Baterista do Pearl Jam e Soundgarden concorda que artistas e grupos do passado apresentam uma sonoridade mais própria
Publicado em 10/06/2024, às 11h40
Fãs de rock serão praticamente unânimes ao apontar como as bandas do passado soam diferenciadas em comparação aos grupos atuais. Por vezes o argumento esbarra no saudosismo, mas também há certa coerência em destacar tais distinções. Afinal de contas, eram outros tempos, e artistas contratados por grandes gravadoras tinham um alto investimento — o que permitia trabalhar com mais calma em seus “produtos”.
Matt Cameron acredita, especificamente, que as bandas dos anos 1980 e 1990 tinham algo de especial. Em entrevista à rádio 95.5 KLOS (via Ultimate Guitar), o baterista do Pearl Jam e Soundgarden, dois dos maiores expoentes da chamada cena grunge — que viveu seu auge no início da última década do século 21 —, refletiu sobre o assunto.
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Para o músico, o grande charme dos artistas e grupos do período mencionado é o fato de todos terem “seu próprio som”. Isso valia para qualquer subgênero do rock, não apenas o alternativo.
“Muitas bandas dos anos 1980 e 1990 simplesmente tinham seu próprio som. Tipo, Sonic Youth não soava como ninguém, Scratch Acid não soava como ninguém, Big Black não soava como qualquer outro, Jane’s Addiction, Guns N' Roses. E todas as nossas bandas de Seattle soavam bastante únicas.”
Ainda de acordo com Cameron, não houve uma tentativa orquestrada de encontrar uma sonoridade única. Em relação ao movimento grunge, bandas como Nirvana, Alice in Chains, Mudhoney e os próprios grupos dos quais o baterista faz parte atingiram a originalidade de forma orgânica.
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“E não estávamos intencionalmente tentando soar diferentes. Foi assim que saiu. Estávamos realmente tentando nos expressar da maneira mais honesta possível. Acho que muitos dos grupos daquela época apenas se mantinham criativamente por conta própria.”
Parceiro de Matt Cameron no Soundgarden, o guitarrista Kim Thayil refletiu em entrevista a Pete Thorn (via Killer Guitar Rigs) sobre o diferencial específico do grunge. Inicialmente, ele destacou uma compilação chamada Deep Six, gravada em 1985 e lançada no ano seguinte. O material trouxe músicas de seis bandas de Seattle: Melvins, Green River, Malfunkshun, Skin Yard e U-Men, além do Soundgarden. Ali, segundo Kim, já era possível notar uma “identidade estilística particular” que ele define da seguinte forma:
“Ficou claro que havia uma série de bandas que surgiram do movimento indie underground punk que usavam ritmos mais lentos ou padrão em oposição aos modelos hardcore.”
Ainda segundo o guitarrista, levou algum tempo até que a banda tivesse consciência do mencionado diferencial — usar ritmos mais lentos e arrastados em relação a outras bandas.
“Quando começamos, tocávamos rápido e em tempos mais padrão. Nem sabíamos que estávamos fazendo isso, apenas tentamos tocar um pouco rápido, ao mesmo tempo em que acomodávamos os vocais. Chris [Cornell] não era propenso a gritar e berrar muito rápido atrás da bateria com algum compasso estranho. Nosso interesse nos tipos de coisas que estávamos compondo, na maneira como tocávamos, meio que se afastou do hardcore.”
Thayil destacou que o hardcore exerceu, sim, influência na cena grunge. Contudo, o movimento era um pouco mais diverso.
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“Havia algumas outras bandas mais hardcore na cena, como Melvins e Malfunkshun. Mas o Malfunkshun tinha esse tipo de inclinação para bandas de metal, como Venom e Mercyful Fate. Os Melvins eram realmente artísticos, mas eram definitivamente uma banda de punk rock ou hardcore. Então, da noite para o dia, eles começaram a tocar de forma desacelerada e fazer coisas realmente pesadas, alucinantes e estranhas. E isso estava acontecendo também com o Green River. Quando o Green River foi formado, as conversas que Mark [Arm, vocalista do Green River e posteriormente Mudhoney] e eu tivemos antes da formação do Green River ou do Soundgarden eram sobre nossos interesses e influências de bandas como os Stooges.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.