Nando Fernandes não segurou as lágrimas ao subir no palco, sem combinar previamente, para interpretar “Simple Man” com os ídolos
Publicado em 27/09/2023, às 10h02
Deu o que falar a segunda e mais recente passagem do Lynyrd Skynyrd pelo Brasil. A lendária banda de southern rock realizou duas apresentações em território nacional, nos dias 22 e 23 de setembro. A primeira se deu em São Paulo, no Espaço Unimed. A segunda foi realizada no Jaguariúna Rodeo Festival, um dos rodeios mais tradicionais do país, no município de mesmo nome, a 125 km da capital paulista.
O concerto em um rodeio, claro, geraria repercussão simplesmente pela circunstância. Embora Jaguariúna tenha recebido anteriormente atrações como Kansas, Chuck Berry e Creedence Clearwater Revisited, ainda é incomum uma banda de rock (mesmo com suas influências country notórias) em um evento dominado pela música sertaneja. Para dar ainda mais exposição, o show foi transmitido na TV e online.
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Mas a performance na capital também teve repercussão acima do esperado em função de um detalhe curioso: um cantor brasileiro subiu ao palco para interpretar uma música ao lado da banda. Trata-se de Nando Fernandes, vocalista de bandas e projetos como Sinistra, Brother Against Brother, Cavalo Vapor e The Grandmaster, além de ex-integrante do Hangar.
A canção escolhida foi nada menos que “Simple Man”, uma das mais conhecidas do repertório do Lynyrd Skynyrd. Cabe destacar que o momento não foi combinado: Nando estava na plateia como um fã qualquer e se aproximou do palco com um cartaz, pedindo para cantar o clássico do álbum (Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) (1973) ao lado de Johnny Van Zant (voz), Rickey Medlocke, Mark Matejka e Damon Johnson (todos guitarra), Michael Cartellone (bateria), Peter Keys (teclados), Keith Christopher (baixo) e Carol Chase e Stacy Michelle (ambas backing vocals).
Filmagens do momento renderam bastante nas redes sociais. Por elas, inclusive, dá para notar que Fernandes — curiosamente vestido com uma camiseta de Neil Young, criticado pelo Skynyrd no hit “Sweet Home Alabama” — não consegue conter a emoção e chega a derramar algumas lágrimas.
Confira alguns registros a seguir.
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A recente passagem do Lynyrd Skynyrd pelo Brasil foi apenas a segunda de sua carreira. A primeira ocorreu no festival SWU, em 2011. O retorno seria em 2017, para tocar no festival itinerante Solid Rock junto de Deep Purple e Cheap Trick, mas o grupo foi substituído pelo Tesla após problemas de saúde da filha de Johnny Van Zant.
Johnny, aliás, juntamente do guitarrista Rickey Medlocke, passou a ser — ainda mais — uma das figuras principais do Lynyrd Skynyrd após a morte do guitarrista Gary Rossington, em março último. Rossington era o último membro a gravar discos na fase considerada clássica da banda (da fundação em 1964 até 1977) que ainda seguia na formação. Apesar disso, estava afastado desde 2021 em função de questões de saúde.
O Skynyrd, vale lembrar, foi acometido por diversas perdas ao longo de sua trajetória. A mais conhecida foi ocasionada em 1977, por um acidente com um avião que transportava a banda. Seis pessoas foram mortas — incluindo o vocalista Ronnie Van Zant, irmão de Johnny; o guitarrista Steve Gaines e sua irmã e backing vocal, Cassie Gaines — e outras 20 ficaram feridas. Uma década depois, remanescentes optaram por continuar com o grupo como uma forma de homenagem (a primeira turnê foi até batizada Lynyrd Skynyrd Tribute) e trouxeram Johnny para os vocais.
Pouco a pouco, os músicos anteriores foram saindo ou, em maior parte, falecendo. Nos shows, o Skynyrd atual chega a homenagear todos eles: são 15 perdas no total. Ainda assim, o grupo opta por seguir mesmo sem qualquer integrante original ou que tenha participado dos discos clássicos.
Em entrevista ao site IgorMiranda.com.br, Medlocke — que chegou a ser baterista da banda entre 1971 e 1972, mas não deu tempo de participar dos álbuns — explicou que a decisão foi tomada com base no apelo dos fãs.
“Johnny e eu sabíamos que isso ficaria por nossa conta. Quando Gary faleceu, Johnny e eu ficamos muito tristes, muito próximos de encerrar. Daí, recebemos esses comentários, e-mails e mensagens de texto com as pessoas dizendo: ‘por favor, não deixe que isso seja o fim’. Então, concluímos que poderíamos continuar por um tempo. Foi tudo por causa dos fãs e da música. Os fãs amam a música e isso os faz voltar. Enquanto os fãs continuarem amando a música e se manifestando, ainda estaremos lá.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.