ENTREVISTA

Offspring no Brasil: Noodles fala à RS sobre shows, popularidade e música nova

Ao lado de Sublime, Rise Against, The Damned e mais, banda realiza turnê pelo país promovendo o álbum Supercharged — mas já de olho no futuro

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 03/03/2025, às 12h00 - Atualizado às 12h00
Dexter Holland e Noodles, do Offspring, durante show - Foto: Marcelo Hernandez / Getty Images
Dexter Holland e Noodles, do Offspring, durante show - Foto: Marcelo Hernandez / Getty Images

Namore alguém que te trate como o Offspring trata o Brasil. Não aceite menos do que isso! A banda californiana de punk rock/pop punk retorna ao país, nesta semana, pela décima segunda vez. Só no pós-pandemia, eles estiveram aqui em três ocasiões: Rock in Rio 2022, Lollapalooza Brasil 2024 e agora, para uma superturnê com ares de festival itinerante, promovendo o novo álbum Supercharged (2024) junto a Sublime, Rise Against, The Damned, Amyl & the Sniffers e The Warning.

O lineup completo, com todas as bandas, poderá ser assistido em São Paulo e Curitiba. Já em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre, o grupo formado por Dexter Holland (voz e guitarra), Noodles (guitarra), Todd Morse (baixo), Brandon Pertzborn (bateria) e Jonah Nimoy (guitarra) irá se apresentar com algumas das “atrações colegas”. Confira abaixo o itinerário anunciado:

  • 5 de março: Offspring + Amyl & The Sniffers no BeFly Hall, Belo Horizonte
  • 6 de março: Offspring + Sublime + Rise Against na Farmasi Arena, Rio de Janeiro
  • 8 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning no Allianz Parque, São Paulo
  • 9 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning na Pedreira Paulo Leminski, Curitiba
  • 11 de março: Offspring + The Warning no Pepsi On Stage, Porto Alegre
  • Ingressos à venda no site Eventim

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Noodles destacou que é sempre um prazer tocar para os fãs brasileiros, descritos por ele como “loucamente enérgicos e apaixonados”. Desta vez, porém, há um diferencial: a banda trará seu show completo, com produção própria e um repertório que também deve incluir canções de Supercharged, e até algumas faixas menos lembradas do passado.

O guitarrista destinou uma parte da conversa para falar sobre as demais atrações. A respeito do recém-reunido Sublime, destacou estar ansioso para conhecer Jakob Nowell, filho do falecido frontman Bradley Nowell que torna possível esta volta. Também admitiu não ter tido oportunidades de conversar com o baterista Bud Gaugh, mas revelou ser grande amigo do baixista Eric Wilson, descrito como “um amor de pessoa”.

Embora esteja ligado em bandas novas, Noodles disse conhecer pouco do The Warning — “mas ouvi as músicas e achei ótimas”. O guitarrista fez elogios ao “fenomenal” Rise Against, com quem dividiu o palco em outras ocasiões, e destacou seu apreço pelo Amyl & the Sniffers. “Nunca os vi ao vivo, mas sou um grande fã e os discos são ótimos. Amo os dois mais recentes. Eu estava preocupado com esse último (Cartoon Darkness, 2024), tipo: ‘será que eles vão decair?’. Mas não, é ótimo”, comentou.

Contudo, as palavras mais entusiasmadas vieram sobre The Damned, lenda do punk e atração mais antiga desta turnê. Ele disse:

“Sou um grande fã de The Damned. Em um ponto eles assinaram com a Nitro Records, quando Dexter ainda estava no comando, e lançaram o álbum Grave Disorder (2001), que é fenomenal. Conversei com Captain (Sensible, guitarrista) e Rat Scabies (baterista) algumas vezes. Fizemos um cover de ‘Smashed It Up’ no festival de Glastonbury (1995). Tem um grande solo de bateria no meio e Ron (Welty, ex-baterista do Offspring) errou o solo. (Risos) Rat Scabies estava bem na lateral. Então ele continuou comprando bebidas para Ron a noite toda, fazendo Ron ficar bêbado. Somos grandes fãs. Tocamos com eles há pouco tempo em um festival na Europa e eles estão mandando bem como sempre.”

O que esperar dos shows (além de “Come to Brazil”)

Noodles evitou dar detalhes mais específicos a respeito do repertório que o Offspring tocará no Brasil. Porém, ele adiantou que a banda deve incluir músicas diferentes em relação à turnê de 2024 — e revelou ter posições rotativas no setlist, o que pode favorecer mudanças de canções entre cidades.

