Baixista do Black Sabbath conta que sofreu com a doença por toda a vida, mas só foi diagnosticado corretamente aos 50 anos de idade
Publicado em 15/11/2024, às 11h02
A Organização Pan-Americana de Saúde estima que mais de 300 milhões de pessoas sofram de depressão em todo o mundo. No Brasil, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 11 milhões de cidadãos têm a doença — mais de 5% da população.
É um problema de saúde que deve ser tratado com seriedade. No entanto, de acordo com Geezer Butler, nem sempre foi assim.
O baixista contou ao Talk Shop Live (via Blabbermouth) que demorou bastante para ser corretamente diagnosticado porque, em décadas passadas, as pessoas tratavam depressão como uma simples tristeza, a ser resolvidas com medidas básicas. Ele conta:
A menos que você tenha experimentado uma depressão verdadeira, você não pode descrevê-la. É como se você estivesse indo para um buraco negro horrível. E as pessoas diziam, tipo: ‘ah, vá tomar uma bebida ou leve o cachorro para passear’. Era o que os médicos costumavam dizer. ‘bem, vá assistir televisão ou leia um livro’.”
Fosse tão fácil assim, Butler e milhões de outros pacientes teriam se curado. O lendário baixista de heavy metal destaca que, obviamente, não era o caso. Então, seu refúgio se tornou a música.
Claro, você não tem interesse em nada disso. Então, a única maneira de me expressar foi escrevendo a letra de ‘Paranoid’ (música do Black Sabbath). Eu não estava deprimido o tempo todo, mas quando eu tinha crises de depressão, simplesmente não conseguia explicar para ninguém. Tinha medo de ir a um profissional de saúde mental e te colocarem em uma instituição mental, em um hospital, por anos. Você tinha que seguir em frente. E a única maneira de tirar isso de mim era compondo música.”
Hoje com 75 anos, Geezer Butler só foi corretamente diagnosticado com depressão em 1999. À época, tinha 50 anos. Ele comenta:
Em 1999, eu finalmente fui diagnosticado corretamente, e eles me deram um antidepressivo por seis semanas. E o médico disse: ‘Não vai funcionar imediatamente. Continue tomando por seis semanas e, no fim, você começará a se sentir normal novamente’. E eu disse: ‘Bem, o que é normal?’. Depois de seis semanas, essa grande nuvem pareceu se dissipar. Foi ótimo.”
Em outra entrevista, ao Bullseye With Jesse Thorn, o baixista do Black Sabbath contou que às vezes sentia “surtos ocasionais” de depressão. Porém, isso aconteceu por décadas — até encontrar um médico que, enfim, conseguiu encontrar sua condição clínica.
Eu não conseguia falar com ninguém sobre isso. As pessoas costumavam pensar que eu estava mal-humorado e infeliz. Diziam: ‘Bem, o que há de errado com você? O que aconteceu com você?’. Mas nada de ruim havia acontecido. Aí falavam: ‘Você tem todo o dinheiro que quer, uma casa, carros e tudo mais. O que há de errado com você? Anime-se’. Não conseguiam entender que não era nada disso. Você pode ter tudo o que você possivelmente pode querer no mundo, mas quando você entra naqueles dias sombrios e deprimentes, nada importa.”
Butler garante, porém, que não sentia vergonha de sua condição. Apenas se chateava por não ser compreendido.
Se você é um astro do rock ou algo assim, se você está em uma banda, você deveria ser essa pessoa feliz, com tudo disponível para você. É como se não pudesse ficar deprimido. Foi difícil aceitar isso e admitir que era essa a minha realidade. E era apenas uma coisa ocasional. Eu não ficava deprimido o tempo todo. Mas quando eu entrava naqueles buracos negros, não conseguia sair disso. E foi só quando foi diagnosticado que eu finalmente encontrei uma maneira de sair disso.”
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.