Com críticas à sociedade, ideias feministas, sensualidade e até mesmo religião, Madonna deu o que falar com seus videoclipes desde a década de 1980
Madonna Louise Veronica Ciccone, ou apenas Madonna, completa 65 anos nesta quarta-feira, 16. Da década de 1980 — quando debutou com o disco homônimo Madonna (1983)— para cá, a artista se reinventou de diversas formas e se envolveu em muitas polêmicas. Ainda assim, ela não deixou de fazer críticas sobre o comportamento da sociedade e nem mesmo de ser porta-voz do feminismo.
Confira abaixo dez videoclipes da Rainha do Pop que deram o que falar e a tornaram um ícone da música:
"Como uma virgem, tocada pela primeira vez"... A música do álbum também intitulado Like a Virgin (1984) já era polêmica por si só e nem precisava de videoclipe para chamar ainda mais atenção.
Filmado em Veneza, o vídeo de "Like a Virgin" mostra Madonna dançando em uma gôndola. Ela veste roupas típicas dos anos 1980, em contraste com um vestido branco de noiva que usa nas cenas em uma sala de mármore. A junção de sexo e religião ainda recebeu um leão para personificar um homem que espia a sensualidade da cantora.
Canção doTrue Blue (1986), "Papa Don't Preach" retrata a agonia de uma adolescente que descobre estar grávida e precisa desmantelar a imagem de "menininha do papai". Cenas que mostram a relação de pai e filha na infância da jovem são cortadas por momentos do romance vivido por ela e um rapaz. Em um cenário completamente vazio, Madonna dança com um macacão preto, look que se tornou icônico.
O vídeo ainda levantou o debate sobre o aborto. Na letra, a cantora diz querer manter o bebê, enquanto as amigas a lembram o quanto ela é nova. Por isso, a personagem busca o conselho do pai e alimenta a esperança de que construirá uma família com o namorado.
Ainda nas batidas dos anos 1980 e também dentro do disco True Blue,"Open Your Heart" pode parecer uma música romântica, mas o clipe mostra uma stripper dançando aos olhos de frequentadores do clube. Além da atenção de homens que parecem obcecados pela performance de Madonna, ela também atiça a curiosidade de um menino. É com a criança que a artista deixa o lugar, o que não foi bem visto por todos os espectadores, já que Madonna chega a beijar o garoto. Outra controvérsia foi em relação ao trabalho de strippers: parte do público considerou a encenação uma forma de romantizá-lo.
No álbum de 1989, a música-título "Like a Prayer" se apoiou mais uma vez sobre a temática religiosa. Com Madonna dançando na frente de cruzes pegando fogo e fazendo referência até mesmo à crucificação de Jesus em uma cena que mostra suas mãos com estigmas, o clipe foi condenado pelo Vaticano. A pressão da Igreja Católica foi tanta que a cantora teve um contrato com a Pepsi rompido após o lançamento do vídeo. Por outro lado, Madonna abordou questões raciais ao retratar um homem negro sendo injustamente acusado pela agressão a uma jovem branca, que se assemelha muito com a artista.
Falando sobre sexo novamente, o videoclipe de "Justify My Love" — do The Immaculate Collection (1990) — mostra Madonna percorrendo o corredor de um hotel com uma maleta. Aparentemente confusa, mas ainda assim fazendo uma espécie de dança sensual, ela vê através das frestas dos quartos pessoas simulando posições sexuais. De repente, ela encontra um homem, e eles também vão para um quarto. Para quem pensou que dessa vez a religião não seria envolvida, quando o parceiro da cantora abre a camisa, o espectador se depara com vários crucifixos pendurados no pescoço do homem.
Assim como "Justify My Love", "Erotica" não agradou a MTV e ficou de fora da programação do canal. O álbum, que também foi nomeado Erotica (1992), chegou acompanhado de um livro com fotografias de Madonna, feitas por Steven Meisel e Fabien Baron. O nome não poderia ser outro: Sex. O sexo dita o tom do clipe, que já começa com a cantora sendo despida por um homem e envolve beijos mais que calorosos.
Fazendo um salto para os anos 2000, Madonna já é mãe e está casada com o ator Guy Ritchie. Depois dos polêmicos Corpo em Evidência, filme de 1993, e Na Cama com Madonna, documentário de 1991, a cantora levou Grammys pelo álbum Ray Of Light(1998) e ainda garantiu um Golden Globe pelo papel em Evita (1996).
As mudanças na carreira também transformaram a música e, consequentemente os clipes de Madonna. Em "What It Feels Like For a Girl", ela leva uma senhora para uma aventura noturna de carro perigosa, enquanto canta uma letra carregada de feminismo.
O que começa como um desfile de roupas com estampas camufladas, vira uma verdadeira guerra aos olhos dos fotógrafos e aspirantes da moda presentes no evento. A plateia se diverte com a performance, reagindo aos corpos decepados no palco com risadas. Na primeira versão do vídeo, Madonna lança uma granada que é pega no ar por um homem muito parecido com George W. Bush (que acende um cigarro com a bomba).
A cena final ficou de fora do "corte do diretor", publicado somente 20 anos depois do lançamento do vídeo original, em abril de 2023. Outra versão do clipe simplifica as críticas de Madonna com bandeiras de diversos países ao fundo, mudando de uma para outra enquanto ela canta para a câmera. Assista às três versões:
Corte do diretor
Versão original
Versão alternativa
Já na casa dos 50 anos, Madonna não abandonou o erotismo, tanto musicalmente quanto visualmente. Em "Girl Gone Wild", do MDNA (2012), ela dança em um cenário minimalista, assim como homens seminus, simulando claramente práticas de BDSM. Jesus não podia ficar de fora dessa, é claro. Antes da cantora susurrar um "Perdoe-me", vemos um homem musculoso usando uma coroa de espinhos.
A MTV não censurou o videoclipe, mas, quando ele foi lançado, somente maiores de 18 anos podiam assisti-lo no YouTube.
"A história que você está prestes a ver é muito perturbadora. Mostra cenas gráficas de violência armada. Mas está acontecendo todos os dias. E isso tem que parar." É assim que o videoclipe de "God Control" — Madame X (2019) — começa.
A igreja, na narrativa dessa música, é cenário de velórios de pessoas mortas a tiros em uma discoteca. Madonna digita a letra da canção em uma máquina de escrever posta em mesa sob fotos de figuras importantes para o feminismo: Simone de Beauvoir, Frida Kahlo e Angela Davis. O final do videoclipe mostra protestos contra as armas de fogo.
Apesar da intenção crítica da cantora em retratar casos como o então recente massacre de Orlando — ocorrido na Pulse, boate LGBT nos Estados Unidos —, a ideia da artista não foi bem recebida por sobreviventes da tragédia, que opinaram contra a brutalidade encenada.