“Quando se tem um novo álbum, o desafio é encontrar o que funciona ao vivo. Além disso, encontrar faixas menos conhecidas de outros discos que podem ser adicionadas. Invariavelmente, vamos deixar de tocar a favorita de alguém. Estávamos em Montreal e um cara realmente queria ouvir a faixa-título do álbum Smash (1994). Daí ele apareceu e gritou comigo no bar depois do show: ‘Por que vocês não tocam ‘Smash’? P#rra!’. E então saiu correndo. (Risos) Uau, cara, desculpe! Não dá para tocar todas as músicas.”
Noodles, guitarrista do Offspring (Foto: Kristy Sparow / Getty Images)
Noodles, guitarrista do Offspring - Foto: Kristy Sparow / Getty Images

Ao que tudo indica, a única certeza é: Come to Brazil será tocada. Lançada como um dos singles de Supercharged, a faixa brinca com os típicos comentários feitos por internautas brasileiros nas redes sociais de artistas e bandas, pedindo por visitas ao país. Sobre a canção — que ainda poderá ganhar um videoclipe ao vivo gravado nesses shows —, o guitarrista comenta:

“Nenhum outro país tem fãs que escrevem ‘come to my country’ (‘venha para o meu país’). Só o Brasil. E é o tempo todo. Acho que vocês estão começando a entender e não fazem isso tanto, mas foi um fenômeno engraçado para nós. ‘Come to Brazil’, são só três palavras, é tão simples, mas passa a mensagem. Não importa o que postássemos. ‘Feliz aniversário, Dexter’? Resposta: ‘Come to Brazil’. ‘Gostaríamos de anunciar que estamos chegando ao Brasil’. Resposta: ‘Come to Brazil’. Então, esta música é uma carta de amor irônica para nossos fãs brasileiros.”

Noodles também relembrou o processo de composição, marcado por dois pontos inusitados. Primeiro, a ordem dos fatores: em uma rara movimentação dentro de seus padrões, a banda começou pela letra e só depois seguiu para a parte musical. Segundo, a sonoridade: “Come to Brazil” é inclinada ao thrash metal e não ao punk rock melódico típico do grupo.

“Começamos com a letra. Aí, decidimos ter um pouco de thrash metal, pois metal acelerado é uma parte tão grande do Brasil, do Sepultura e coisas assim. Então, fizemos os versos assim. No refrão, precisávamos de algo estilo ‘hino’ para cantar junto. E aí tivemos a parte do ‘olê olê’ no final, como um canto de futebol. Construímos a música em torno da ideia da letra, sendo que normalmente fazemos o contrário — geralmente a letra vem por último.”
Offspring no Lollapalooza Brasil 2024 - Foto: Marcelo Hernandez / Getty Images
Offspring no Lollapalooza Chile 2024 - Foto: Marcelo Hernandez / Getty Images

Maior do que nunca?

Desde que estourou em 1994 — praticamente uma década após a fundação da banda sob o nome Manic Subsidal —, o Offspring nunca deixou de ser uma atração popular. Todavia, o grupo transmite a impressão de, hoje, estar maior do que nunca, com apresentações em grandes espaços e posição de destaque nos maiores festivais do planeta.

O que causa isso? Noodles não tem uma resposta estabelecida, mas entende que não seja um simples momento de nostalgia. Em sua visão, o Offspring tem conquistado novos fãs e, acima de tudo, desfrutado de um catálogo musical que ainda exala frescor.

“Tenho dúvidas se é só nostalgia por aquela época dos anos 1990 e 2000. Também não sei se também há novos fãs descobrindo. Mas acho que a música daquela época ainda é tão boa, válida e vital. Por outro lado, sei que é difícil ser objetivo nesta resposta. Fato é que, ano passado, tocamos Smash na íntegra algumas vezes e para mim, todas essas músicas soam tão novas. Acho que algumas no geral até podem soar um pouco datadas, mas muitas delas ainda soam novas.”
Offspring durante show da turnê original de Smash, em Irvine, 1994
Offspring durante show da turnê original de Smash, em Irvine, 1994 - Foto: Al Schaben / Los Angeles Times via Getty Images

Durante a entrevista, a reportagem da Rolling Stone Brasil cita a Noodles outro argumento, apresentado por Jakob Nowell em entrevista anterior. O atual frontman do Sublime diz que sempre adorou Offspring, mas alguns de seus amigos mais velhos tiravam sarro da banda por não ser “tão pesada” ou “tão punk”. Hoje, essas mesmas pessoas admitem gostar das músicas. O guitarrista concorda: tal reconhecimento dessa parcela do público, que agora já não tem mais vergonha de ir aos shows, e até da crítica especializada também pode ter contribuído.

