Tendência no mercado da música, artistas consagrados e em ascensão vendem direitos de publicação para empresas por quantias milionárias
Dimitrius Vlahos (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 05/12/2021, às 15h00 - Atualizado em 17/12/2021, às 09h02
Mötley Crüe vendeu o catálogo de discos por até US$ 150 milhões, segundo a Variety. A revista ressaltou como outras fontes mencionaram valor menor, mas sem especificar a quantia. A BMG, empresa de gerenciamento e publicação de músicas, detém os direitos de todo material produzido pela banda desde 1981, quando estrearam, até o trabalho mais recente, o disco Saints of Los Angeles (2008).
As razões para artistas venderem o catálogo de produções são variadas. A visão de mercado, problemas pessoais e até a pandemia podem estar entre os motivos. Um dos exemplos é a tendência de queda do mercado de streaming nos Estados Unidos. Como prever qual será o futuro desses serviços? Há a possibilidade de avanços tecnológicos diminuírem o valor dos direitos autorais, como aconteceu com o surgimento do Napster no começo dos anos 2000?
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A quantia maior, recebida no momento da venda, evita preocupações com os próximos passos do mercado fonográfico e com a falta de shows durante a pandemia (parte importante da receita de muitos artistas).
Para as empresas compradoras, a negociação é bastante vantajosa no momento. Os royalties, licenciamento e acordos com marcas, antes recebidos pelos autores, irão para os novos donos. Assim, caberá a eles decidir em quais mídias (filmes, programas de TV e publicidade, por exemplo) as composições devem aparecer ou não.
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Pensando nisso, a Rolling Stone Brasil listou alguns dos principais artistas que venderam o catálogo de músicas. Confira:
Mars é autor de diversos hits, de discos solo e parcerias, como "Uptown Funk," de Mark Ronson - quem também negociou direitos de publicação. O cantor vendeu parte do catálogo a uma subdivisão da Warner Music Group, segundo a Billboard.
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Os valores e detalhes não foram divulgados, mas Bruno comentou a decisão: “Comecei minha carreira na Atlantic [gravadora pertencente à Warner], e fez sentido manter os negócios na família, com quem me apoiou e cresceu comigo. Estamos apenas no começo da jornada.”
Clássico do folk, Dylan também é conhecido pelo formato liberal de negócios adotados com relação às próprias músicas. Em 2016, o cantor disponibilizou os direitos de adaptar a discografia dele para roteiros de TV e cinema com a Amazon. Além disso, licenciou o nome dele para marcas de uísque e coleções de roupas.
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O cantor vendeu o extenso catálogo por R$ 1,5 bilhão para a Universal Music, segundo jornal The Guardian.
Shakira está longe da aposentadoria, mas optou pela venda dos direitos de publicação. Estão inclusos desde hits “Hips Don’t Lie” e “Wherever, Whenever,” até a parceria com The Black Eyed Peas, “Girl Like Me,” de 2020. O valor da negociação não foi divulgado.
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As composições futuras da cantora não fazem parte do acordo com a Hipgnosis Songs Fund Limited (empresa especializada na compra de propriedade intelectual), segundo a Billboard. Em declaração após venda, Shakira explicou a decisão: “Cada música é um reflexo de quem eu era quando escrevi. Quando as lanço, não pertencem apenas a mim, mas a quem as aprecia também.”
Com mais de 50 discos de estúdio lançados e participações em diversos grupos, Neil Young é um dos grandes nomes do folk. O cantor vendeu ao menos 50% das composições ao grupo Hipgnosis Songs Fund Limited, como Shakira. O valor da negociação, a qual envolve 1.180 faixas, ultrapassou R$ 800 milhões. A decisão do artista surpreende considerando como suas músicas eram vetadas de comerciais e até de serviços de streaming, segundo a Veja.
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O fundador da empresa, Merck Mercuriadis, ressaltou como o acordo “muda a Hipgnosis para sempre” (via Glamurama). O investidor ainda demonstrou grande apego pela música de Neil, a qual o acompanhou desde a infância.
O grupo de Las Vegas, famoso por hits dos anos 2000 como “Mr. Brightside,” comercializou os direitos de publicação com a empresa de investimentos Eldridge Industries, segundo a Variety.
Brandon Flowers, vocalista dos Killlers, demonstrou vontade de alcançar mais pessoas com a música: “Temos os melhores fãs no mundo. A rede da Eldrige entre televisão e cinema trará novas oportunidades para milhões de pessoas curtirem nossa música ao redor do mundo.”
A tendência no mercado fonográfico também chegou ao Brasil. Paulo Ricardo, quem possui discografia de sucesso com banda RPM e em carreira solo, vendeu parte do catálogo à Hurst Capital.
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A mesma empresa adquiriu os direitos de outros grandes nomes da música brasileira, como Toquinho e Luiz Avellar - quem arranjou faixas de Djavan, Gal Costa e Milton Nascimento - segundo o G1. O valor das vendas não foi divulgado.
Em novembro de 2021, o cantor negociou os direitos de publicação com a Sony Music. O valor do acordo foi cerca de US$ 500 milhões, segundo a Billboard (via NME). A venda inclui 20 discos de estúdio, EPs, singles e gravações ao vivo de Springsteen.