próprio trabalho. Penso que posso e devo fazer o que eu quiser, e isso é muito bom. Meu próximo disco é mais nessa linha, fazendo a merd* que eu quiser.
Você acha que sua habilidade de fazer melodias pop em músicas com características folk e rock é o que colaborou para trabalhar com outros artistas?
Acho que a minha voz traz coesão para tudo. Eu posso fazer as merd*s que faço porque eu consigo cantar [risos], então as pessoas relevam. Não sei como eu consigo me safar, essa é minha resposta.
Acha que funciona melhor quando você canta suas próprias músicas?
Sim. Eu sei como trabalhar com minhas próprias músicas. Mas em uma canção como “Cheers,” cantada por Rihanna... ela é muito melhor que eu.
Como é o processo de compor como artista solo?
Eu gosto de trabalhar com colaborações. Meu último grupo de composição era como uma banda. Gosto de me sentir como parte de algo. Desde cedo, sempre tive essa vontade de estar em uma banda. Tenho muito respeito pelos grupos que estão por aí, tenho alguns amigos que conseguiram sucesso dessa forma, mas a merd* pela qual eles precisam passar… É como atravessar uma multidão de mãos dadas com quatro pessoas [risos]. É muito difícil!
Como artista solo, se não gosto da direção que algo está tomando, posso dizer: “Não é exatamente isso que estou buscando.” Eu gosto dessa sensação. Mas, honestamente, é com um espírito de colaboração que você consegue as melhores coisas do mundo. A vida é uma colaboração.
É como produzir seu próprio trabalho?
Sim… O capitão do time. No final, são minhas músicas, expressões, temas e melodias. Mas quando escrevo para outras pessoas, as composições passam a pertencer a elas.
Você mencionou seu novo disco. Que tipo de som ele deve trazer?
Uma vibe californiana. Ele nasceu em dois meses. Duas sessões gigantes, nas Ilhas Cayman e em Palm Springs. Tive muitas experiências nos últimos anos, com mulheres, comigo mesma. Tinha muita coisa na cabeça… mulheres, mulheres, mulheres [risos]. Vivi muitas coisas sobre as quais queria escrever, por isso foi rápido. É como uma brisa. Não sei explicar, mas é como LP clássica, só que novo.
Fresco, talvez.
É muito fresco, essa é a palavra. Fresco pra caralh*.
O que você tem ouvido ultimamente?
Adorei esse disco da SZA, muito bom. Estive ouvindo “Fake Plastic Trees,” do Radiohead, várias e várias vezes. Aquela música do Leo Sayer, [cantando] “When I need you / I just close my eyes and I'm with you”. Coisas assim, antigas. Um pouco de Carly Simon. Chappell Roan, uma artista nova muito legal que trabalha com um dos meus agentes. Ela é muito divertida. Sempre Rolling Stones, “You Got the Silver.” Frank Sinatra…
Escolhas ecléticas.
De SZA a Sinatra.
Você terá tempo pra visitar alguma coisa no Brasil?
Espero que sim. Quero ver aquela estátua com um cara grande [LP abriu osbraços].
O Cristo Redentor?
É esse o cara? Ícone do Brasil. Às vezes é difícil, chegar nos lugares na América do Sul leva um tempinho. Viajar é sempre um pé no saco.
Você tem uma mensagem aos fãs?
Mal posso esperar para vê-los. Com certeza vamos nos divertir. Espero animar a todos e deixá-los empolgados para o próximo disco também. Veremos.
Desta vez não teremos chuva pelo menos.
Sim!