Militantes? O real objetivo do Coldplay com turnês ecossustentáveis, segundo Chris Martin
Banda tem adotado uma série de procedimentos durante a “Music of the Spheres World Tour” para minimizar impacto ao meio ambiente
Igor Miranda
Publicado em 25/01/2024, às 17h00Iniciada em março de 2022, a atual turnê do Coldplay, Music of the Spheres World Tour, tem feito sucesso por onde passa. Só no Brasil, foram 12 apresentações, uma delas no Rock in Rio 2022 e as demais, no ano seguinte, distribuídas em três cidades: São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Todas tiveram ingressos esgotados.
Além de trazer os grandes hits da banda liderada pelo vocalista Chris Martin, a tour chama atenção por sua iniciativa ecossustentável. O grupo conseguiu reduzir em 50% sua emissão direta de carbono em comparação à excursão anterior, realizada entre 2016 e 2017. Para isso, usaram energia 100% renovável e instalações solares em todos os locais por onde passaram, além de recursos que permitiam gerar força a partir do movimento dos fãs — seja com bicicletas ergométricas energéticas ou pistas de dança cinéticas.
+++ LEIA MAIS: Rolling Stone Brasil lança especial digital sobre o Coldplay no país
Qual a motivação por trás? Martin e seus colegas — Guy Berryman (baixo), Will Champion (bateria), Jonny Buckland (guitarra) e Phil Harvey (empresário e diretor criativo) — querem apenas militar em prol da causa ambiental?
Errado. Os músicos garantem que, acima de tudo, o objetivo também é financeiro. Em entrevista à BBC Radio 4 (via NME), Chris explicou que quer provar como a abordagem sustentável “faz sentido para os negócios”.
“O que estamos tentando fazer, na verdade, não é defender nada: apenas provar que isso faz sentido para os negócios. Porque é aí que sentimos que você realmente fará as pessoas mudarem, dizendo: ‘ei, você pode ganhar mais dinheiro’.”
Ainda de acordo com Martin, há “muito mais pessoas do que se imagina” com interesse em cuidar do meio ambiente. É uma questão de “poder se dar ao luxo de se preocupar com isso”.
Caridade esquerdista? Chris Martin nega
Ainda durante a entrevista, Chris Martin reforçou que a intenção do Coldplay não é militar em prol de qualquer causa política com a turnê. Nem mesmo fazer caridade.
“Não é uma coisa de caridade, de esquerda ou insossa. É como: ‘não, não, este é o melhor sentido para os negócios também’.”
Coldplay e Music of the Spheres Tour
Em comunicado publicado na época do anúncio da turnê, o Coldplay explicou que contratou uma equipe de especialistas em sustentabilidade para investir a emissão de carbono da banda. De acordo com uma série de fontes compiladas pela Wikipédia, uma das iniciativas para reduzi-la foi a criação da primeira bateria recarregável móvel para shows, em parceria com a fabricante de automóveis BMW. Feita a partir de baterias recicláveis do BMW i3, ela é alimentada durante os shows com recursos renováveis, como óleo vegetal hidrotratado, energia solar e energia cinética.
Ainda assim, claro, há emissões que são inevitáveis. Estas foram compensadas com o plantio de uma árvore para cada ingresso vendido. Para tal, foi feita uma parceria com a One Tree Planted, entidade focada no reflorestamento global. O planejamento da tour também envolveu reduzir viagens aéreas (priorizando voos comerciais sempre que possível e ainda pagando uma taxa adicional para fornecer combustível feito com resíduos como óleo de cozinha usado) e recorrer a veículos elétricos ou movidos a biocombustível no transporte terrestre.
Já os palcos foram construídos “a partir de uma combinação de materiais leves, de baixo carbono e reutilizáveis, como aço reciclado”, sendo também personalizados para incorporar displays de baixo consumo de energia, lasers, configurações de iluminação e um sistema de PA que consumiu 50% menos energia, ajudando a reduzir o ruído ambiental externo. Da mesma forma, as torres de delay tinham turbinas eólicas.
Para efeitos especiais, o Coldplay recorreu a confetes biodegradáveis adaptados para exigir menos gás comprimido para ignição, enquanto a pirotecnia tinha novas fórmulas para reduzir ou eliminar produtos químicos nocivos e mitigar a carga explosiva. As tradicionais pulseiras Xylobands foram substituídas por pulseiras PixMob feitas de materiais 100% compostáveis. A banda se comprometeu a diminuir sua produção coletando, esterilizando e recarregando-as após cada show, embora a devolução em países como o Brasil não tenha sido de 100% por parte do público.
Além disso, para minimizar o desperdício de alimentos, foram criados cardápios de catering que ofereciam opções à base de vegetais e sem carne como padrão e adquiridos produtos de fornecedores adeptos de técnicas de agricultura regenerativa. A banda também declarou ter trabalhado com órgãos locais para estabelecer programas de reciclagem, substituir garrafas de água descartáveis por alternativas como copos de alumínio Ball, diminuir a descarga dos vasos sanitários e reduzir a pressão d’água.
Os resultados de todo esse cuidado serão divulgados ao fim da turnê. No entanto, uma atualização parcial datada de junho do ano passado já está disponível no site da banda.