A banda se juntou a artistas como Badauí, Supla e B Negão, além de atletas do skate, no single 'Nós Somos Família'; confira entrevista à Rolling Stone Brasil
Antes da pandemia de covid-19, o vocalista do Suicidal Tendencies, Mike Muir, passou meses — distribuídos em quatro viagens — no Brasil. “Consegui ver outras partes do país — mais de São Paulo e Santos”, contou em entrevista à Rolling Stone Brasil. “Geralmente, quando você sai em turnê, passa de cidade em cidade e vê apenas as estradas e o aeroporto.”
O desejo de Muir de retornar após a pandemia acabou se transformando em uma turnê do Suicidal Tendencies, e as amizades fortalecidas durante o período por aqui resultaram em um single.
“Nós Somos Família” reúne artistas nacionais como Badauí(CPM22), B Negão (Planet Hemp), João Gordo, Rodrigo Lima (Dead Fish), Supla, Fernanda (Crypta), Marcão Britto e Thiago Castanho(Charlie Brown Jr), além dos campeões mundiais de skate Sandro Dias e Pedro Barros.
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“É engraçado, porque muitas vezes as pessoas me perguntam: 'Ei, pode fazer isso? Pode fazer aquilo?' E eu digo que não posso. Então, odeio pedir coisas aos outros. Conheço algumas pessoas daí com as quais eu definitivamente faria algo, mas me sinto um pouco desconfortável pedindo”, confessou o cantor.
Muir afirmou que deixou “o trabalho sujo” — de fazer os convites para a colaboração — a um amigo. “Ele perguntou, e todos aceitaram, então me senti muito bem com isso. Não é algo fácil de se fazer. Na verdade, foi bem tocante poder fazer isso acontecer.”
“Nós Somos Família” é a primeira composição lançada pelo Suicidal Tendencies com o novo baterista, Jay Weinberg. A música foi gravada no Estúdio Central (Antigo RedBull Station), em São Paulo, e teve produção executiva de Alex Palaia, parceiro da banda no Brasil há mais de 10 anos. O produtor britânico Paul Northfield e o engenheiro de som brasileiro Rico Manzano também participaram do projeto.
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Muir revelou que o grupo não pôde gravar a faixa inteiramente no Brasil devido aos shows nos Estados Unidos: “Jay e todo mundo gravaram, depois enviamos ao Alex [Palaia] — eles meio que gravaram algumas imagens do processo, como decidiram quem cantaria o quê. Eu os deixei trabalhar nisso. Eles juntaram seus talentos e fizeram tudo funcionar. Tudo o que eu tinha que fazer era ouvir”.
Cada um estava em seu próprio país. Eles foram a um estúdio em São Paulo, e eu não pude ir até aí porque tinha esse grande festival em Los Angeles, com 45 mil pessoas. Então, não pude viajar até o Brasil, como eu queria. Teria sido ótimo. Mas eles filmaram e me mandaram algumas coisas.
“Quanto mais pessoas estão envolvidas em algo, mais difícil é — deixar todo mundo na mesma página, isso é muito complicado. Mas eles conseguiram e fizeram um trabalho incrível”, ponderou Mike.
O vocalista revelou que sua família e ele não entendem português: “A maioria das pessoas daqui não fala português, então elas ficam tipo: 'Isso é espanhol! Que tipo de idioma é esse? Não sei o que estão dizendo, mas é muito bom'”.
Ontem foi Dia dos Pais, estávamos juntos, e eu brinquei porque me mandaram a versão atualizada da música, e as crianças começaram a me imitar, fazendo os vocais em português — tentando pelo menos. Foi um momento bonito. Como um pai e alguém numa banda há tanto tempo, isso é ótimo. Música é sobre isso.
Confira o videoclipe de "Nós Somos Família" em primeira mão:
Mike Muir leva os conselhos de seu pai a sério e, por isso, citou vários deles ao longo da entrevista. “Meu pai sempre disse que idiomas juntam e separam pessoas”, lembrou. O frontman do Suicidal argumentou que algumas amizades, principalmente aquelas desenvolvidas durante a adolescência, são produtos de causalidades:
Quando você envelhece, percebe que existem pessoas de quem é amigo apenas porque viveram na mesma região, porque seus pais se conhecem, ou frequentaram a mesma escola, além de falarem o mesmo idioma. Há outras pessoas com as quais poderia ter uma amizade para a vida toda, mas não viveram na mesma região. E tem aquelas pessoas que você conhece e sabe que não quer ter nenhuma ligação com elas.
“Meu pai sempre disse para usar a música como uma forma de viver uma vida melhor”, continuou. “Uma vida melhor é quando você está cercado de pessoas que você ama e confia, pessoas que tornam momentos ruins em momentos um pouco melhores.”
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O pai de Muir também defendia que todos têm três famílias: “A primeira é a que você nasce: sua mãe, seu pai, seus irmãos e irmãs. Você não pode fazer nada sobre isso, só fazer funcionar da melhor forma possível”.
“Quando você fica mais velho, adolescente, começa a fazer amigos, e pensa que eles são sua família. Logo depois, descobre que não são. São apenas geograficamente convenientes, como eu disse. E aí você fica ainda mais velho e tem a oportunidade de fazer sua própria família”, acrescentou.
'Nós Somos Família' é tipo isso, é a família formada por pessoas das quais você quer estar perto, pelas razões certas. Essa é a música perfeita para expressar o que é o Suicidal. É mais do que música. Não é sobre ouvir música e esquecer dos problemas. É sobre ouvir música, pensar nos problemas e em como vai mudar isso, fazer a situação melhorar.