Ex-Titã é crítico do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas diz nunca ter se associado a algum tipo de militância
Publicado em 07/11/2024, às 08h00
Seja com os Titãs ou em carreira solo, Nando Reis abordou política por diversas vezes. No entanto, embora tenha se posicionado em ocasiões distintas, o artista garante que nunca esteve envolvido com nenhuma denominação partidária ou qualquer tipo de militância.
Em entrevista a Lucas Brêda para a Folha de S.Paulo, Nando relembrou que mesmo nos tempos de Colégio Equipe — escola de classe média em São Paulo, onde conheceu vários dos músicos que viriam a se tornar seus colegas de Titãs —, não tinha filiação a partidos. Seus posicionamentos são expressos a partir de ideias próprias, ele diz.
Sobre isso, Reis declarou:
Era só ver ao redor para perceber as coisas inaceitáveis que aconteciam no Brasil e no mundo. E falo isso porque sempre me mantive distante de uma certa militância, de movimentos estudantis. Sempre fui artista. É engraçado porque no Equipe a gente era chamado de alienado, p#rra-louca, bicho grilo. Sempre tive interesse por pessoas com pensamento próprio. Nunca fui de partido, não sou petista."
Apesar de fugir dos rótulos, o músico aponta a longevidade das canções críticas dos Titãs, criadas logo após o período da ditadura militar. O artista destaca que há margem para interpretações distintas e que até mesmo grupos que pensam de forma contrária a ele já utilizou as letras.
Ele afirma:
Aquelas músicas nunca deixaram de fazer sentido. Independente do contexto em que elas estavam inseridas, há um grau de abertura na interpretação —tanto que algumas foram usadas pela extrema direita. Por exemplo, ‘Bichos Escrotos’ na época da Lava Jato, e ‘Desordem’, em vídeos bolsonaristas."
Ainda durante a entrevista, Nando Reis traçou um paralelo entre o pós-ditadura e o pós-governo de Jair Bolsonaro no Brasil. Foi nessa segunda era, em 2023, que o músico se reuniu com atuais e ex-membros dos Titãs para a turnê “Encontro”, encerrada com apresentação no Lollapalooza Brasil, em 2024. Para esses shows, o nome do ex-presidente foi incluído entre os citados em “Nome aos Bois” — que vão de Adolf Hitler a Josef Stalin.
Fui muito atacado, caluniado, vítima de fake news. Mas a gente se manteve coerente. Foi a oportunidade de reiterar o que sempre fomos, e delinear as semelhanças dos momentos políticos e sociais —o pós-ditadura e o pós-Bolsonaro. Essa direita quer achatar as liberdades individuais e a diversidade e, nesse sentido, pensamos o oposto, defendemos a real liberdade."
Durante um dos shows da turnê em São Paulo, Nando fez um discurso antes da banda executar a faixa-título de Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987), onde criticou Bolsonaro. Na ocasião, o artista disse (via Estado de Minas):
O Brasil, logo depois da redemocratização, quando basicamente começamos, tinha ali uma promessa de futuro, tinha uma sombra de passado, uma perspectiva. E, de certa maneira, vivemos um quadro aterrador nos últimos quatro anos que faz com que esse reencontro tenha também conexão com o momento onde escrevemos aquelas canções. Por isso, elas estão ainda mais fortes, mais firmes, atuais e expressam aquilo que sempre acreditamos e estamos aqui para reiterar."
Já em show solo, em Maceió, no último mês de janeiro, o cantor pediu a prisão de Jair Bolsonaro no palco, ao dizer que só quando isso acontecesse “o Brasil teria jeito”. A declaração fez com que o vereador da capital alagoana Leonardo Dias (PL-AL) exigisse a suspensão do cachê pago ao artista, que se apresentou no Festival Verão Massayó, evento promovido pela prefeitura da cidade.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.