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MC Livinho viraliza com cover de Ana Carolina e afirma: 'Pensei que já sabiam que canto' [ENTREVISTA]

Após repercussão positiva do cover de "É Isso Aí," de Ana Carolina e Seu Jorge, Livinho revela inspirações no R&B e MPB em entrevista à Rolling Stone Brasil

Dimitrius Vlahos
por Dimitrius Vlahos

Publicado em 25/08/2022, às 17h07

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MC Livinho (Foto: Divulgação)
MC Livinho (Foto: Divulgação)

MC Livinho, um dos grandes nomes do funk dos anos 2010, viralizou na última semana com cover de "É Isso Aí," de Ana Carolina e Seu Jorge, no programa TVZ, do Multishow. O vídeo chamou atenção principalmente de quem, de alguma forma, não conhecia a versatilidade do cantor de 27 anos. Os vocais, essenciais para a faixa, ganharam belos melismas e vibratos, impressionando o público.

Desde 2014 soltando hits no funk, Livinho nunca escondeu as influências da MPB e a preocupação em executar as músicas com a maior fidelidade possível às versões de estúdio. Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o músico reafirmou: “Para o artista ser completo, precisa preencher algumas camadas. Tem que dançar, atuar, presença de palco, cuidar de voz, tocar um instrumento, ser versátil.”

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Com uma gama de influências do R&B e soul ao pagode, o cantor não esperava tanta surpresa do público com o cover, pois ele sempre deu atenção à voz. Relembrando início da carreira, Livinho revelou acusações de tentar imitar Michael Jackson por cantar e dançar em suas apresentações.

A escolha da faixa de Ana Carolina e Seu Jorge partiu dele, pois sempre acompanhou “estilos de música diferentes do próprio segmento.” Com isso em mente, Livinho não descartou lançar projeto paralelo com canções de MPB ou samba, mas deixou claro não ter intenções de abandonar o funk que o consagrou.

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Após curta carreira no futebol - com passagens pelos times paulistas Audax e São Caetano - ele voltou a focar 100% na música e em conquistar o público jovem, “sem perder a essência.” A pressão por hits no TikTok e composições acompanhadas por “dancinhas,” por exemplo, não o incomoda. “São fases. Eu acompanho a evolução, as tendências. Fiz algumas voltadas pro TikTok, mas não me entrego totalmente pra não ficar classificado apenas nesse momento,” argumentou.

Livinho se prepara para lançar a faixa e o clipe de “Cheia de Marra 2,” uma nova roupagem para o sucesso de 2016, e comentou processo de atualização da música - prevista para a próxima sexta, 26.

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Confira entrevista completa de MC Livinho à Rolling Stone Brasil:


Rolling Stone Brasil: Algumas pessoas se surpreenderam com seus vocais na apresentação no TMZ, mas isso não é surpresa para quem te acompanha e sabe que você usa bastante seus recursos no funk. Você esperava essa percussão toda?

Livinho: Não. Achei que as pessoas já sabiam que eu canto.

A escolha da música partiu de você?

Ana Carolina partiu de mim. Sempre curti todos os estilos de música. Sempre acompanhei estilos de música diferentes do meu segmento. 

Vendo mais pessoas te reconhecendo na TV pela capacidade vocal, mesmo após muito anos de estrada, te dá vontade de fazer um álbum diferente, talvez na MPB ou samba?

Claro! Fazer um trabalho paralelo, diferente do que eu já faço. Mas não mudaria meu estilo. Na visão das pessoas mais leigas, que não conhecem nosso movimento, pensam que nós não temos cultura, conhecimento em outros estilos musicais. Por ser muito flow e intensa a nossa forma de ser, pensam: ‘Ah, ele não deve cantar MPB.’ Mas tem muitos que sabem, e eu sou um dos pioneiros que puxa a melodia e trouxe uma cara mais R&B e soul pro movimento.

Como é sua relação com o violino, instrumento que toca desde pequeno? Algum plano de usar nos shows?

Tocava mais na igreja, no culto. Mas, vira e mexe, pego meu instrumento, dou uma limpada e toco.

Recentemente você se aventurou no trap. Como foi essa mudança de estilo? 

Pra mim, é sempre uma forma de expressar meu sentimento, talento. Não é tão difícil. Às vezes na composição, pra achar algum beat que me inspire, é um pouco mais complicado. Mas por cantar, eu consigo me adaptar.

“Cheia de Marra 2” tem de volta o beat do funk, mas carrega o autotune do trap. Como foi misturar os estilos? Conta mais do relançamento dessa música.

