No segundo volume do novo disco, Chegamos Sozinhos em Casa, a Tuyo segue expondo inquietações e incômodos em uma sonoridade agradável e convidativa
Sem medo de expor as inquietações e dores interiores, a Tuyo traz, no segundo volume de Chegamos Sozinhos em Casa, novos desdobramentos acerca do encerramento de ciclos na vida adulta. A partir de líricas desconfortavelmente verdadeiras, o trio formado por Jean Machado, Lay e LioSoares discorre sobre desprender, ‘adultecer’ e compreender, mais uma vez, os significados e consequências das mudanças.
De modo ousado e extremamente honesto, a Tuyo não tem timidez ao revelar fracassos, erros e dificuldades em meio a este processo. É doloroso, mas é parte do desenvolvimento, amadurecimento e do incômodo em encontrar o próprio lugar. Não é segredo que um dos principais destaques da discografia da banda é o lirismo poético, identitário e comovente - no novo trabalho, isso se repete.
Chegamos Sozinhos em Casa Vol. 2, nova parte do segundo disco da carreira da banda, mostra o melhor do trio: lírica carregada, sonoridade singular, dançante e original, além de parcerias certeiras com grandes nomes da música brasileira. Os artistas convidados são Lenine, Drik Barbosa, Jonathan Ferr e o DJ e produtor musical RDD (Rafa Dias, do ÀTTØØXXÁ).
Embora mantenha o recurso de externalizar as dores interiores, com Chegamos Sozinhos em Casa Vol. 2, a Tuyo alcança um novo lugar. Ao desdobrar-se de maneira perfeitamente sensível em sonoridades mais maduras enquanto banda, o trio paranaense encontra uma profundidade complexa, mas conversável e, além disso, fascinantemente provocativa.
Anteriormente, ao refletir sobre a primeira parte do disco à Rolling Stone Brasil, o trio contou que com o novo projeto - dividido em dois volumes, além de uma versão deluxe -, quis apostar em elementos nos quais a banda sentia afinidade. Com permissividade e liberdade criativa, o grupo dialoga sobre processos desconfortáveis da vida humana: tudo junto e muito bem-encaixado.
Para Lio Soares, quem falou sobre a conexão das duas partes à Rolling Stone Brasil, "a principal diferença entre os dois volumes é a partir de que lugar que você olha para o objeto. Estamos falando da vida adulta, né?"
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"No volume 1, falamos sobre se compreender adulto a partir do estabelecimento do seu território. No volume 2, falamos sobre esse ciclo que todo mundo vive, sendo de elaborar um plano, e ver ele fracassar. Você se remói um tempo, de remorso, de arrependimento. Sinto que eles se completam e o contraste entre eles é um contraste baseado em maneiras diferentes de olhar para a mesma coisa," comenta.
A segunda parte do Chegamos Sozinhos em Casa segue conversando com a primeira, e há uma conexão afetuosa entre ambos os volumes. É compreensível a ideia da Tuyo em dividir o segundo disco em dois projetos complementares - as mensagens são densas, intensas e, com tamanha transparência, desconfortáveis.
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"O Chegamos Sozinhos Em Casa Vol. 2 é o assunto do Vol.1que não acabou. A vontade que tínhamos de continuar conversando com as pessoas que acompanham a banda, com as que não acompanham e com quem chegou agora. Enfim, é uma boa conversa," afirma Lio Soares. Sinceramente? Não poderíamos concordar mais.
Nas novas oito faixas, vamos "Do Lado de Dentro" e "Fracasso" ao "Pouco Espaço"- e é incrível o poder da Tuyo em continuar. Nada acaba junto da minutagem da música, as canções ressoam, provocam, dialogam e levam o ouvinte para aquela realidade lírica e melódica, sempre guiada por paisagens sonoras que parecem magicamente justapostas.
É no desconforto lírico - e até sonoro em alguns momentos -, que nos sentimos acolhidos, aconchegados e minimamente tranquilos por ouvir uma criação com uma carregada força identitária. Tudo isso potencializado pelos vocais suaves e potentes dos três integrantes: JeanMachado, Lio e Lay Soares.
"Do Lado de Dentro" foi a escolhida para abrir a viagem musical espetacular da Tuyo no segundo volume. Com produção de RDD (Rafa Dias, do ÀTTØØXXÁ), a faixa mescla percussão e sintetizadores de uma maneira significativamente única enquanto a lírica completa a missão de provocar o ouvinte.
De volta aos sintetizadores deliciosos e dançantes da banda, "Fracasso" traz uma parceria icônica com Lenine - e a combinação das vozes é um destaque da canção. "Todo fracasso é pra sempre, toda memória humilhante," lembra a banda em um tom confessionalmente debochado.
Em meio às confissões, chega "Saudade Impura". Dolorosa, sincera e repleta de significados, a música soa como um grito de desespero - daqueles que vêm da alma, sabe? Cantada por Jean Machado, a canção é, certamente, uma preciosidade e um dos principais momentos do disco.
Acompanhada da rapper Drik Barbosa, Tuyo traz uma lírica grandiosa em "Tem Dias": "Tudo o que eu tenho dentro foi você que trouxe." Das faixas do álbum, possivelmente, é a que mais se aproxima das primeiras músicas da discografia da banda: aquela combinação original do trio composta por violão e sintetizadores.
A viagem ganha um sentido enérgico com "Turvo". A quinta faixa parece feita para ouvir de olhos fechados e, como consequência, embarcar no universo imaginativo do grupo paranaense. Além de transbordar interpretações, a sonoridade e as vozes são perfeitamente encaixadas na canção: "Sou funda, vim para te afogar" - e aqui poderíamos facilmente falar da própria profundidade da banda.
"Hoje eu Quero Chorar" é um respiro triste ou, quem sabe, um reflexo de tudo o que foi compartilhado até aqui. A partir da energia dos sintetizadores, a canção brinca com o vem e vai das batidas eletrônicas e mescla com a sonoridade do violão em uma melodia comovente.
Desacelerando um pouco a intensidade do disco, a faixa-título "Chegamos Sozinhos Em Casa" diminui o ritmo enérgico e dá espaço para um desabafo mais intimista: "Eu só fiz o que já fizeram em mim."
Para concluir, a oitava e última faixa do Chegamos Sozinhos em Casa Vol. 2, "Pouco Espaço", em parceria com Jonathan Ferr e Shuna, é uma completa provocação e o passeio genial para encerrar essa viagem. Em qual pouco espaço não está cabendo nada?
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Chegamos Sozinhos em Casa Vol. 1e Vol. 2é um projeto essencial para se aprofundar nas singularidades da Tuyo. Dividido em duas partes, o segundo disco é uma resposta com ainda mais provocações aos lançamentos anteriores da discografia, o EP Pra Doer (2017) e o álbum Pra Curar (2018).
"Ainda não terminamos de dizer as coisas que tínhamos vontade na época do Pra Doer e do Pra Curar, ainda tinha mais coisas para falar e elas estão sendo ditas. [...] Estamos bastante felizes por conseguir começar uma conversa. Música é uma conversa, lançamos um assunto e vemos quem engata no papo. Sinto que viemos conversando com as pessoas há muito tempo e o assunto ainda não acabou. É uma sensação boa, né? Quando você começa a conversa e o assunto parece que nunca acaba," conclui Lio Soares.
Ao final dos dois volumes e com tantas verdades, provocações e emoções, nossa única sensação é: e agora? Lançado no dia 22 de julho, Chegamos Sozinhos em Casa Vol. 2já está disponível em todas as plataformas digitais.
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