Vocalista Dee Snider encontrou uma forma nada convencional de lidar com a dispersão do público em canções mais recentes do repertório
Publicado em 30/10/2024, às 08h00
Artistas veteranos costumam ter um problema quando lançam músicas novas: raramente há o mesmo apelo em comparação ao material antigo, clássico. Essas bandas que se mantêm na estrada após décadas vêm sendo chamadas de “legacy acts” e uma delas — já aposentada — tinha uma forma inusitada de lidar com a questão nos shows.
O vocalista Dee Snider tinha uma técnica para evitar a dispersão do público do Twisted Sister ao tocar material mais recente. A estratégia, revelada pelo guitarrista Jay Jay French em entrevista ao podcast Let There Be Talk (via Ultimate Classic Rock), era aplicada antes da execução de “30”, música lançada em uma edição comemorativa do álbum Stay Hungry, disponibilizada em 2009.
French contou:
A verdade é que, quando você aparece com uma nova música, a maioria das pessoas aproveita para ir ao banheiro. Gravamos uma música há muitos anos, chamada ‘30’, e começamos a tocá-la ao vivo. E Dee começou a dizer: ‘Ok pessoal, essa noite nós vamos tocar uma música nova. Eu vou dar vários avisos... é a música em que vocês vão sair e pegar um drink ou mijar. Estamos a três músicas da canção do xixi... estamos a duas músicas...’”
Segundo o guitarrista, o constrangimento fazia efeito. A plateia acabava permanecendo.
Ele constrangia tanto as pessoas que eles não saíam porque agora elas não queriam parecer uns babacas se levantando e saindo!”
O Twisted Sister esteve na ativa até 2016, mas seu último álbum de músicas inéditas foi Love is For Suckers, de 1987. Em 2006 a banda ainda liberou um disco natalino, que, assim como a inédita “30”, pode ter servido como um experimento. O grupo era um ferrenho defensor de não disponibilizar material novo após se firmar como artistas clássicos.
Um exemplo de “legacy act” que Jay Jay French enxerga como problemático é Bob Dylan. O artista de 83 anos segue na ativa até hoje, inclusive com novos discos e turnês para divulgá-los. Além disso, o guitarrista do Twisted Sister reclama das mudanças que Dylan promove nos clássicos ao vivo.
Sobre isso, French disse:
Dylan é indecifravelmente ruim (ao vivo)… você nem tem ideia. Se você é um conhecedor profundo de Dylan e o acha tão esotérico, você diz: ‘ele é um artista interpretativo — ele faz da forma que ele quer’. Mas as pessoas comuns não dão a mínima. Elas querem ouvir ‘Blowing in the Wind’ como ‘Blowing in the Wind’. Elas querem ouvir ‘Like a Rolling Stone’ como a ‘Like a Rolling Stone’ original. Elas gostam de ouvir uma música que soa meio como o disco, porque é disso que elas se lembram... mas Dylan não faz esse jogo.”
Bob Dylan tem excursionado com Willie Nelson na “Outlaw Music Festival Tour”. O show atual resgata material antigo do artista, que tinha sido deixado de lado na excursão anterior. De fato, desde 1988 ele tem feito diferentes apresentações que são consideradas extensões uma da outra, no que é chamado de “Never Ending Tour”. Seu álbum totalmente de inéditas mais recente é Rough and Rowdy Ways (2020).
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Colaborou: André Luiz Fernandes.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.