Olivia Rodrigo ganha vida!
Seu novo álbum duplo, “Live at Glastonbury (A BBC Recording)”, é um momento de coroação arrasador
Rob Sheffield
Olivia Rodrigo adora exibir seu lado rockstar, então faz todo o sentido que ela esteja revivendo uma das tradições clássicas do rock: o álbum ao vivo. Live at Glastonbury (A BBC Recording) captura sua apresentação no palco neste verão, como atração principal do festival mais lendário da Inglaterra, onde foi universalmente aclamada como o destaque do fim de semana. É um álbum duplo em vinil, no estilo de Alive!, do Kiss, Live Rust de Neil Young ou Frampton Comes Alive! de Peter Frampton, disponível em magenta ou azul-claro. Mas é muito mais do que apenas uma lembrança de turnê. É um momento de coroação dupla e extravagante para Olivia como a verdadeira roqueira da nossa época, uma mestra em todos os movimentos, seja tocando hits pop-punk ou baladas emocionantes ao piano.
Do início ao fim, de “obsessed” a “get him back!”, ela arrasa em um show de 90 minutos, desfilando com suas botas Doc Martens e conquistando o público notoriamente exigente. O momento em Glastonbury que viralizou aconteceu quando ela surpreendeu a todos ao trazer Robert Smith, do The Cure, para um dueto em alguns de seus clássicos. “Ele é talvez o melhor compositor que já saiu da Inglaterra”, anunciou ela. “Ele é uma lenda de Glastonbury e um herói pessoal meu!” O veterano gótico estava radiante — uma cena rara. Mas quando eles se unem em “Just Like Heaven” e “Friday I’m in Love”, é como um sonho.
Live at Glastonbury poderia servir como uma coletânea de grandes sucessos para uma artista com apenas dois álbuns — mas que já possui um repertório clássico aos 22 anos. O álbum documenta sua turnê de 2025 por festivais de rock ao redor do mundo, com sua pegada punk total. Sua turnê original, Guts, já era um show pop fantástico, como visto no especial da Netflix do inverno passado. Mas para a versão de 2025, ela abandonou toda a energia teatral e se reinventou como uma fera do rock and roll sedenta por sangue, com dentes e garras afiadas, acompanhada por sua banda feminina arrasadora. Essa energia transparece forte e claramente em Live at Glastonbury. Ela assume o papel de defensora do legado punk feminista dos anos 90 — quando ela e sua banda mandam ver no som, elas atualizam a fúria grunge selvagem de bandas como L7, The Breeders ou (as favoritas da infância de Olivia) Babes in Toyland, transformando- a em algo feroz e novo.
Essa turnê definitivamente merece um registro ao vivo, e Glastonbury captura Olivia no auge de sua glória como estrela do rock. “Estou tão animada por termos conseguido fazer este vinil como uma pequena cápsula do tempo desta apresentação”, ela escreve nas notas do encarte. “O show foi provavelmente os 90 minutos mais emocionantes da minha vida.”
Glastonbury é uma das tradições musicais mais queridas da Inglaterra, um lugar onde lendas nascem ou são destruídas. Olivia tocou lá pela primeira vez em 2022, com apenas 19 anos, confessando que nunca tinha ido a um festival, muito menos se apresentado em um. Mas ela provou suas credenciais de fã de Britpop ao trazer Lily Allen para cantar “Fuck You“, dando início à atual ” Lilyssaince “. Ela também citou cada juiz da Suprema Corte dos EUA responsável por derrubar o caso Roe v. Wade naquele fim de semana e liderou um coro de “Nós odiamos vocês! Nós odiamos vocês!”. Como uma californiana que cresceu idolatrando ícones da melancolia inglesa como The Smiths e The Cure, ela entende o espírito de Glastonbury. Antes de ser a atração principal do festival deste ano, ela foi vista na plateia curtindo o show do Pulp, sentada nos ombros do namorado e cantando a plenos pulmões “Common People“, de Jarvis Cocker.
