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Música / Música brasileira

“Não adianta eu reclamar, o sertanejo não vai mudar”, diz Guilherme Arantes

Cantor revelou sua crítica à “curralização da cultura pop”, mas aponta: “está na hora do Brasil sociologicamente pernambucano e paraibano reconhecer que Santa Catarina também é Brasil”

Igor Miranda (@igormirandasite)
por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 29/07/2024, às 09h29

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Guilherme Arantes (Foto: reprodução/Site Oficial Guilherme Arantes)
Guilherme Arantes (Foto: reprodução/Site Oficial Guilherme Arantes)

Embora seja receptivo com artistas contemporâneos, Guilherme Arantes mantém tom crítico ao abordar os cantores que tomam o mainstream atualmente — em especial do sertanejo. Agora, porém, reconhece que tais reflexões não seriam o bastante para provocar alguma mudança.

Em entrevista a Danilo Casaletti para o jornal O Estado de S. Paulo, Guilherme foi perguntado sobre uma entrevista mais antiga ao mesmo jornal, onde se mostrou desmotivado em relação à música brasileira como um todo. O repórter quis saber se o artista ainda tinha o mesmo sentimento.

Em resposta, Arantes se mostrou empolgado e disposto a fazer ele próprio a mudança que quer ver. Ele disse:

Os movimentos nascem da vontade de fazer algo novo, assim como Tom (Jobim), Vinicius (de Moraes), Roberto Menescal, Carlos Lyra e Baden (Powell) fizeram na bossa nova. Não adianta eu ficar reclamando. Não vou mais perder meu tempo em criticar. O sertanejo não vai mudar. É um mercado poderoso. Temos que respeitar.”

Ao continuar o raciocínio, o músico traçou uma conexão entre o mercado musical brasileiro e as ideologias políticas em confronto no país há anos. Ele afirmou:

O Brasil é agro também. Está na hora do Brasil sociologicamente pernambucano e paraibano reconhecer que Santa Catarina também é Brasil. Se não resolvermos isso, desanda tudo. É um problema de linguagem e não de ideologia. É ela quem fabrica a ideologia e não o contrário. O fascismo nasce dos signos, da gesticulação [Guilherme faz gesto de arma com as mãos], das frases e do discurso tóxico.”

Guilherme Arantes e o sertanejo

As críticas de Guilherme Arantes ao sertanejo não são novas. Em um show no Recife, realizado em 2015 (via Diário de Pernambuco), o cantor e teve uma conversa com o público onde disse que “nem eles próprios (os sertanejos) escutam o que produzem”.

Os comentários são destinados mais a uma “industrialização” da arte, não exatamente à capacidade dos músicos envolvidos. De volta à entrevista ao Estadão, ele disse:

“A partir dos anos 1990, houve uma ‘curralização’ da cultura pop nos ambientes dos shows. É o pagode, o sertanejo... As músicas passaram a ser feitas para funcionar nesse curral. Não há uma proposta aberta. Assim é no forró, na sofrência, no piseiro, no funk e no trap. Com isso, você perde em reflexão, em angústia, nesses sentimentos mais softs do ser humano. É um movimento mundial.”

Não quer dizer, porém, que Guilherme repudie tudo que é produzido atualmente no mainstream nacional. O artista citou alguns exemplos positivos em seu gosto, como Vitor Kley, Anavitória e Tiago Iorc.

A revolução de Guilherme Arantes

Por outro lado, os planos de Guilherme Arantes não envolvem nenhum desses artistas da atualidade. Para a Veja SP, no final de 2023, o artista revelou que não tem intenção de se aproximar musicalmente dos grandes nomes de agora: a ideia é olhar para trás para seguir em frente. Nas palavras do próprio:

Vou entrar em um período de muita produtividade. Não me interessa fazer parceria com Luísa Sonza, com os novos, como outros colegas estão fazendo. Me interessam os grandes, os antigos. Estou indo para trás, porque é assim que vamos resolver a charada da música brasileira para a frente. Quero desesperadamente ser maior do que eu sou.”

Ao Estadão, ele ainda criticou o que chama de minimalismo na música. Guilherme quer trazer um reencantamento para o cenário atual, em sua visão. Para isso o compositor não se importa em fugir dos algoritmos. Sobrou até mesmo uma leve “alfinetada” para o U2:

Tenho pesquisado as raízes da bossa nova. É um período de ouro puro. Muito mais que um ritmo, a bossa nova é um sistema harmônico. A nós [músicos e compositores] cabe gerar uma nova era de encanto, de romance, com música melódica. Ou seja, tudo o que os algoritmos nos negam. Ninguém aguenta mais o minimalismo. O minimalismo é insuportável! Aquelas músicas do U2 que não saem do Mi Mi Mi/Lá Lá Lá. Cabe a nós trazer o esplendor das canções, das melodias e das harmonias.”

O disco mais recente de Guilherme Arantes é A Desordem dos Templários, lançado em 2021. O trabalho foi gravado na Espanha, onde o músico reside por metade do ano. No material, o compositor retomou até mesmo os laços com o rock progressivo, gênero que marcou o início de sua carreira, na banda Moto Perpétuo.

Colaborou: André Luiz Fernandes.