Guitarrista do Led Zeppelin compartilhou reflexão ao comentar sobre IV, um dos álbuns mais aclamados da história do gênero musical
Publicado em 05/12/2024, às 13h20
Fã de rock que nunca se deparou com o discurso “bons mesmos eram os álbuns de antigamente” provavelmente está tendo uma experiência isolada com o gênero musical. De fato, os trabalhos mais aclamados do estilo foram gravados décadas atrás. E Jimmy Page, responsável por alguns desses discos, tem uma explicação para isso.
Em entrevista de 2014 à Classic Rock (via Music Radar), o guitarrista do Led Zeppelin foi convidado a refletir sobre a força do álbum sem título de 1971, conhecido como Led Zeppelin IV. O registro em questão vendeu mais de 35 milhões de cópias em todo o planeta.
Inicialmente, ele concordou quando o entrevistador apontou como o lado A do vinil — que traz em sequência os clássicos “Black Dog”, “Rock and Roll”, “The Battle of Evermore” e “Stairway to Heaven” — é poderoso. Page diz:
“É bom, não é? Você tem toda a sensação da criatividade desta banda. Está chegando com força total. Está mostrando todo o quadro do que esta banda é musicalmente. Não há dúvidas sobre isso neste momento.”
Surgiu, aí, a teoria de Jimmy para explicar o porquê dos álbuns antigos soarem tão bem em comparação aos mais recentes. Para ele, o diferencial estava no fato de as bandas, naquela época, terem que tocar juntas em estúdio para gravar suas músicas.
“Eram performances realmente honestas. Se você gravasse uma música, ela não seria gravada uma palavra de cada vez e toda juntada com o ProTools [programa de edição musical muito usado a partir dos anos 1990]. Essa é uma maneira de fazer as coisas. Não estou dizendo que isso seja necessariamente errado, porque eu realmente gosto do que eles fazem com a mixagem moderna. Mas naquela época era uma performance real – você sente a dinâmica e é uma mixagem manual.”
Por fim, o músico inglês acabou recorrendo a uma palavra da qual não é grande fã:
“A coisa toda é realmente… eu não quero usar a palavra ‘orgânico’, mas você sabe o que quero dizer!”
Em outro momento da conversa, outro ponto importante para as antigas bandas de rock foi destacado por Jimmy Page: naqueles tempos, preocupava-se com o álbum como um todo. Nos últimos anos, o mercado musical voltou a priorizar os singles. Ao comentar a definição da ordem das faixas de Led Zeppelin IV, ele disse:
“Estávamos criando álbuns para o mercado de álbuns, que é o que todo mundo estava fazendo fora dos singles pop. Era importante ter o fluxo e a ascensão e queda da música e o contraste, para que cada música tivesse mais impacto contra a outra.”
Perguntado se cogitou colocar “Stairway to Heaven” no final do álbum como um todo — em vez de encerrar apenas o lado A —, Page respondeu:
“Não, não, não! ‘When the Levee Breaks’ tinha que encerrar. Você teve sua declaração de abertura, que é o lado A do disco. Mas eu achei que ‘Levee Breaks’ tinha que terminar o quadro sonoro geral do que tínhamos feito, porque ela era tão sinistra. É sinistra, densa e iria perturbar as pessoas. Depois de acariciá-las com ‘Stairway’, agora você vai perturbá-las! Mas é disso que se trata, não é? Conjurar todas essas emoções diferentes.”
+++ LEIA MAIS: Jimmy Page: como surgiu a boa relação do músico com o Brasil?
+++ LEIA MAIS: Era difícil trabalhar com Jimmy Page? O próprio responde
+++ LEIA MAIS: O grande mérito do Led Zeppelin, segundo Jimmy Page
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.