Nem só de Axl vive o Guns N’ Roses
Banda americana realizou apresentação histórica no Allianz Parque, em São Paulo, mostrando que seu catálogo e sua performance transcendem críticas a seu vocalista
Felipe Fiuza (@fiuzzzaaa)
Na noite do último sábado, 25, o Guns N’ Roses fez no Allianz Parque, em São Paulo, o segundo de seus cinco shows pelo Brasil. A banda, liderada por Axl Rose (vocais), conta com Slash (guitarra), Duff McKagan (baixo), Richard Fortus (guitarra), Dizzy Reed (teclado e órgão), Melissa Reese (teclado e sintetizadores) e o novo integrante Isaac Carpenter (bateria). Desde 2022, quando tocou no Rock in Rio e fez uma longa turnê solo, o grupo não vinha ao país.
A abertura ficou — e está em toda a excursão — a cargo dos brasileiros do Raimundos, que enfileiraram as músicas mais populares da carreira, como “Mulher de Fases”, “A mais pedida”, “Puteiro em João Pessoa”, “I Saw You Saying”, “Me Lambe”, entre outras. Sobre a atração principal, não há como negar: o Guns N’ Roses segue sendo uma das maiores bandas de hard rock do planeta, prova disso são as apresentações lotadas mundo afora. Todavia, Axl não está em sua melhor forma vocal — e eu não cairei na armadilha de falar a respeito disso.

Há variações constantes na atual turnê, com o nome desnecessariamente longo de Because What You Want and What You Get Are Two Completely Different Things (“Porque o que você quer e o que você terá são duas coisas completamente diferentes”). Nas 40 performances realizadas até aqui, o grupo rodou por quase todo o seu enxuto catálogo, com cerca de 50 canções executadas. O setlist normalmente conta com 30 faixas, portanto, estão evidentes as alterações constantes. Por outro lado, duas coisas não mudam: o início com “Welcome to the Jungle” e o encerramento com “Paradise City”.

O lick introdutório de Slash na abertura, oriunda do álbum Appetite For Destruction (1987), invadiu o Allianz Parque às 20h em ponto. Difícil não se empolgar com a canção, já que foi uma das primeiras que ouvi do então quinteto. Certa feita um amigo me disse que se apaixonou por Guns quando estas mesmas linhas de guitarra chegaram aos seus ouvidos. Não duvido: é realmente uma baita música.
O septeto continua o show com “Bad Obsession” (Use Yout Illusion I, 1991), “Chinese Democracy” (Chinese Democracy, 2008), “Pretty Tied Up” (Use Your Illusion II, 1991), “Mr. Brownstone” e “It’s So Easy” (Appetite For Destruction, 1987). Algumas destas são lados B e deixam o público um pouco morno, mas servia de recado: o Guns dividiria os clássicos com faixas menos celebradas. Isso explica a duração do concerto: 3 horas e um tiquinho.

As recentes “The General” e “Perhaps”, disponibilizadas em 2023, e covers de “Slither” (Velvet Revolver, antiga banda de Slash e Duff McKagan) e “Live and Let Die” (Wings), fecham o que dá para definir como a primeira parte do set. Depois vieram “Hard Skool”, de 2021, e o cover de Jimmy Webb, “Wichita Lineman”, seguidas pelo tributo a Ozzy Osbourne — tendo direito à imagem dele no telão — com “Sabbath Bloody Sabbath” e “Never Say Die”. A apresentação continua nova retomada aos álbuns Use Your Illusion, com “Estranged”, “Yesterdays”, “Double Talkin’ Jive” e “Don’t Cry”.

Axl deu uma escapada para tomar uma água e trocar de camiseta e Duff McKagan assumiu os vocais em “Thunder and Lightning”, cover do Thin Lizzy, seguida por “Absurd”, de 2021, e “Rocket Queen” (de Appetite For Destruction, 1987), esta trazendo um solo gigante de Slash. Na sequência vieram “Knockin’ On Heaven’s Door”, cover de Bob Dylan, e “You Could Be Mine” (Use Your Illusion II, 1991), junto à introdução do nome de cada membro.
Um solo interminável de Slash deu início a — talvez a música que mais arrancou gritos do público — “Sweet Child O’ Mine”. O final da apresentação ficou por conta de duas dos álbuns Use Your Illusion — “Civil War” e “November Rain” —, além de “This I Love” (Chinese Democracy, 2008), “Human Being”, cover do New York Dolls, e duas do Appetite For Destruction (1987): “Nightrain” e “Paradise City”.

Entre marmanjos tatuados, patricinhas e velhos roqueiros, Guns N’ Roses agradou a todos, especialmente crianças que estavam em um show pela primeira vez (ouvi uns três pais comentarem isso). O dilema em torno da voz de Rose — sobre a qual, reforço, não cairei na armadilha de falar sobre — não incomodou; mesmo porque na grande maioria das músicas quase não se escutava seu vocal, de tanto que as pessoas cantavam junto.
Poder ver uma banda desse nível ao vivo, independentemente de questões de idade, é de arrepiar. Lembro-me do comercial de O Exterminador do Futuro II em que “You Could Be Mine” tocava enquanto um caminhão arrebentava uma ponte em perseguição ao personagem de Schwarzenegger. Fiquei louco para saber quem estava tocando. Essa magia não muda.
O Guns pode parecer uma banda formada pelos seus professores do primário, mas vale muito a pena assisti-los. Citando meu colega de bancada, Igor Miranda, que escreveu em outro artigo: “Axl Rose segue sofrendo da inconstância vocal percebida nas últimas duas décadas, com mais noites ruins do que boas, mas ainda com alto nível de entrega”, fico feliz de ter pegado uma noite boa.

Setlist:
- Welcome to the Jungle
- Bad Obsession
- Chinese Democracy
- Pretty Tied Up
- Mr. Brownstone
- It’s So Easy
- The General
- Perhaps
- Slither (cover de Velvet Revolver)
- Live and Let Die (cover de Wings)
- Hard Skool
- Wichita Lineman (Cover de Jimmy Webb)
- Sabbath Bloody Sabbath (cover de Black Sabbath)
- Never Say Die (cover de Black Sabbath)
- Estranged
- Yesterdays
- Double Talkin’ Jive
- Don’t Cry
- Thunder and Lightning (cover de Thin Lizzy)
- Absurd
- Rocket Queen
- Knockin’ on Heaven’s Door (cover de Bob Dylan)
- You Could Be Mine (Solo de guitarra de Slash)
- Sweet Child o’ Mine
- Civil War
- November Rain
- This I Love
- Human Being (cover de New York Dolls)
- Nightrain
- Paradise City
LEIA TAMBÉM: Slash nega residência do Guns N’ Roses na Sphere, de Las Vegas: não é um lugar ‘amigável ao rock’