O surpreendente significado de “Have You Ever Seen the Rain”, do Creedence Clearwater Revival
Caráter autobiográfico da composição assinada por John Fogerty passou batido até mesmo pelos alvos dos versos: seus próprios colegas de banda
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 11/04/2025, às 16h39
Algumas bandas não precisam de muito tempo para fazer história. O Creedence Clearwater Revival foi fundado em 1959, mas sua carreira discográfica foi construída apenas entre 1968 e 1972, com sete álbuns em quatro anos. Até hoje, mais de meio século depois, ainda são falados e celebrados.
Uma das “culpadas” por isso é a canção “Have You Ever Seen the Rain”, talvez seu maior hit. Lançada no álbum Pendulum (1970), a música atingiu o topo da parada canadense e a oitava posição nos Estados Unidos. Segue um enorme sucesso, pois em 2023 ultrapassou a marca de um bilhão de streams no Spotify.
A letra, assinada pelo vocalista e guitarrista John Fogerty, oferece múltiplas interpretações. Fora a mais literal, há quem entenda que a composição discuta o declínio da contracultura da década de 1960. Porém, o autor garante que sua intenção era refletir apenas sobre as tensões dentro do Creedence Clearwater Revival, responsáveis por dar fim ao grupo pouco tempo após a saída de seu irmão, o guitarrista Tom Fogerty.
Em entrevista de 1993 à Rolling Stone, John disse:
“Essa música é, na verdade, sobre a iminente separação do Creedence. A imagem é: você pode ter um dia claro, lindo e ensolarado, mas pode estar chovendo ao mesmo tempo.”
Em outra entrevista, à American Songwriter, Fogerty citou que o verso específico “have you ever seen the rain comin’ down on a sunny day?” (“você alguma vez viu a chuva cair em um dia ensolarado?”) faz referência direta aos sentimentos de desconforto e tristeza da banda justamente no auge de sua fama. O grupo havia estourado logo com seu primeiro álbum, homônimo, de 1968, e viu a popularidade crescer com os trabalhos seguintes, ao emplacar hits como “Proud Mary”, “Born on the Bayou”, “Bad Moon Rising”, “Down on the Corner”, “Fortunate Son”, “Up Around the Bend”, entre outros — tudo em aproximadamente dois anos.
Embora fosse a mente criativa do Creedence, John temia a separação. Em entrevista a Howard Stern, ele refletiu:
“Parecia que tudo estava se desintegrando, de fato. A metáfora de ver a chuva cair em um dia claro e ensolarado parecia ser o que éramos. Aqui estávamos nós, realizando todos os nossos sonhos, tudo ótimo. Em vez de sermos felizes, parecíamos estar infelizes.”
Apesar da “indireta”, os colegas de banda não perceberam a temática. “Have You Ever Seen the Rain” era tocada normalmente por Tom Fogerty, o baixista Stu Cook e o baterista Doug Clifford sem que notassem: a letra versava sobre eles.

O fim do Creedence Clearwater Revival
Insatisfeito com o controle criativo de John Fogerty, seu irmão, Tom, deixou o Creedence Clearwater Revival em 1971. A banda continuou como trio e John, frustrado com as brigas, propôs: a partir dali, tudo viraria uma democracia, com os demais também contribuindo criativamente. O resultado foi Mardi Gras (1972), álbum que é considerado por muitos o pior do CCR.
Também com problemas na parte empresarial, o Creedence encerrou suas atividades naquele mesmo ano. Nunca mais retornou. Tom morreu em 1990, aos 48 anos, em decorrência do vírus HIV — supostamente contraído em uma transfusão sanguínea realizada durante uma cirurgia nas costas.
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