“É totalmente possível. Quando eu era jovem, eu falava com muita paixão sobre o que eu amava e sobre o que eu odiava. Hoje, ainda amo as coisas que eu curtia, mas me importo menos com o que odeio. Até comecei a gostar de certas bandas de glam metal que eu odiava nos anos 1980 — não falarei nomes. [Risos] Conforme a pessoa envelhece, ela deixa de lado essas irritações bobas.”

O músico aproveitou a ocasião para deixar claro: o Offspring não é — nem jamais tentou ser — a banda mais punk do mundo. Ele pontua:

“Certamente não somos a banda mais punk do mundo, mas nós não somos apenas uma banda punk. Saímos do punk, das regras e das margens do punk, e tentamos outras coisas. Mas foi no punk onde encontramos nosso caminho como jovens adultos neste mundo. É onde nosso coração está.”
Dexter Holland e Noodles durante show do Offspring em 1995
Dexter Holland e Noodles durante show do Offspring em 1995 - Foto: Mick Hutson / Redferns / Getty Images

Hiato criativo superado — e reflexões sobre futuro

Anos antes de lançar Supercharged, o Offspring vivenciou seu maior hiato criativo: nove anos entre os álbuns Days Go By (2012) e Let the Bad Times Roll (2021). A situação deixou os fãs surpresos, visto que o grupo continuou a realizar shows, só não disponibilizava material inédito.

Por que isso aconteceu? Noodles reconhece que várias situações “atrasaram” o grupo, mas o momento atual se mostrou favorável para a composição de novas músicas — por isso não demorou tanto para o lançamento de Supercharged.

“Entre Days Go By e Let the Bad Times Roll, Dexter voltou para a faculdade e focou em seu PhD (em biologia molecular). Ficamos animados com isso e o apoiamos. Não são muitos os caras do rock que podem dizer que têm um PhD. Só sei de Milo (Descendents), Greg Graffin (Bad Religion) e Brian May (Queen). Além disso, quando íamos para o estúdio, as coisas não aconteciam tão rápido. Mas antes de terminarmos Let the Bad Times Roll, sentimos que estávamos mais criativos. Aí lançamos esse disco durante a pandemia, sem poder fazer turnê, então Bob (Rock, produtor) aparecia e continuávamos compondo música nova até poder sair em turnê. Começamos a turnê de Let the Bad Times Roll e, nos intervalos, voltávamos para o estúdio.”
Offspring durante show em 2024
Offspring durante show em 2024 - Foto: Jeremychanphotography / Getty Images

Inclusive, Noodles adiantou que o Offspring tem trabalhado neste momento em uma música inédita. Por ora, apenas uma, que pode vir acompanhada de um remix de uma faixa antiga.

“Sempre estamos planejando música nova. Agora estamos focados na turnê intensa deste ano, mas estávamos no estúdio com Bob na semana passada, trabalhando em uma única música. Não tenho certeza do que será dessa música, mas estamos trabalhando em algumas coisas: uma nova canção e depois um remix de uma música antiga, tentando ver o que podemos fazer.”

Só não há planos de parar. Durante a entrevista, o guitarrista chegou a lamentar que uma banda do mesmo segmento, porém mais jovem que a dele, tenha anunciado o encerramento de suas atividades.

“Veja o exemplo do Sum 41, que surgiu por volta do ano 2000. Uma das primeiras turnês deles foi conosco, eles estavam em uma van quando nós já estávamos em um ônibus. Agora, eles lançam seu melhor e mais bem-sucedido álbum (Heaven :x: Hell)… e então decidem se aposentar. Lamentei, mas fiquei empolgado por vê-los tendo tanto sucesso.”
Noodles, guitarrista do Offspring - Foto: Corey Perrine / Correspondente
Noodles, guitarrista do Offspring - Foto: Corey Perrine / Correspondente

Serviço — Offspring Supercharged Worldwide no Brasil

  • 5 de março: Offspring + Amyl & The Sniffers no BeFly Hall, Belo Horizonte
  • 6 de março: Offspring + Sublime + Rise Against na Farmasi Arena, Rio de Janeiro
  • 8 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning no Allianz Parque, São Paulo
  • 9 de março: Offspring + Sublime + Rise Against + The Damned + Amyl & the Sniffers + The Warning na Pedreira Paulo Leminski, Curitiba
  • 11 de março: Offspring + The Warning no Pepsi On Stage, Porto Alegre
  • Ingressos à venda no site Eventim

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