Zak Starkey e Shaun Ryder falaram sobre a formação e os planos do Mantra of the Cosmos em conversa bem-humorada com a Rolling Stone Brasil
Shaun Ryder (Happy Mondays e Black Grape), Zak Starkey (The Who e Oasis), Bez (Happy Mondays e Black Grape) e Andy Bell (Ride e Oasis) compõem o Mantra of the Cosmos. Mais tarde, Brix Smith (The Fall) e Sharna Starkey (SSHH) foram adicionadas. Os nomes e as bandas das quais fazem parte já demonstram o calibre do projeto recém-formado, mas a denominação "supergrupo" não agrada Zak.
"Zak não gosta, sabe? Quer dizer, eu aceito, porque tem 'super-pessoas' no nosso grupo. Mas é uma definição dada por outros, não? Gravadoras e coisas assim", afirmou Shaun em entrevista à Rolling Stone Brasil. "Mas vende, não é mesmo? Falando sério, somos um grupo fantástico", completou Starkey.
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A intimidade dividida entre os dois artistas ficou clara ao longo de 20 minutos de conversa muito descontraída. Ao entrar na chamada usando o nome "Iphone", Ryder apareceu fumando um pod. No Zoom, a configuração padrão destaca apenas quem está falando na chamada de vídeo, o que Zak precisou explicar ao amigo. "É como se fosse o bastão da fala", exemplificou, fazendo referência à cultura indígena. "Eu ainda estou no século XX", brincou o vocalista do Happy Mondays, ao que foi seguido pela lembrança dos tempos em que não existiam telefones móveis.
O Mantra of the Cosmos já lançou os singles dançantes "X (Wot You Sayin?) e "Gorilla Guerilla". "Inspirado no apelido de infância de Shaun, 'X', 'X (Wot You Sayin?)' foi co-escrita por Shaun e Andy, com Zak reunindo tudo na produção. A música se desenvolve gradualmente por meio de sonoridades espaciais, uma batida de bateria peculiar e as letras enigmáticas características de Shaun, explodindo em um refrão completo com trombetas triunfantes e uma guitarra psicodélica", diz nota enviada à imprensa.
A ideia de formar uma banda partiu de Zak Starkey. Ele chegou a convidar Karl Bartos para produzir músicas no estilo krautrock, mas, de acordo com o ex-Kraftwerk, o baterista deveria tê-lo chamado há dez anos, quando Bartos era "jovem o suficiente para fazer isso" (via NME). O músico alemão completou 71 anos em 2023.
Shaun Ryder, por outro lado, estava pronto para abraçar a empreitada: "Parecia um projeto incrível, então eu só disse, 'Sim'”, exclamou. Dez anos mais novo que Karl, o cantor também não visualizava o grupo musical em seu futuro: "Nunca imaginei que estaria formando uma nova banda aos 60 anos. É ótimo! Eu me sinto ótimo comigo mesmo, de verdade".
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Zak queria dar vida a algo mais "espontâneo e não o mesmo de sempre". Ele foi incisivo ao dizer que não há influências musicais para o Mantra of the Cosmos. “Não trabalhamos sob as regras do rock and roll, porque não deveriam existir”, declarou. "Sabe, é mais ético do que algo musical."
Ainda assim, o filho de Ringo Starr pensou no Hawkwind, grupo importante para o space rock: "Eu não diria que somos parecidos de nenhuma forma, mas nós meio que pensamos... Eu estava pensando nos moldes do Hawkwind do século XXI, onde você pode fazer o que quiser pelo tempo que quiser, desde que o público esteja animado. Então temos algumas faixas de 11 minutos".
Starkey contou então que, ao se gabar por uma música de 45 minutos, o Flaming Lips mostrou "7 Skies H3", que dura 24 horas. "Pareceu uma semana", garantiu Zak sobre ouvir a composição do início ao fim. A canção ganhou uma versão reduzida.
Para Ryder, Starkey balanceou as personalidades de cada integrante e pensou em como eles se dariam bem uns com os outros. “A música vem fácil. Eu acho incrível. Meus parceiros de banda são incríveis. Não sei o que houve, mas acontece que é bem diferente”, esclareceu o baterista do The Who.
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Zak, no entanto, ponderou que não sabe ao certo como fez tudo funcionar, mas bastou ter uma conversa com Shaun que tudo se resolveu: "Shaun é o homem mais interessante que já conheci". O amigo ficou tocado pelo elogio e devolveu: "Isso foi muito gentil, Zak". Starkey reafirmou: "É verdade. E você é real. Uma das pessoas mais reais que conheço".
Com tantos anos de experiência, os membros do Mantra of the Cosmos têm muita bagagem, mas é "uma curva de aprendizado, sempre será", refletiu o fundador do grupo. "Você nunca vai saber de tudo. E se você soubesse, seria bem entendiante, não? Sabe o que quero dizer?"
