Clássico trabalho mencionado pelo guitarrista foi a fagulha necessária para o desenvolvimento de sua carreira na música
Publicado em 17/09/2023, às 10h00
Uma banda como o Rage Against the Machine não nasce da noite para o dia. É o tipo de situação que leva muitos anos de preparo de todos os envolvidos — e um pouco de destino ou sorte para que eles se encontrem em algum momento.
No caso de Tom Morello, além dos estudos em Ciência Política (ele é graduado pela Universidade de Harvard) que fortaleceram a ideologia do grupo, foi necessário ser submetido a referências diversas no mundo do rock. E um disco em especial foi decisivo para que ele seguisse na música, possibilitando a criação do RATM.
De acordo com um depoimento do próprio à Louder, o álbum em questão é um dos mais emblemáticos da história do rock: Never Mind the Bollocks… Here’s the Sex Pistols. Lançado em 1977, é o único trabalho de estúdio da carreira do Sex Pistols, banda seminal no punk rock. A sonoridade simples e o visual nada rebuscado mostraram a ele que era possível entrar neste universo sem ser “espetacular”.
“Fui arrebatado pela majestade do rock. Quando criança, eu tinha pôsteres do Kiss e do Led Zeppelin na parede do meu quarto. Não conseguia acreditar que existia algo tão emocionante e comovente quanto o rock 'n' roll. Em 1976, quando eu tinha 12 anos, vi o Kiss em Chicago, e aquele show foram as duas horas mais emocionantes da minha vida. Mas a majestade disso estava além da minha compreensão. Eu era uma criança em um porão em Illinois e essas pessoas eram fabulosas e espetaculares. Eu não era espetacular. Mas então eu li sobre os Sex Pistols na revista Creem. E comecei a tocar guitarra em uma banda 48 horas depois de ouvir Never Mind The Bollocks.”
O período foi tão impactante na vida de Morello que até hoje ele se recorda, com detalhes, de como tudo aconteceu.
“Eu estava no Honda Accord da minha mãe, na casa de um amigo, e comprei a fita cassete. Assim que coloquei para tocar, não saí do carro até terminar. Foi meu momento de revelação do punk rock. O momento em que os céus se abrem e você pensa: ‘ah, muitas daquelas músicas que eu gostava até agora não são mais tão importantes’. E também as tornou acessíveis. Eu não conseguia tocar como Jimmy Page e eu não tínhamos esperança de morar em um castelo em um lago escocês, mas eu poderia fazer aquele som do Sex Pistols hoje mais tarde. E fiz. Fui ao meu clube de teatro e anunciei que uma banda estava sendo formada, e eu era o guitarrista. Guitarrista porque eu tinha no armário há quatro anos uma guitarra que nunca havia tocado. Minha jornada no rock 'n' roll começou ali mesmo.”
A banda formada por Tom Morello na ocasião se chamava Electric Sheep. Isso, segundo ele, aconteceu em 1981. Outro músico futuramente conhecido integrou o projeto: Adam Jones, conhecido pelo trabalho com o Tool.
“Havia três bandas em nossa escola. Uma era uma banda pop de garotos bonitos, a segunda era uma banda de bad boy, de metal, e depois éramos nós. Os outros tocavam covers, mas fazíamos nossas próprias coisas. Para ser honesto, não éramos bons o suficiente para fazer covers! Soávamos como uma mistura de Devo, The Clash e Sex Pistols. Mas não durou muito.”
Em 1986, Tom se mudou para Los Angeles com intenção de “seguir seus sonhos rock and roll”. Segundo ele, foi “horrível”. Mesmo formado, era um perrengue danado. Sem arrumar emprego, chegou a trabalhar como gogo boy.
“Achava que Los Angeles seria uma meca para músicos brilhantes, uma ilha com vários músicos tipo Steve Vai [guitarrista virtuoso], mas era uma ilha de vários Faster Pussycat [banda glam da década de 1980]. Ninguém me queria na banda deles. ‘Qual é o tamanho do seu cabelo?’. Mas descobri que havia outra cena em Los Angeles: a cena de Jane’s Addiction, Fishbone, Red Hot Chili Peppers. As regras eram completamente diferentes lá. Aquele era um mundo de excêntricos no qual fui recebido de braços abertos . E esse foi um caminho que eventualmente levou ao Rage Against the Machine.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.