Episódio é visto como um dos mais controversos da carreira da artista, que no ano seguinte foi submetida à tutela de seu pai
Publicado em 26/10/2023, às 09h30
Em fevereiro de 2007, Britney Spears surpreendeu o mundo ao decidir raspar a cabeça e ficar careca. O período foi marcado por uma série de outras polêmicas envolvendo o nome da cantora, que lidava com vícios em álcool e drogas e sofria com a superexposição midiática.
O que motivou a intempestiva mudança de visual? O assunto foi abordado pela própria em sua nova autobiografia, The Woman in Me. Um trecho da obra foi publicado pelo site da revista People.
Britney reflete sobre o episódio específico em um capítulo sobre a tutela à qual foi submetida por mais de uma década. Entre 2008 e 2021, todas as decisões sobre a vida e carreira da cantora foram tomadas por seu pai, Jamie. A intervenção ocorreu justamente porque no período anterior, a artista acumulou controvérsias — como raspar os cabelos.
No livro, a cantora explica que a mudança brusca de visual foi uma “maneira de reagir” contrariamente a tudo que fizeram ela passar, especialmente “ter sido muito observada enquanto crescia”. Vale lembrar que ela segue carreira artística desde a infância.
Em suas reflexões, Spears chegou à conclusão de que era alvo constante de comentários com relação a seu corpo. A estrela pop considerava ter sido sexualizada desde a adolescência. Em suas próprias palavras:
“Eu era muito observada enquanto crescia. Era olhada de cima a baixo, as pessoas me diziam o que pensavam do meu corpo, desde que eu era adolescente. Raspar a cabeça e agir foram minhas maneiras de reagir.”
Com a aprovação judicial da tutela, em 2008, Britney Spears perdeu uma série de liberdades pessoais. A cantora diz que se sentia uma “criança-robô” e “muito infantilizada” por ter seu pai novamente tomando decisões em seu lugar, mesmo já adulta. Chegava ao ponto de ele interferir no visual da artista.
“Se eu achava que ser criticada sobre meu corpo na imprensa era ruim, doeu ainda mais por parte de meu próprio pai. Ele repetidamente me disse que eu estava gorda e que teria que fazer algo a respeito. Sentir que nunca é bom o suficiente é algo devastador para uma criança. Ele incutiu essa mensagem em mim quando era menina e, mesmo depois de eu ter conquistado tantas coisas, ele continuou a fazer isso comigo.”
Durante esse período, Britney alega ter perdido sua criatividade artística. Não sentia mais paixão por cantar e dançar. Em suas palavras, a tutela “despiu-me da minha feminilidade, transformou-me numa criança”. “Sempre senti a música em meus ossos e em meu sangue; eles roubaram isso de mim”, completou.
Ainda segundo a artista:
“Sob a tutela, fui levada a entender que aqueles dias [de liberdade] haviam acabado. Tive que deixar meu cabelo crescer e voltar à forma. Tive que ir para a cama cedo e tomar todos os medicamentos que me disseram para tomar. Eu fazia pequenas coisas criativas aqui e ali, mas meu coração não estava mais nisso. [...] Treze anos se passaram e eu me sentia como uma sombra de mim mesmo.”
Por fim, ela conclui que se sente mal por tudo que passou, mesmo já estando livre.
“Penso agora em meu pai e seus associados tendo controle sobre meu corpo e meu dinheiro por tanto tempo e isso me faz sentir mal... Pense em quantos artistas homens jogaram todo o seu dinheiro fora; quantos tiveram abuso de substâncias ou problemas de saúde mental. Ninguém tentou tirar o controle sobre seus corpos e dinheiro. Eu não merecia o que minha família fez comigo.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.