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Ryder falou sobre o próprio processo criativo. "Não sei se você já viu... Você deve ter visto este comercial, Zak. Aconteceu anos atrás, no final dos anos 1960 e 1970, e havia um cara, um cartunista, dirigindo um carro, e em sua cabeça havia dançarinas de can-can e pássaros voando. Bem, isso é basicamente... Dançarinas de can-can e pássaros voando é basicamente o que passa pela minha cabeça quando estou escrevendo músicas", afirmou Shaun de forma autêntica e engraçada. Zak fez uma piada sobre o assunto, mas o parceiro de banda não entendeu. "Certo... Ainda não entendi", confessou depois de ouvir a piada ao menos duas vezes.
O nome "Mantra of the Cosmos" surgiu a partir de uma aula de meditação que Zak e Andy Bell frequentaram. A dupla criou um mantra secreto, que ninguém além dos dois conhece ou poderá conhecer, de acordo com Starkey.
"Ótimo nome!", pontuou Shaun sobre a escolha do título para a banda. “Quando Zak me falou eu fiquei tipo, 'Uou’, e eu só continuava dizendo várias e várias vezes e pensei, ‘Sim!’”. Mas Zak recordou que o vocalista passou por uma gafe na televisão: "Não conseguia me lembrar [do nome da banda]", revelou Ryder. "Mantra of Something", brincou o baterista.
"Shaun e Bez são do cosmos", explicou Starkey, resgatando o programa Shaun Ryder onUFOs, transmitido há cerca de dez anos pelo The History Channel UK. "Estou muito à frente de Brian Cox", declarou Shaun ao citar um ufologista (não, não é o ator de mesmo nome que interpreta Logan Roy em Succession).
Zak continuou a brincadeira: "Ele sabe o que tem lá fora, mas ele não sabe o que tem lá fora [...] David Icke não se importa de dizer qualquer coisa, né?", mencionando o criador de teorias conspiratórias.
Zak Starkey é filho de Ringo Starr e Maureen Cox. O pai do artista lidera outro supergrupo — ou um grupo de "super-pessoas" —, o Ringo Starr & His All-Starr Band. Por isso, seria natural receber o conselho de uma figura ainda mais experiente na área.
"Ele me encoraja. Ele me encoraja a fazer minhas próprias coisas, e sente muito orgulho disso. Ele veio e ouviu as músicas de Shaun, e amou. Amou mesmo. Na verdade, ele adivinhou algumas palavras e as cantou com Shaun sem nunca ter ouvido antes. Você sabe, é estranho, não é? Porque não importa quantos anos você tem, seus pais acham que você é bom. Isso faz você se sentir bem, sabia?", refletiu Zak.
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"Bom, Ringo me inspirou a vida inteira, na verdade", afirmou Shaun de prontidão. Enquanto Ryder sempre parecia ter as respostas na ponta da língua, Starkey as buscava nos pensamentos.
Em janeiro de 2020, a gravadora Trojan Jamaica ganhou sua versão brasileira, a Trojan Brasil. O selo foi criado por Zak e a esposa, Sshh. Diversos artistas conseguiram lançar singles a partir da iniciativa do casal: U-Roy lançou “Wake the Town”; Sshh, em parceria com BNegão, lançou “Extra Extra”, e Covil do Flow lançou “Favela Town.”
"Passamos cerca de cinco meses no Brasil, entre 2019 e 2020, e fomos embora pouco antes do início da pandemia. A energia do Brasil é incrível! A energia musical, sabe? Faz parte do triângulo: Nigéria, Brasil e Jamaica", afirmou Starkey. "Estávamos pensando em fazer a Trojan Nigéria", completou.
Shaun também declarou seu amor pelo Brasil. "A última vez que estive no Brasil foi nos anos 1990. Eu adoraria voltar", confessou animado. "Não consigo achar nossa equipe. Muita gente da nossa equipe e nossos roadies, eles saíram do Brasil nos anos 1990 e nunca mais voltaram."
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Os fãs nem precisam pedir, porque o Mantra of the Cosmos já confirmou a vinda ao Brasil. "Temos um álbum de 12 músicas e esperamos ir à América do Sul no ano que vem", revelou Zak. Ele disse ainda que Noel Gallagher fez o convite para visitar o país: "Fomos convidados pelo Noel Gallagher, o que é muito legal. Ele realmente ama nossa música. Ele nos enviou uma música, o que é algo lindo de se fazer".
A entrevista precisava ser encerrada, mas Starkey fez um pedido: "Posso acrescentar uma coisa? As empresas de discos, elas chamam de números, certo? Não sei muito bem o que é, mas são números. Os nossos números na América do Sul representam o triplo dos do Reino Unido e dos Estados Unidos. Então, nós iremos, com certeza".