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Música / “HABILIDADE INCRÍVEL”

O tipo de situação que mostra a genialidade de Ozzy Osbourne, segundo Zakk Wylde

Guitarrista sempre defendeu talento inato do cantor, ainda que esse aspecto nem sempre seja devidamente compreendido por uma parcela do público

Igor Miranda (@igormirandasite)
por Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 19/12/2024, às 16h04

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Ozzy Osbourne e Zakk Wylde em 2006 (Foto: Frederick M. Brown/Getty Images)
Ozzy Osbourne e Zakk Wylde em 2006 (Foto: Frederick M. Brown/Getty Images)

Ainda que seja um dos maiores nomes da história do heavy metal e do rock como um todo, Ozzy Osbourne muitas vezes não é lembrado como um grande músico. O fato de ter sido acompanhado por instrumentistas extremamente habilidosos ao longo de sua carreira, curiosamente, ofusca um pouco de seu talento artístico.

Na opinião de Zakk Wylde, isso é uma grande injustiça. De acordo com o guitarrista, que entre idas e vindas trabalhou com o cantor por décadas, Osbourne tem um dom inexplicável para a música, especialmente no processo de criação. É uma questão que transcende qualquer estudo ou domínio técnico.

Em entrevista à Guitar World, Wylde abordou essa capacidade do Madman ao relembrar a composição de “I Don’t Want to Change the World”. Presente no álbum No More Tears (1991), a faixa se tornou um dos grandes clássicos da carreira solo do artista — e sua versão ao vivo em Live & Loud (1993) chegou a ser premiada com um Grammy de Melhor Performance de Metal com Vocais em 1994.

Zakk declarou:

“O engraçado com Oz é que, quando eu tocava coisas como tipo ‘I Don’t Wanna Change the World’, de início eu só estava brincando, fazendo riffs, cantarolando coisas malucas. Mas Ozzy ouviu algo ali que fazia sentido para ele. Quando ele pegou o riff, pensei: ‘você está de brincadeira, né?’. Mas ele transformou isso em uma música vencedora do Grammy.”

Na sequência, Wylde trouxe a constatação sobre o dom de Osbourne. Ele pontuou:

“Oz tem uma habilidade incrível de ouvir o que funciona e perceber onde está a faísca que o riff criou nele. É um verdadeiro dom que ele tem. E ele tem feito isso desde o primeiro dia no Black Sabbath e com Randy Rhoads [primeiro guitarrista de sua carreira solo].”

E não era apenas com linhas de guitarra que Ozzy demonstrava esse talento inato. Suas próprias melodias vocais saem “prontas”, conforme pontuado por Zakk.

“Eu tocava riffs para Ozzy, e ele instintivamente dizia ‘sim, isso é bom’ ou ‘não, não estou sentindo que seja bom’. O mesmo com suas linhas vocais. Eu diria que nove em cada dez vezes a primeira coisa que ele canta é a melhor. A primeira coisa que ele cria é a melodia. E seu grande dom é ser capaz de cantar uma contramelodia sobre um riff.”

A missão de Zakk Wylde ao trabalhar com Ozzy Osbourne

Ainda durante a entrevista, Zakk Wylde explicou qual considerava ser sua missão ao trabalhar com Ozzy Osbourne. O guitarrista exaltou o trabalho dos habilidosos antecessores a ele na vaga — o já citado Randy Rhoads, falecido em 1982, e Jake E. Lee, músico que saiu em 1987 —, mas apontou que, em contraponto à técnica dos colegas de instrumento, visava uma abordagem diferente.

“Sei das grandes linhas de guitarra que foram criadas por Jake E. Lee em ‘Bark at the Moon’ e Randy Rhoads em ‘Crazy Train’, por exemplo. Essas músicas são parte da minha educação como guitarrista e devo tocá-las corretamente [ao vivo]. Mas senti que meu trabalho como guitarrista do Ozzy era trazer algo que mantivesse todos os elementos da música juntos da mesma maneira que meus antecessores. Tudo que absorvi como uma esponja serviu para minha própria execução. Não é roubar ou pegar emprestado; apenas se torna parte do seu conhecimento.”

Um gigante dos vocais

Em entrevista de 2021 ao site Igor Miranda, Zakk Wylde disse enxergar Ozzy Osbourne como um dos maiores vocalistas da história do rock — embora seja raro que ele receba tal crédito. O músico comparou o “patrão” a contemporâneos como Robert Plant (Led Zeppelin), Ian Gillan (Deep Purple), Rod Stewart e Steve Marriott (Small Faces, Humble Pie), mais lembrados por suas capacidades.

“Nunca entendi esse papo sobre Ozzy. Ozzy é um ótimo cantor, é só escutar tudo do Sabbath. É f*da, os vocais dele… eu colocaria os vocais dele no Sabotage (álbum de 1975) contra qualquer um dos contemporâneos dele. Seja Robert Plant, Ian Gillan, Rod Stewart, Steve Marriott, quem qualquer um deles. Os vocais dele no Sabotage são incríveis.”

A habilidade criativa de Osbourne também foi exaltada por Wylde na ocasião. Ele disse:

“Em todos os meus anos com Oz, raramente o que ele cantava no disco não era a primeira coisa que ele bolava. Que ele ficava burilando, não gostava do que estava cantando e tentando achar a melodia. Eu ficava tocando, ele ficava procurando e eu te garanto que a primeira coisa que saía da boca dele era a boa. Tudo nas músicas ‘No More Tears’, ‘Mama I’m Coming Home’, ‘Miracle Man’, ‘Crazy Babies’… tudo era de primeira e sempre matava a pau.”

Zakk ainda revelou uma teoria bem particular a respeito do talento de Ozzy para criar melodias. Para o guitarrista, a paixão do vocalista pelos Beatles fez com que ele desenvolvesse um senso musical muito forte enquanto compositor.

“Isso vem do amor dele pelos Beatles. É natural, porque é assim que ele ouve. A melodia que ele bota em ‘Symptom of the Universe’, como que ele bolou aquilo? Era simplesmente o que ele escutou e cantou. É fenomenal. Eu diria que ele é o rei da melodia mesmo, cara.”

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Igor Miranda (@igormirandasite)

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.