Vocalista citou amizade com os irlandeses e postura irônica deles que inspirou sua banda pouco tempo depois
Publicado em 18/08/2024, às 17h44
No início dos anos 1990, alguns artistas do cenário alternativo da década de 1980 começaram a definir melhor seu estilo, adicionando profundidade lírica à sonoridade pós-punk de onde se originaram. É o caso do R.E.M. e do U2, que em 1991 lançaram discos icônicos.
Em março, o R.E.M. disponibilizou Out of Time, seu sétimo álbum de estúdio, contendo o hit “Losing My Religion”. Nessa época o U2 ainda estava gravando o trabalho que seria lançado em novembro, também sétimo de sua carreira: Achtung Baby, que trouxe canções como “One”, “The Fly”, “Mysterious Ways”, entre outras.
O frontman do R.E.M., Michael Stipe, falou sobre o forte impacto que o álbum da banda irlandesa teve sobre ele. O vocalista explicou que a base do que ouviu em Achtung Baby só seria usada por seu grupo em Monster (1994). Antes disso, os americanos ainda lançaram Automatic For the People (1992), sem grandes diferenças de sonoridade.
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Ao Kyle Meredith With (via Far Out Magazine), Stipe contou:
Eles estavam aplicando essa distância irônica a si próprios, para serem capazes de se derrubarem enquanto figuras públicas. Aquilo teve um impacto profundo em mim. Como amante de música, e também amigo daqueles caras, achei fantástico o que eles estavam fazendo e foi minha coisa favorita que eles já fizeram. Então, nós pegamos o mesmo tipo de distância irônica, acidentalmente, eu acho. Eu não acho que fizemos de propósito, mas usando o glam rock como uma base, foi isso que Monster se tornou.”
Achtung Baby não foi o único momento do U2 a deixar Michael Stipe impressionado. O artista também comentou a respeito do single “Beautiful Day”, do álbum All That You Can’t Leave Behind (2000), que lhe causou um sentimento dúbio:
Eu amo aquela música. Me deixa com raiva não tê-la composto.”
A faixa realmente parece ser especial. Em entrevista para a revista Mojo em 2010 (via Songfacts), o guitarrista do U2, The Edge, falou sobre a composição e o toque final adicionado por Brian Eno, que assina All That You Can't Leave Behind como um dos produtores, ao lado de Daniel Lanois. A dupla também produziu Achtung Baby. O músico disse:
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A canção passou por várias diferentes encarnações e apesar de sempre sentirmos que ela tinha algo, era meio difícil ver para onde ela estava indo. Realmente, o momento em que ficou divertido foi quando Bono chegou na letra: ‘It’s a Beautiful Day’. De certa forma, parece uma letra meio banal, mas combinada com a música, algo maluco aconteceu e todos nós reconhecemos isso. Então a contribuição de Brian foi aquela fantástica introdução com a batida de bumbo Euro e a linha de teclado, e isso nos deu a dica de para onde devíamos seguir depois.”
Antes de Achtung Baby, o U2 vinha de altos e baixos. Se Joshua Tree (1987) fez com que a banda fosse levada a sério e alcançasse um status maior, Rattle and Hum (1988), acompanhado de seu filme, fez com que o grupo fosse taxado de “sério demais” e “pretensioso” pela crítica. Obviamente, era hora de seguir uma nova direção.
Em sessões que se dividiram entre Berlin e Dublin, a banda irlandesa fez experimentos e passou por tensões internas, ficando até perto da separação em alguns momentos. A capa e o título do álbum foram escolhidos para causar confusão mesmo, para que ninguém entendesse o que viria dali.
Achtung Baby também deu origem à turnê Zoo TV, uma das mais famosas já feitas pelo U2. A superprodução contava com muitos telões passando imagens que iam da guerra em Sarajevo, na Bósnia, até comerciais, vídeos aleatórios e todo o tipo de coisa, com a intenção de criar uma espécie de “overdose sensorial” no público.
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Durante o show – que contava com oito músicas de Achtung Baby logo de cara, representando uma ruptura com o passado da banda –, Bono interpretava alguns personagens. Com The Fly, o vocalista era provocador e satirizava o conceito de rockstar egocêntrico e megalomaníaco. Já o Mirror Ball Man era uma crítica aos televangelistas americanos e outros vendedores da mídia, enquanto o MacPhisto era basicamente o diabo “traduzido” para o mundo moderno.
A dinâmica do concerto era de muita crítica e um certo humor autodepreciativo, indo contra a imagem séria que o U2 tinha até ali. Bono filmava cenas com uma pequena câmera que eram exibidas nos telões, além de literalmente “zapear” por canais de TV, algo que seria inovador até para os conceitos atuais.
A apresentação deu origem ao álbum seguinte, Zooropa (1993) e foi o responsável pela grande guinada na carreira dos irlandeses. A turnê é comemorada até hoje pelos fãs, com referências a ela sendo comuns em aparições da banda ao vivo. Achtung Baby representa o U2 encontrando seu verdadeiro lugar no mundo, no que parecia impensável até poucos anos antes.
Colaborou: André Luiz Fernandes.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.