“CHORANDO, MAS NÃO DE ALEGRIA”

O incrível teste de Chester Bennington para entrar no Linkin Park, narrado pelos colegas

Vocalista gravou demo com uma canção que só se tornaria conhecida do público três anos após a sua morte em 2017; sua chegada mudou o estilo da banda

Igor Miranda (@igormirandasite)

Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, em 2014
Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, em 2014 - Foto: Chiaki Nozu / WireImage

Uma das grandes “cartas na manga” do Linkin Park, banda que adquiriu enorme popularidade na virada do século, era a performance de Chester Bennington. O cantor, que nos deixou em 2017, tinha uma voz poderosa, responsável por dar bastante personalidade ao som da banda.

Embora fosse jovem quando começou a se envolver com o Linkin Park — em 1999, ele tinha 23 anos —, Bennington teve um trabalho anterior com outro grupo: Grey Daze, com quem gravou dois álbuns, Wake Me (1994) e …No Sun Today (1997). Ambos os discos ficaram fora de catálogo devido a problemas com a gravadora.

Com o projeto encerrado, Chester foi recomendado por um colega, Jeff Blue, em março de 1999, para os membros de um grupo que ainda buscava um cantor: o Xero, futuramente nomeado Linkin Park. O vocalista se juntou a Mike Shinoda (voz e vários instrumentos), Brad Delson (guitarra), Dave Farrell (baixo), Joe Hahn (sintetizadores) e Rob Bourdon (bateria) em uma união que conquistou o mundo.

Em 2020, Shinoda, Delson, Farrell e Hahn relembraram ao canal oficial do Linkin Park (via site Igor Miranda) qual foi a reação deles ao ouvir a voz de Bennington pela primeira vez. Inicialmente, eles contaram que o saudoso colega gravou uma demo de “Pictureboard”, música que acabou disponibilizada oficialmente apenas no relançamento deluxe do álbum de estreia Hybrid Theory, no fim do ano em que a entrevista foi concedida.

Brad Delson declarou:

“Acho que ‘Pictureboard’ foi a primeira que ouvi na voz de Chester. Lembro de pegar a fita e perguntar para os caras o que eles achavam, pois Chester havia acabado de se candidatar. E eu estava… não chorando de alegria, mas quase chorando. Tipo, uau! Não sei nem o que senti.”

Mike Shinoda e Chester Bennington, do Linkin Park (Foto: Jason Squires / WireImage)

Mike Shinoda e Chester Bennington, do Linkin Park – Foto: Jason Squires / WireImage

 

O guitarrista destacou, ainda, as capacidades vocais de Chester Bennington já na primeira demo. Ele disse:

“Era uma voz pequena e vulnerável nos versos, daí você ouvia todos os timbres e harmonias na parte pesada. Aquilo me deixou impressionado e nós falamos na hora: ‘precisamos conhecer esse cara’.”

Talento de Chester Bennington não era só em estúdio

Na sequência, Mike Shinoda destacou que o talento de Chester Bennington foi comprovado novamente nos primeiros ensaios. O multi-instrumentista comentou:

“Éramos muito protetivos com a identidade da banda, com o que queríamos fazer. Tínhamos essa visão do que deveria estar no foco, e ainda não estava lá, mas queríamos acertar. Quando Chester chegou, não podíamos parar de falar sobre o quanto ele era talentoso. Quando fizemos nossas primeiras demos, ele ainda estava se descobrindo como vocalista.”

Linkin Park em 2003
Linkin Park em 2003 – Foto: L. Cohen / WireImage

 

Ainda durante o bate-papo, Shinoda pontuou que a chegada de Bennington fez o Linkin Park trabalhar, mesmo que aos poucos, na construção de uma nova identidade. Ele declarou:

“Não foi como se ele tivesse só cantando alguma coisa e eu ficasse ‘uau’. Foram pequenos passos. Pensávamos em como ele poderia se expressar de forma única e como isso se encaixaria na nossa música. De início, eu o gravava cantando, depois dizia o que achava, então, foi um progresso lento.”

A busca por uma identidade

A música “She Couldn’t”, gravada nos primórdios e lançada como single apenas em 2020, já antecipava um pouco da identidade do Linkin Park, só que ainda mais para o futuro. Shinoda arremata:

“Ele não grita na música, não há guitarras pesadas, e isso indicava nossa identidade mais adiante, lá para os anos de 2007, 2010. Estava tudo lá, só tínhamos que descobrir.”

Hoje, o Linkin Park segue com Emily Armstrong na vaga deixada por Chester. Porém, sempre ao falar a respeito de seu antigo cantor, os remanescentes adotam um tom respeitoso e garantem: ele é insubstituível.

Veja também:

 

+++ LEIA MAIS: A banda que impediu o Linkin Park de atingir o topo da parada nos EUA
+++ LEIA MAIS: As 3 melhores músicas do novo álbum do Linkin Park, segundo crítico da Rolling Stone
+++ LEIA MAIS: O grande diferencial do novo álbum do Linkin Park, segundo Brad Delson
+++ Siga a Rolling Stone Brasil @rollingstonebrasil no Instagram
+++ Siga o jornalista Igor Miranda @igormirandasite no Instagram

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Começou em 2007 a escrever sobre música, com foco em rock e heavy metal. É colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022 e mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, revista Roadie Crew, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram e outras redes: @igormirandasite.
TAGS: Chester Bennington, Linkin Park