Future of Music

Mateus fazendo mais do que rock

O cearense Mateus Fazeno Rock deu vida ao chamado rock de favela e está chamando a atenção para as periferias nordestinas

Heloísa Lisboa (@helocoptero)

Publicado em 05/04/2024, às 12h42
Mateus Fazeno Rock (por Murilo da Paz)
Mateus Fazeno Rock (por Murilo da Paz)

Mateus Fazeno Rock, nome artístico de Mateus Henrique Ferreira do Nascimento, foi influenciado por um vizinho que promovia um festival de rock e ouvia bandas como Nirvana e Audioslave. Nascido e criado no bairro de Sapiranga, no Ceará, fazer rock parecia improvável para Mateus. “Se você abrir uma revista de rock, as duas únicas pessoas pretas que aparecem são integrantes pretos do Sepultura ou o Jimi Hendrix”, disse em entrevista ao Monkeybuzz, exemplificando a falta de espaço na mídia para representatividade no estilo musical.

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Mateus Fazeno Rock (Reprodução)

Apesar de não se identificar com a imagem de Kurt Cobain, um homem branco e loiro, Mateus tem o Nirvana como uma referência para suas composições. Além da banda, ele considera Djavan uma grande inspiração, mas não necessariamente pelas sonoridades das músicas do artista. Para Mateus, “Djavan” é um “adjetivo para música boa”. O autor de “Eu Te Devoro” é homenageado na faixa “Melô do Djavan”, presente no primeiro álbum de Mateus Fazeno Rock.

Rolê nas Ruínas foi lançado no início da pandemia de covid-19, em abril de 2020. Com nove canções e cerca de meia hora de música, o disco ressalta injustiças sociais, denuncia a especulação imobiliária presenciada por Fortaleza e retrata a segregação vivida pelos moradores das favelas do Ceará. “A bala perdida que é teleguiada mirando no corpo do nego”, “Condomínio Gran Senzala” e “Cabeção tá tremendo, vai no CAPS, não resolve” são apenas alguns trechos da faixa de abertura do álbum — “As Vozes da Cabeça” — que demonstram o sentimento de indignação transmitido pela voz de Mateus.

O músico precisou construir uma relação com os fãs que surgiam remotamente. Somente quase dois anos após o lançamento de seu primeiro disco ele pôde se apresentar em um show lotado.

Em 2023, Mateus lançou seu segundo álbum de estúdio, Jesus Ñ Voltará. De acordo com o cantor, o projeto funciona como uma carta dedicada a uma amiga e fala sobre a violência enfrentada por aqueles que vivem nas favelas do Brasil. Agê, Caiô, mumutante, glhrmee, Jup do Bairro, Big Léo, Nego Célio, Brisa Flow, Bugzinha, Má Dame e Jocasta Britto são os nomes que colaboraram com Mateus Fazeno Rock.

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A faixa-título do último álbum dele “fala sobre o começo e o fim da vida”, conforme revelou em entrevista à Noize. Versos como “Deixa ele partir / Ele vai se entregar / Ele já se entregou”, “A autodestruição já começou / E ela não parece estar presente / Ela é implacável como os carros que não freiam” e “Ela sonha toda noite com o véi da vizinha que se enforcou / Pois sonhava toda noite com correntes em seus pés” demonstram o adoecimento causado pela desigualdade social.

Mateus Fazeno Rock deu vida ao chamado rock de favela e está chamando a atenção para as periferias nordestinas. O estilo nomeado pelo artista não se restringe ao som do rock — ele foca no furor do gênero. As composições de Mateus percorrem o rap, o funk brasileiro, o reggae e até mesmo os pontos de religiões de matriz africana, fazendo com que o cearense entre na mira dos radares musicais.