A ideia é trazer mais atualidade. O autotune, aumentamos a velocidade do beat. Tentamos conservar, não pode perder a essência. Ela tem que fazer sentido, precisamos ouvir a 2 e lembrar da 1.

Como você encara o TikTok? Sente pressão para fazer músicas mais fáceis de viralizar?

Não sinto pressão assim. São momentos, fases. Eu acompanho a evolução, as tendências. Fiz algumas voltadas pro TikTok, mas não me entrego totalmente pra não ficar classificado apenas nesse momento. Não deixo de fazer funk que não precisa de dancinha, como eu sempre fiz. De repente, músicas que não fiz voltadas pro TikTok podem viralizar.

Você lança hits há quase 10 anos. Sente que o funk mudou muito de lá para cá? Como você faz para se manter atualizado?

Acompanhar a internet, estar ligado no que as crianças gostam. A juventude é muito importante e meu público teen tem aumentado bastante. É uma estratégia pra não perder a essência e não perder o público, que sempre vem mudando. As meninas e os meninos que tinham 14, 15 anos na época, hoje, já estão com 23. Outros tinham 5 anos e falam: 'Ouvia Livinho quando era muito pequeno, criança.' Hoje em dia ainda estão ouvindo. É muito legal presenciar essa mudança. Vejo que é muito importante ter esse público sempre jovem comigo. Sem menosprezar os outros públicos, que crescem. Temos que ser inteligentes pra lançar o que o público maior gosta de ouvir, mas não deixar de agradar às crianças. Prezo por isso, estar em todas as camadas.

Quando mais jovem, você mencionou muitos cuidados com a voz para lidar com uma rotina de 8 shows por noite. Como é sua rotina num final de semana agitado agora?

Um final de semana agitado é quando não tenho show, mas um monte de compromissos com família, viagens. Graças a Deus e graças a nossa dedicação e seriedade, cada show que passou foi um aprendizado. Fui estudando canto, música, dança - a dança me acompanhou desde pequeno, passei por vários estilos, sempre instintivamente. 

Hoje, querendo ou não, fez muita diferença pra mim. Minhas entregas são dois shows por fim de semana, com cachê elevado, com mais entrega, um espetáculo de sincronismo, dança e canto. É totalmente diferente de quando começou. Para época, era bom, mas fui aprimorando com cartas na manga pro fã olhar e falar: 'Que doido, mano! O Livinho é sempre desenrolado, tá sempre acompanhando a tendência. Olha o show dele!'

As pessoas faziam muitas comparações porque eu dançava, cantava afinado, apontam muito. Hoje, veem que, pro artista ser completo, precisa preencher algumas camadas. Tem que dançar, atuar, presença de palco, cuidar de voz, tocar um instrumento, ser versátil. Minha entrega de show tem sido de 1h30, dependendo do calor do show, mas é uma entrega maior. Diminuí a frequência de shows, aumentei o tempo, e enriqueci pra trazer um conteúdo top.

Que tipo de comparações você ouvia?

Comparação tipo: ‘Tá pensando que é o Chris Brown, tá pensando que é o Michael Jackson,’ de um jeito negativo. Não entendiam que eu estava levando minha arte, entretenimento. Achavam que eu estava copiando. Se copiar é fazer do jeito certo, então eu estava copiando. Pensava: ‘Que horas as pessoas vão entender que isso é o mínimo pra um artista?’. Creio que tá chegando a hora.

O que toca na sua playlist atualmente?

Um pouco de tudo. Ouço pagode, funk, black music, trap, R&B, soul. Não me limito. Passo pelos anos 1990, 2000, fico nessa viagem. Gosto de me sentir nas épocas e entender. Se você reparar, tudo se repete. Evolui muito, mas com um toque de coisas passadas. Às vezes a pessoa pega uma produção antiga, um groove e faz algo novo.

Você começou uma carreira como jogador de futebol uns anos atrás. Como foi a experiência e como está sua relação com o esporte agora?

Jogo bola na várzea, aqui e ali, mas não mais profissionalmente. Senti que é o momento certo de focar na minha carreira na música no pós-pandemia. Eu realizei o sonho de ser jogador. Não consegui meter gol no profissional, mas fiz nos jogos treino, dei assistência também. 

Algum projeto no forno?

Tem meu EP de trap soul com o Gaab, ideias de pagode acústico, um projeto de soul funk com novos arranjos pras minhas músicas, eletrônico. São tantos projetos que é só aguardar pra ver. As pessoas vão ver o quão grande é o talento do Livinho. A cada dia busco estudar, conhecer e me entender em relação à música pra entregar sempre mais amanhã do que hoje.