'Vício Inerente' entrega ainda mais a personalidade de Marina Sena - e primeiros números do álbum apontam que público está rendido ao 'vício' na cantora
"Me perguntou se eu já tô preparada / Se eu te chamei, não tô de brincadeira". Marina Sena mal terminara de gravar os vocais de "Voltei Pra Mim", sucesso do álbum de estreia, quando os primeiros versos acima, de "Me Ganhar", surgiram para ela. Naquele mesmo dia, ao lado do produtor Iuri Rio Branco, começava a história do segundo álbum da cantora, Vício Inerente (2023).
Lançado apenas 20 meses após a estreia solo de Marina, Vício Inerente se aprofunda e amplia o pop sedutor e ousado da cantora. Sem abdicar da influência MPB que a acompanha desde a passagem pelo grupo Rosa Neon, a cantora abre diálogo com o trap e mergulha ainda mais fundo no reggaeton moderno que já aparecia no celebrado disco anterior.
"Acho que é uma Marina que mudou para São Paulo. É a mesma personagem, só que agora eu sei o que eu quero. Naquele momento [o lançamento da estreia, De Primeira] eu tava debutando, virando mocinha. Agora eu sou mulher [risos]."
É a brincadeira de uma Marina Sena que chega para seu segundo álbum, cheia de marra, mas também com algumas certezas: nos mesmos 20 meses que separam um disco de outro, ela viu sua fama e alcance ampliarem em enormes proporções, solidificando sua posição no pop nacional. O lançamento de Vício Inerente, na última quinta-feira, 27, confirma isso: o primeiro single, "Tudo Para Amar Você", cresceu 13 posições no ranking viral do Spotify, chegando à 32ª posição. Segundo o chart data, a sexta-feira, 28, foi o pico de streams da cantora, com 2,5 milhões de visualizações em um dia.
+++LEIA MAIS: Marina Sena afirma que só teve acesso à internet depois dos 15 anos: 'Achei muito bom'
Na música, isso se traduz em um disco que chega com ainda mais personalidade e marra da mineira de Taiobeiras. Marina, que já compunha bem, perde amarras em Vício Inerente. Mistura versos profundos com sacanagem. "Eu tô mais explícita na poesia", assume. Aparece segura de si. Joga com as palavras em faixas como "Dano Sarrada" e "Olho no Gato". E canta, solta a voz - com destaque para a performance sensível e crua de "Mande Um Sinal".
Acho que eu tô cantando bem mais, com bem mais segurança. Até essa coisa de gravar sua própria voz atitude também é uma coisa que você aprende - como que é que sua voz fica boa no estúdio? Porque é completamente diferente do jeito que fica boa no show. São duas ciências completamente diferentes.
A escolha do primeiro single, "Tudo Pra Amar Você", foi justamente orientada para mostrar esse alcance de Marina. E demonstra a vontade de experimentar, de explorar. Sem se distanciar de si própria, ela revela uma das faixas mais produzidas do álbum. Uma "ponta de iceberg", como define, mais uma vez mostrando habilidade em uma indústria que cede cada vez mais ao 'vício' na voz única e na personalidade da cantora.
Aparece bem no álbum, eu acho que mostro essa experiência que angariei com esse tempo, de saber exatamente como colocar os vocais até para colocar efeito - até para usar autotune você tem que colocar sua voz de um jeito específico.
+++LEIA MAIS: Marina Sena se diverte com meme sobre Ayrton Senna; 'sou filha do Zezão Sena, gente'
Esse autoconhecimento e a vontade de apostar mais em si própria e na sua intuição aparece ainda na escolha do único feat para este disco, "Que Tal", que conta com a participação de Fleezus. É dele, também, uma das poucas referências apontadas por Marina no novo álbum: "Aqui em São Paulo, a coisa que mais me inspira é o BRIME!, do CESRV, Febem e Fleezus. Escuto muito mesmo, 24 horas por dia". Uma visão, novamente, inspirada pela experiência de conhecer um mundo novo em sua nova vida em uma metrópole.
Parte do que Marina assume para si no novo álbum vem também da perspectiva de conhecer cantos da indústria até então inexplorados por ela. Um desses cantos é justamente o TikTok - onde estourou com "Por Supuesto", primeiro hit dela, em 2021.
"Acho que ainda tô entendendo a mecânica [do TikTok], mas teria feito mais vídeos ali no início da carreira solo. Ainda tava perdida quando surgi ali, mas teria participado mais da plataforma", explica.
Além de entender bem melhor a mecânica das redes, Marina ainda traz o conhecimento de quem conheceu outro lado - o poder de uma produção bem paga. Além da parceria renovada com a produção do agora também namorado, Iuri Rio Branco, Vício Inerente teve mixagem de Daniel Pampuri e Marcelinho Ferraz feita em Los Angeles. Uma mudança para a cantora que passou a primeira fase da carreira explorando palcos pequenos ao lado de sua antiga banda.
Enriquei, né?! [risos] Então isso também influencia na criação. Eu compus muita música já produzindo, o que não era comum. Eu compunha muito no violão. Agora você trabalha o experimental, brinca com os timbres, com a textura do disco. E aí a música fica com outra cara.
Com outra cara, mas com o mesmo espírito: questionada sobre a faixa preferida dentre as novas, Marina escolhe "Tudo Seu". E "Me Ganhar", e "Partiu Capoeira", e "Sonho Bom". Em comum, o "vício" da criadora sobre a própria criação - que não se limita ao novo disco. Da mesma forma como Vício Inerente surge ainda na finalização do De Primeira (2021), Marina já tem composições e planeja seu próximo passo.
Mas não perde o foco: a partir do próximo dia 5 de maio, ela volta aos palcos com a nova turnê, que explora o segundo álbum, sem se esquecer do primeiro: "Eu ficava assim: 'Gente, eu só preciso ter dois discos primeiro para o show ficar grande, né?' Porque não dá para fazer um show grande. Agora, já posso dar uma relaxada e pensar, exatamente, qual vai ser meu próximo passo", antecipa, com a calma e a confiança de quem sabe que o acerto da segunda vez pode ser ainda melhor que o De Primeira.
Ver essa foto no Instagram