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Ela começa com “obsessed”, uma explosão bombástica de raiva paranoica e ciúme mesquinho, passando de um sussurro a um grito — o fato de Olivia ousar abrir seu show com essa música diz muito sobre sua ambição musical. Mas a energia nunca diminui, enquanto ela lidera coros massivos em suas baladas intimistas e minimalistas “drivers license” e “happier”, em seus hinos synth-pop oitentistas “so american” e “love is embarrassing”, e em sua balada melancólica ao estilo Pavement, “favorite crime”. É uma experiência incrível ouvir um quarto de milhão de vozes cantando a poesia vulnerável de “vampire”. Mas o grande clímax vem no Lado D, quando ela encerra o show com uma sequência de quatro músicas pop-punk explosivas: “brutal”, “all-american bitch”, “good 4 u” e “get him back!”. (Se o que você busca em um álbum ao vivo é um final arrasador, este se compara ao final de “Clock Strikes Ten” do álbum Cheap Trick at Budokan). Ela nunca soou tão implacavelmente chateada.
“Uma coisa que vocês precisam saber sobre mim é que eu amo a Inglaterra pra caramba!” Olivia diz para a plateia, na introdução de “so american”. Ela explica seu amor pela cultura dos pubs (“Eu adoro como ninguém te julga por tomar uma cerveja ao meio-dia”) e pelos doces. “História verídica: eu já comi três pudins de caramelo desde que cheguei em Glastonbury.” Mas o que ela mais gosta na Inglaterra? “Por sorte, eu também adoro garotos ingleses!” Ela encanta a plateia com a história de como escreveu “so american” sobre seu namorado, o ator Louis Partridge. “Eu escrevi essa próxima música enquanto estava me apaixonando por esse garoto de Londres”, ela conta. “Eu zoava ele por comer batata assada com feijão dentro, e ele zoava eu por pronunciar as coisas com um sotaque bem americano. ‘Eu sou a atração principal de Glastonbury’, como se fosse uma fruta vermelha. Então eu peguei todas as nossas piadinhas internas e fiz uma música com elas.”
Sua banda mantém o nível de energia alto para todos os quatro artistas. As guitarristas Daisy Spencer e Arianna Powell brilham em seus solos espetaculares — em um dos momentos mais extravagantes do show, Olivia rasteja pela passarela durante “bad idea right?” para se ajoelhar diante da guitarrista e venerar sua majestade das seis cordas. É um clássico do showbiz do rock tradicional, mas ela o tornou novo e dramático.
Mas o ponto alto da emoção acontece quando Olivia canta com outro dos rapazes ingleses que ela admira, Robert Smith. (“Just Like Heaven” e “Friday I’m In Love” já foram lançadas como singles independentes.) O-Rod sempre adorou fazer parcerias com seus ídolos, desde que se juntou a Billy Joel no palco há alguns anos para cantar “deja vu” e “Uptown Girl“. Ela fez disso uma especialidade de sua turnê de verão — uma das experiências ao vivo mais alegres de 2025 foi ver David Byrne se juntar a ela no palco do Governors Ball, em Nova York, para cantar o clássico do Talking Heads, “Burning Down the House“, terminando com uma longa, hilária e emocionante competição de dança. Eles transformaram o evento em uma celebração comovente do puro amor pela música. Quando foi a atração principal do Lollapalooza em Chicago, ela convidou o Weezer para um dueto memorável em “Buddy Holly“. Não há como negar: Olivia cantando o verso “you need a guardian (em tradução livre, você precisa de um guardião)” para Rivers Cuomo é definitivamente um sinal dos tempos.
Ela é fã de longa data do The Cure — quem consegue esquecer o vídeo da Olivia adolescente no carro cantando a plenos pulmões “Boys Don’t Cry”? — então os dois astros trazem puro entusiasmo juntos. Após cantarem “Just Like Heaven”, ela o chama de “o homem mais legal, mais gentil e mais maravilhoso de todos os tempos”. Smith é conhecido por nem sempre tolerar idiotas, mas para qualquer fã incondicional do The Cure, é emocionante ouvi-lo se divertir tanto no palco, sorrindo para ela enquanto cantava “I’ll run away with you (em tradução livre, eu vou fugir com você)”. É uma homenagem ao estranho, porém belo, laço duradouro entre os roqueiros ingleses melancólicos e as garotas tristes do sul da Califórnia que os amam. Olivia até postou uma foto dos bastidores deles tomando shots juntos, o que foi bem típico dela.
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Os fãs sempre podem esperar por mais colaborações entre OliviCure — adorariam ouvi-la cantar “One Hundred Years” ou “Lullaby”, assim como seria um prazer ouvi-lo cantarolar “happier”. Mas “Just Like Heaven” se destaca como um momento intergeracional para todas as épocas. Como tudo mais em Live at Glastonbury, mostra por que Olivia está no topo — e por que ela veio para ficar.
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