Small World, disco escrito na pandemia, vira as costas para o antecessor, Metronomy Forever, e marca fase otimista da banda antes de show no Brasil
Publicado em 03/12/2022, às 18h37
Não passou tanto tempo desde a última vez do Metronomy em solo Brasileiro. A banda de Joseph Mount esteve no país em 2019, com o disco Metronomy Forever (2019) - um projeto eletrônico, ousado e extenso. Apesar do curto período de três anos entre uma vinda e outra, houve mudanças disruptivas não apenas no planeta (com a crise econômica e sanitária), mas na forma de Mount encarar os próprios processos de composição para o Metronomy.
Assim como outros artistas, o músico aproveitou o período de lockdown para se debruçar em um álbum. No entanto, o tom está longe do pessimismo ou lamentação. “Queria que o disco soasse esperançoso. Fiz as faixas do ponto de vista da voz otimista invés da pessimista. Também fui influenciado pelo que estava sentindo sendo um pai enquanto tudo acontecia,” Joe explicou em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil.
Com uma discografia cada vez mais encorpada, Metronomy ainda pensa em inovar, e Joseph tem uma receita simples para isso: “Virar as costas para o disco anterior.” Assim, Small World é um álbum menor e “mais focado” que seu antecessor, voltado para experimentações eletrônicas.
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A ironia no título de Small World (2022) carrega uma referência a Paul McCartney, admirado por Joseph. A ideia é retratar aquelas situações em que encontramos pessoas conectadas a nós por meio de amigos, e então soltamos a frase: “Que mundo pequeno, não?”.
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"Meu nome de disco preferido, e terrível, é Memory Almost Full, de Paul McCartney. Eu pensei: ‘Uau, isso é tão profundo, porque Paul está velho e ele tem todas essas memórias.’ Então, perguntaram como ele criou o nome, e ele respondeu: ‘Bom, meu celular disse isso uma vez’ [Risos]. Não é um nome bom, mas gostei," explicou.
A relação com o Brasil também é de admiração. Com diversas vindas para shows solo ou festivais, Mount se encantou pela plateia, que consegue demonstrar “o quão divertido é estar neste país.” Além disso, edifícios de Oscar Niemeyer chamaram atenção. Durante passagem por Curitiba e São Paulo, banda aproveitou para fotografar obras e visitar pontos turísticos com assinatura do arquiteto. Brasília, toda projetada por Niemeyer, está na lista do vocalista:
Da última vez, gastei todo meu tempo fotografando a arquitetura de Oscar Niemeyer. Foi um ótimo jeito de me forçar a fazer algo. Ainda não estive [em Brasília], mas espero ir!
Confira entrevista completa de Joseph Mount, do Metronomy, à Rolling Stone Brasil sobre o disco Small World e show da banda em São Paulo neste domingo, 04, no Cine Joia:
Rolling Stone Brasil: O disco Small World soa otimista. Você se sentia assim enquanto escrevia, ou era uma forma de falar a si mesmo para enxergar o mundo dessa forma?
Joseph Mount: Foi uma mistura de tudo. A maior parte das músicas foi escrita durante o lockdown. Levei isso como uma inspiração, mas queria que o disco soasse esperançoso. Fiz as faixas do ponto de vista da voz otimista invés da pessimista. Também fui influenciado pelo que estava sentindo sendo um pai enquanto tudo acontecia. Uma combinação entre realidade, preocupações e otimismo.
Você imaginou essas músicas ao vivo enquanto produzia?
Pensei que nunca tocaríamos novamente, que talvez fosse o fim do mundo [Risos]. Mas isso não me fez parar de escrever. Eu não imaginei, mas não pensava muito nisso.
Metronoy Forever (2019), penúltimo disco da banda, tem uma sonoridade completamente diferente de Small World. Por que decidiu seguir por caminhos acústicos no álbum de 2022?
Eu não faria um álbum mais acústico que isso. Em Metronomy Forever, eu tive muitas ideias, é um projeto longo, com muitos sons eletrônicos feitos no meu computador. Desta vez pensei: ‘Quero fazer algo mais curto, focado, mais real e com instrumentos. Geralmente faço isso ao pensar em discos novos, viro as costas para o anterior para tentar fazer algo completamente diferente. Isso torna tudo interessante.
O álbum mais enxuto foi proposital então?
Sim. Às vezes me pergunto quando as pessoas querem muito conteúdo e quando querem menos. Minha conclusão é de que, seja lá o que você faça, precisa ser focado. Pode ser na quantidade de faixas, na ideia por trás… é necessário que haja algo para manter as pessoas conectadas.
Com o Metronomy, atualmente, as pessoas esperam álbuns, que não devem ser muito longos, nem muito curtos [Risos]. Precisa estar no meio.
Por que se chama Small World?
Tenho certeza que vocês também tem uma frase parecida. Quando você encontra alguém, e essa pessoa é amiga de um amigo seu, ou você conhece ela de alguma forma, sempre dizemos: ‘Que mundo pequeno!’ [Small World]. Senti que era uma frase descartável. Eu poderia ir ao Brasil, conhecer alguém e descobrir que é um amigo de alguém que mora aqui. ‘Que mundo pequeno!’. E, na verdade, é mesmo. Há bilhões de pessoas no mundo, e todos estão estranhamente conectados, mesmo que seja por meio de amigos de amigos de amigos... Todos compartilham o mesmo espaço, principalmente durante a pandemia, quando todos estávamos em uma situação precária. Ao mesmo tempo, estava na minha casa, com minha família de quatro pessoas, e isso era tudo que eu precisava neste tipo de micro mundo. Pensei sobre todas essas ideias.
Uma combinação entre o irônico e o literal.
Sim! Meu nome de disco preferido, e terrível, é Memory Almost Full, de Paul McCartney. Eu pensei: ‘Uau, isso é tão profundo, porque Paul está velho e ele tem todas essas memórias.’ E então, perguntaram como ele criou o nome, e ele respondeu: ‘Bom, meu celular disse isso uma vez’ [Risos].Não é um nome bom, mas eu gostei. Gosto de trabalhar neste nível, com essas coisas estúpidas e significados profundos.
Metronomy já esteve algumas vezes no Brasil. Vocês tiveram tempo para explorar as cidades?
Sim. Sempre temos um tempo de folga em São Paulo, algumas vezes no Rio de Janeiro. Da última vez, gastei todo meu tempo fotografando a arquitetura de Oscar Niemeyer. Foi um ótimo jeito de me forçar a fazer algo. Sempre tentamos explorar, é um país muito amigável, a plateia sempre nos recebe muito bem. Temos uma certa rotina em lugares como São Paulo, o que eu aproveito muito.
Vocês estiveram em Curitiba na última passagem, certo? Há algumas obras de Niemeyer por lá também.
Sim! Mas também há uma cidade inteira feita por ele… Brasília? Que ele desenhou todo o local. Ainda não estive lá, mas espero ir!
O público na América do Sul é realmente diferente? Sei que você não diria o contrário para mim…
[Risos] Mas realmente é! Especificamente no Brasil, há um orgulho… A maioria dos países tem um orgulho de serem eles mesmos, mas no Brasil, a plateia gosta de mostrar o quão divertido é estar neste país, e nós percebemos isso. Será muito divertido, sempre é! [Risos] É sempre muito empolgante para nós, assim como para os fãs. Nunca foi ruim, então dessa vez não será diferente.