O guitarrista que recusou os Rolling Stones — e não se arrepende
Fama de “perigosa” ostentada pela banda inglesa contribuiu para decisão de músico alemão, que também negou mais convites incríveis
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 03/03/2025, às 19h37
Entrar para os Rolling Stones é um privilégio que poucos guitarristas tiveram ao longo da carreira. Depois da morte de Brian Jones, em 1969, Mick Taylor assumiu a vaga e ficou até 1974. Ronnie Wood chegou no ano seguinte e não saiu mais, formando dupla com o membro fundador Keith Richards.
Porém, houve um músico que recusou fazer parte da lendária banda – e disse “não” a vários grupos. Trata-se de Michael Schenker.
O artista alemão é lembrado por suas passagens por Scorpions(grupo fundado por seu irmão, o também guitarrista Rudolf Schenker) e UFO. Também capitaneou projetos solo, como o Michael Schenker Group.
Tal currículo poderia ser ainda mais potente. A respeito do convite para um teste com os Stones, o artista contou, inicialmente, em entrevista a Eddie Trunk (via Rock Celebrities):
Recebi uma ligação, tinha acabado de entrar para o UFO (em 1973), foi provavelmente no mesmo mês, uns dois meses depois, não me lembro. Eu não tinha um telefone, tinha que ir até a proprietária de minha casa para atender o telefone e havia um pedido: ‘você gostaria de fazer um teste para os Rolling Stones?’.”
Diante da surpresa, Schenker afirmou ter prometido ligar depois — o que obviamente nunca fez. Mesmo assim, o irmão de Rudolf Schenker acredita ter tomado a decisão certa, ainda que por um medo infundado.
Michael disse:
Por eu ter desligado, nunca tive a conexão (com a banda). Sou feliz por não ter tido, porque eu não queria ir tão longe assim. Provavelmente hoje eu não estaria vivo se eu tivesse entrado. Mas talvez isso fosse só em minha imaginação, do que as revistas mostravam, de como eram loucos esses músicos, nem sempre é verdade.”

Evitando o fim de outro guitarrista
A fama de banda “perigosa” ostentada pelos Rolling Stones afetou mesmo a reação de Michael Schenker ao ser convidado para um teste. À revista Classic Rock, o guitarrista chegou a lembrar do precoce falecimento de Brian Jones, aos 27 anos, quando lhe perguntaram sobre a possibilidade.
Não! Eu nunca tinha gostado dos Stones naquela época. E aquela banda era perigosa. Pessoas morreram!”
As recusas de Michael Schenker
Um dos guitarristas mais influentes do hard rock, Michael Schenker recebeu mais convites de grandes artistas e bandas. Todavia, era difícil convencê-lo de aceitar.
Depois da passagem pelo Scorpions (de 1969 a 1973), do tempo com o UFO (de 1973 a 1978) e o breve retorno à banda do irmão (1978-1979), o músico definiu que faria apenas o que queria. Desejava total liberdade criativa e paz, sem ser tentado pela fama.
O próprio explicou:
Eu faço a música que desejo fazer, música com a qual me conecto. Tem muita autoexpressão em minha música. Não seria bom para nenhuma daquelas bandas que me convidaram para entrar. Teria sido completamente uma ‘bad trip’.”
Além dos Stones, Schenker diz não ter aceito uma oferta do Deep Purple nos anos 1990. Antes disso, Whitesnake, Thin Lizzy, Mott the Hoople e Motörhead supostamente tentaram recrutar o músico, todos no fim da década de 1970.
A recusa mais famosa de Michael Schenker aconteceu quando Randy Rhoads morreu em um trágico acidente aéreo, em 1982. O alemão era um dos ídolos do jovem guitarrista da banda de Ozzy Osbourne.
O Madman, então, fez o convite, relembrado por Schenker em conversa com a Classic Rock (via Guitar.com):
Recebi uma ligação de Ozzy Osbourne no meio da noite, gaguejando, me pedindo para ajudá-lo porque Randy Rhoads tinha morrido em um acidente de avião.”
Michael admite que sentiu-se atraído pela oferta. No entanto, optou por manter os compromissos que tinha com o Michael Schenker Group, que gravava o disco Assault Attack (1982) com o vocalista Graham Bonnet (ex-Rainbow).
Para não recusar diretamente, Schenker adotou uma estratégia curiosa:
A única forma que consegui pensar para sair do trabalho com Ozzy foi fazer exigências absurdas, então foi o que eu fiz. Em seu livro (Eu Sou Ozzy), Ozzy disse que eu pedi um jato particular. E isso é verdade, mas foi só para ele me dispensar.”
Ozzy teve que terminar a turnê de 1982 com guitarristas “interinos”, como Bernie Tormé e Brad Gillis, até Jake E. Lee ser contratado de modo efetivo, no fim do ano. Já Michael Schenker seguiu com seus projetos solo, relativamente pouco famosos, mas cheios da liberdade pela qual o músico guiou sua carreira.
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Colaborou: André Luiz Fernandes.