Nabiyah Be mostra versão mais vulnerável em álbum de estreia: 'Eu, quem eu sou'
Em conversa com a Rolling Stone Brasil, artista detalhou importância da carreira como atriz e reflexões íntimas em O Que o Sol Quer
Por Rodrigo Tammaro
Publicado em 27/02/2025, às 07h00 - Atualizado às 10h31
Dona de uma carreira já consolidada como atriz, Nabiyah Be estreia na música com a versão mais vulnerável de si. No disco O Que o Sol Quer, lançado em fevereiro de 2025, a artista dá voz à sua intimidade. Ela olha com atenção para as próprias raízes, fincadas no Brasil e na Jamaica, sem se esquecer do espírito itinerante de quem viveu parte da infância e adolescência viajando pelo mundo.
Em conversa com a Rolling Stone Brasil, Nabiyah Be dá mais detalhes sobre sua intimidade. Ela fala sobre o processo criativo do álbum, a importância dos trabalhos como atriz e revela o que o sol quer.
Estreia íntima
No álbum de estreia, a artista traz 14 músicas, que transitam entre o inglês e o português e despertaram a curiosidade das pessoas. Embora tenha ajudado nas primeiras impressões de O Que o Sol Quer, a mistura de línguas não foi exatamente intencional e reflete a identidade da artista enquanto pessoa.
Não foi muito pensado estrategicamente. Acho que foi muito a partir da minha vivência. Eu sou baiana, metade jamaicana, mas passei minha infância dos sete aos 11 anos em turnê pelo mundo, morei 10 anos em Nova York. Então, é muito natural para mim no meu dia a dia estar mudando de línguas. Não pensei isso na hora de compor e acho que reflete realmente a autenticidade do álbum.”
Quando fala sobre um trabalho feito “a partir da vivência” e sobre as experiências em turnês ainda jovem, Nabiyah se refere também ao pai, o ícone do reggae jamaicano Jimmy Cliff. No disco, a figura paterna aparece em meio a uma reflexão sobre a experiência da artista com o “universo masculino”, que inclui as experiências com o mundo.
No meio dessa reflexão, uma figura assume um papel importante: a serpente elétrica, que aparece nas músicas e na capa do disco e funciona como uma espécie de arquétipo, representando a forma com a qual Nabiyah se enxerga e se descreve em relação ao mundo.
A serpente elétrica é um símbolo de transformação. A sinceridade dela pode dar medo, assim como a Medusa. E é aquela coisa de como fazer da picada, como fazer do próprio veneno, o antídoto.”
O Que o Sol Quer é um “álbum sem gênero”, mas tem uma identidade bem definida. A percussão, tão característica da música produzida tanto no Brasil quanto na Jamaica, ajuda a dar uma unidade. Mas o destaque é a veia dos anos 1970 que orienta as canções.
“A gente passa muito pelo soul, tem a faixa ‘I Will Betray You’, talvez a mais raiz de soul music. Tem ‘Everybody’, que é bem R&B. E tem muito da música brasileira também, as faixas ‘O Que o Sol Quer’, ‘Caminhar’, são muito do meu gosto musical.”
A estreia ao vivo em grandes eventos acontecerá em 12 de abril de 2025 no Queremos! Festival ao lado de três nomes importantes da música brasileira contemporânea: Liniker, Yago Oproprio e Anelis Assumpção. Como estreante, Nabiyah reconhece a responsabilidade, mas está ansiosa para viver essa experiência.
O festival é a primeira vitrine da artista na música e uma conquista compartilhada com toda a equipe que participou do disco. Para o show, as expectativas estão altíssimas, com a promessa de uma apresentação de big band: “Estou feliz de ver como a gente vai trazer essas histórias e o conceito para o palco.”
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Da música para a atuação
Nabiyah Be estreia a carreira musical com o disco, mas não é nenhuma novata. Ela tem uma história já consolidada como atriz, um mundo que experimentou ainda criança. No teatro, participou de Hadestown, indicado a 14 categorias do Tony em 2019 e vencedor em oito delas, inclusive Melhor Musical. Ainda nos palcos, Be se tornou a primeira mulher negra brasileira a ganhar o Drama Desk Award 2018, um dos mais importantes prêmios de teatro dos Estados Unidos.
Nos cinemas, também quebrou barreiras e se tornou a primeira brasileira negra a estrelar um filme da Marvel ao interpretar a personagem Linda em Pantera Negra. “Foi meu primeiro filme, imagina. Saí do teatro fazendo algo super colaborativo, mesmo que tenha sido muito bem-sucedido, que foi o caso do Hadestown. Mas foi meu primeiro filme, então fui fazer cinema e já fui para o centro da maior máquina que existe”.
Nabiyah também trabalhou para as telinhas em Daisy Jones & The Six, na qual interpretou Simone Jackson e também ajudou a adaptar a personagem do livro para a série vencedora do Emmy.
“Fui muito acolhida. Ao nível de eles me permitirem fazer mudanças de roteiro, de arco da personagem. Eles realmente prezaram muito pela minha participação e isso foi muito legal, porque eu sou uma novata em Hollywood. Apesar de estar trabalhando há muito tempo, ainda sou uma novata. Então isso foi muito legal.”

Com uma trajetória já consolidada como atriz, a mudança para a música até assustou no início. Mas, como boa cria do teatro, Nabiyah aprendeu a se virar com o que tem. Vivendo de tudo um pouco, a artista encontrou em cada frente de atuação uma possibilidade diferente para se conectar com a arte — e com ela mesma.
Eu me conheci muito como pessoa, primeiro como performer. Para achar esse lugar do silêncio para compor, a paciência de aprender uma ferramenta nova, ou de realmente sentir que você domina um instrumento suficiente para que você possa compor com ele, é outra postura. Uma postura de humildade, como a cena pede, mas um pouco mais solitária, um pouco mais interna […] Talvez seja a primeira vez que as pessoas realmente estejam me conhecendo. Eu, quem eu sou.”
No meio de um convite à reflexão, de uma viagem íntima sobre coragem, amor e transformação, Nabiyah questiona em uma das músicas: “Where do you go from here?” [“Para onde você vai a partir daqui?”, em tradução livre]. A resposta está na ponta da língua: “Para muitos palcos ao redor do mundo, podem me esperar.”
E o que o sol quer? “Brilhar sem dar explicações, viver de coração aberto mesmo que doa. E se algumas pessoas se queimarem, responsabilidade de vocês.”
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