Baixista e letrista Nikki Sixx diz que artigo sobre cultura do cancelamento inspirou composição, levada a passagem de som em São Paulo
Publicado em 22/11/2024, às 08h30
Os fãs de Mötley Crüe tiveram acesso em 2024 às primeiras músicas inéditas da banda em cinco anos. O EP Cancelled, disponibilizado no último dia 4 de outubro, traz “Dogs of War”, a faixa-título e um cover de “Fight for Your Rights”, dos Beastie Boys. As canções também marcaram a estreia em estúdio do guitarrista John 5, na vaga deixada por Mick Mars.
Curiosamente, tudo começou a acontecer no Brasil. Em entrevista à Classic Rock, o baixista e líder criativo do Crüe, Nikki Sixx, revelou que a música responsável por batizar o EP teve suas origens concebidas quando a banda estava em São Paulo, em março de 2023, para apresentação conjunta com o Def Leppard no Allianz Parque.
Inicialmente, Sixx destacou o quão difícil é conseguir escrever letras que vão além do óbvio. Nesse sentido, sua estratégia é aproveitar declarações e acontecimentos ao seu redor como inspiração.
“Sou um artista de reação. Alguém diz algo e eu ouço e isso inspira um verso. Estávamos em turnê no Brasil, li um artigo sobre cultura do cancelamento [temática da música ‘Cancelled’] e escrevi algumas palavras. Não sei se as chamaria de ‘letra’, apenas uma espécie de esquema de rimas, no estilo da geração beat. Era um dia de folga. Olhei pela janela, os caras do Mötley e os caras do Def Leppard estavam saindo e indo para a piscina. Desci e disse: ‘Tommy [Lee, baterista], o que você acha de fazermos um grande groove legal para isso?’.”
Ao que tudo indica, a criação da faixa foi iniciada em 6 de março de 2023, um dia antes do show no Allianz. Já na data da apresentação, a passagem de som ficou marcada pelo trabalho conjunto dos músicos em tentar desenvolver a ideia.
“No dia seguinte, na passagem de som, estávamos apenas brincando com isso e John começou a adicionar suas partes. E nós criamos essa música ‘Cancelled’. Pensamos: ‘talvez façamos uma demo’. A ideia por trás das demos é que vale tudo — se for ruim, você joga no lixo. Ou se precisar de algo, você pode dar uma olhada. Não é um compromisso tão grande.”
As três novas músicas não devem ser as únicas do Mötley Crüe em tempos recentes. Nikki Sixx revelou ter mais composições para trabalhar junto da banda, que havia encerrado atividades em 2015, mas retornou em 2018 após o sucesso da cinebiografia The Dirt, disponível na Netflix.
“O tempo simplesmente passa quando você não está na rotina antiga de fazer turnês por dois anos, chega em casa esgotado, começa a trabalhar em outro álbum por um ano e depois volta a fazer turnê por mais dois. É tão bom estar onde estamos agora, porque apenas seguimos a criatividade e então descobrimos maneiras de conectá-la à banda. Contei à banda sobre essa música que escrevi outro dia, então talvez neste mês de novembro façamos uma demo. Se [o produtor] Bob Rock e a banda gostarem do resultado, então talvez entremos no estúdio e gravemos... pode ser daqui a um ano [antes de ser lançado].”
+++LEIA MAIS: Por que Mick Mars processa o Mötley Crüe após 4 décadas na banda
+++LEIA MAIS: O maior erro dos professores de música, segundo guitarrista do Mötley Crüe
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.